Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
O trabalhador invisível e o desafio político de 2026
.A disputa eleitoral passa por reconhecer quem são esses trabalhadores, o que esperam do Estado e como projetam o próprio futuro. Eles não respondem à lógica da militância permanente e não se movem por fidelidade partidária
Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Taxa de desemprego é de 7,9%
O Brasil vive um paradoxo que desafia qualquer leitura fácil: o desemprego está no menor nível da série histórica, mas a informalidade segue acima de 40%. O país avançou na ocupação, mas não consolidou proteção mínima, e isso redefine tanto a economia quanto o comportamento político. No centro desse fenômeno está a transformação silenciosa das relações de trabalho.
Milhões migraram da carteira assinada para o MEI, para contratos PJ ou para as plataformas digitais. Não é uma alternativa marginal: tornou-se parte central da dinâmica econômica. A narrativa da autonomia e da flexibilidade se impôs como dominante, mesmo quando a renda é instável e a proteção social é inexistente. O país modernizou a forma do trabalho, mas não suas estruturas de sustentação.
Essa mutação econômica teve efeitos diretos sobre a política. Grupos desprotegidos, sem mediação institucional e expostos diariamente à insegurança de renda demonstraram, nos últimos anos, alta suscetibilidade ao discurso simplista da extrema direita.
A combinação entre ausência do Estado, sensação de autonomia individual e hiperexposição às redes sociais criou um ambiente fértil para narrativas rápidas, explicações fáceis e promessas binárias. Essa adesão, no entanto, nunca foi totalmente ideológica - foi conjuntural. Trata-se de um eleitor movido mais pela contingência do mês do que por fidelidades duradouras.
É precisamente aí que emerge o ponto cego da política brasileira: nenhuma força - à esquerda ou à direita - construiu até agora um projeto claro para esse Brasil intermitente. O debate público segue preso à ideia de "geração de emprego", enquanto boa parte da população já vive fora do universo do emprego tradicional. Discute-se produtividade, inovação e competitividade, mas raramente se debate proteção mínima para quem trabalha sob demandas de algoritmo.
O Estado permanece ancorado no modelo da CLT, enquanto milhões vivem sob a lógica volátil do CNPJ individualizado. É nesse terreno que se reconfiguram identidades, surgem novas narrativas e se reorganizam os sentidos de pertencimento.
A disputa de 2026, portanto, passa por reconhecer quem são esses trabalhadores, o que esperam do Estado e como projetam o próprio futuro. Eles não respondem à lógica da militância permanente e não se movem por fidelidade partidária. São eleitores voláteis, atravessados por incertezas econômicas e por uma promessa de autonomia que muitas vezes funciona mais como ilusão do que como horizonte real.
Por isso, a pergunta que se impõe para a próxima eleição não é apenas econômica ou ideológica, mas de capacidade de leitura e interlocução: qual força política conseguirá dialogar de forma consistente com esse público?
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