Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Ceará (2009), mestre (2012) e doutor (2016) em Sociologia pelo Programa de Pós-Graduação em Sociologia da UFC. Apresentando interesse pela Sociologia Política e Ciência Política. Pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC), atua como palestrante e analista político, colaborando com movimentos sociais, associações e imprensa
.A democracia mostrou que tem memória, e que essa memória produz responsabilização. Democracia, como ficou evidente, não é um slogan confortável; é um arranjo institucional que impõe custos a quem tenta destruí-la
Foto: Antonio Augusto/STF
STF julgou núcleo 2 da trama golpista
A condenação do núcleo golpista marca 2025 como um ponto de inflexão na história política recente do Brasil. Não se trata apenas de um desfecho jurídico, mas de um acontecimento político de alta densidade institucional, capaz de reorganizar o debate público, redefinir estratégias partidárias e impor novos limites ao jogo democrático. Pela primeira vez desde a redemocratização, um projeto explícito de ruptura constitucional foi investigado, julgado e condenado dentro das regras do Estado de Direito.
O que está em jogo não é a responsabilização de indivíduos isolados, mas o reconhecimento de que houve articulação, comando político, financiamento e tentativa concreta de subversão da ordem democrática. A narrativa de improviso ou "excessos pontuais" não se sustenta diante do volume de provas e da complexidade da engrenagem golpista revelada ao longo do processo.
O Brasil assistiu, em 2025, à desmontagem institucional de um projeto autoritário que operava sob a ilusão da impunidade. Esse movimento produz um efeito simbólico profundo. A democracia brasileira, historicamente marcada pela tolerância com aventuras autoritárias e pela anistia às elites políticas, rompeu um padrão.
A condenação do núcleo golpista sinaliza que a democracia deixou de ser apenas um valor retórico ou um recurso discursivo acionado em momentos de crise. Ela passou a operar como sistema de freios, limites e consequências. O impacto mais imediato se dá no campo da direita brasileira. O bolsonarismo, que durante anos funcionou como polo aglutinador de diferentes setores conservadores, perde seu eixo estruturante.
A figura carismática, o discurso antissistêmico e a ameaça permanente às instituições deixaram de ser ativos políticos e passaram a representar custos eleitorais e jurídicos. A direita não desaparece, mas se vê obrigada a se reorganizar: menos barulho e mais pragmatismo institucional.
Outro efeito relevante da condenação é a alteração do cálculo político futuro. Flertar com a ruptura institucional, atacar o sistema eleitoral ou desacreditar o Judiciário deixou de ser apenas retórica mobilizadora de redes sociais e passou a carregar riscos reais.
A democracia mostrou que tem memória, e que essa memória produz responsabilização. Democracia, como ficou evidente, não é um slogan confortável; é um arranjo institucional que impõe custos a quem tenta destruí-la. Olhando para 2026, a disputa política se desloca.
O que estará em jogo é a capacidade de diferentes projetos políticos dialogarem com uma sociedade que assistiu, de forma pedagógica, às consequências do golpismo. A questão central não será mais se as instituições resistem, mas quem aceita operar dentro dos limites que elas impõem.
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