
É editor de cultura e entretenimento do O POVO. Sua coluna, publicada todos os dias, trata de economia, política e costumes a partir de personagens em evidência no Ceará, no Brasil e no mundo.
É editor de cultura e entretenimento do O POVO. Sua coluna, publicada todos os dias, trata de economia, política e costumes a partir de personagens em evidência no Ceará, no Brasil e no mundo.
Mundinho Running, a moda da vez, tem andado mexido, por esses dias, desde que veio à tona, nos grupos de WhatsApp, transcrições de supostos diálogos envolvendo "famosinhos" do meio aqui na nossa Beira Mar.
Tem médicos influencers, educador físico & afins fazendo a atividade mais humana de todas: fofocando.
Yuval Noah Harari, em seu clássico "Sapiens", dedica um capítulo à comunicação humana e é taxativo em registrar o papel da fofoca na construção de vínculos, na elaboração de novas compreensões do mundo, na influência que promovemos uns sobre os outros e, ainda, na transferência de saberes.
É ela, a fofoca, o que nos diferencia de todas as demais espécies vivas do planeta, incluindo animais que se comunicam de forma intencional e codificada, como baleias e golfinhos, por exemplo.
Obviamente que não precisa ser um estilo "gossip" como as conversas compartilhadas com frenesi pela tchurma da "BM", durante toda a quarta-feira, 16, na Bolha Aldeota-Meireles.
Os trechos, organizados em um pdf, trazem acusações infundadas, gozações sem empatia, declarações politicamente incorretas e vulgaridades surpreendentes, ainda mais vindo, supostamente, de profissionais de renome. Mas apesar dos possíveis incômodos e controvérsias, é a conversinha de pé de orelha ou, melhor, no "pé do zap" que tem feito o mundo rodar...fato.
Quando vi o tal PDF, lembrei-me de uma famosa banqueteira, hoje morando fora do Ceará, que costumava atender, pessoalmente, aos clientes mais exigentes. Elegante e discreta por natureza, já aprendeu que comentar sobre a vida alheia, para quem presta serviços ao público, é um tiro no pé, mas quem disse que contratantes pensam assim?
- "Tem dias que eu só falto tirar dúvidas da minha própria vida, das minhas contas, do meu casamento, com algumas pessoas, tamanho o conhecimento delas sobre o que se passa na casa dos vizinhos e conhecidos. Perguntar se meu marido me trai, se vou conseguir pagar a fatura do cartão, se estou conseguindo educar meu filho adolescente rebelde, se meu Ozempic (na época não existia Monjauro) é verdadeiro ou falso, se meu botox prestou. Só faltam fazer é um PDF explicativo para cada família", declarou-me a figura, num momento desabafo, entre tacinhas de champs.
Há uma parte folclórica, engraçada, lúdica na fofoca inocente, assim como existe um teor pesado, deprimente e decepcionante quando vem em tom depreciativo, malvado. E é justamente pelo contato com essa segunda faceta humana, a do costume de especular, caluniar e julgar a forma de viver e ser dos outros, sem a intenção de ajudar, que acabamos por perder o interesse em novos vínculos.
Como é comum - e lamentável - ver pessoas 50+, ou até menos, manifestarem a falta de apetite por novas amizades, fruto de desilusões acumuladas ao longo dos anos. Mantêm-se sempre num nível cordial distante ou, em casos mais profundos de desencantamento, fecham-se, param de conviver ou o fazem o mínimo possível.
Quem hoje, com a patente polarização, agora em âmbitos geopolíticos - Yeah, baby -, se sente à vontade para trocar ideias com pessoas aleatórias?
Um amigo disse que, por conta de política, ia apanhando, literalmente, de um motorista de aplicativo. Outro conta que perdeu até a vontade de comemorar seu aniversário. Sempre que vai fazer a lista, com base em anos anteriores, se dá conta dos desencantamentos, da perda de admiração, da falta de tesão em ver certas pessoas. Mais alguém aí?
Hoje nem vou falar em redes sociais nesse combo "Antissocial Way Of Life", tá? Darei essa folga a mim e a vocês...
Algo é certo: sem se abrir às diferenças e às novas possibilidades, a gente pode até se proteger de decepções, mas também deixa de degustar o sabor dos encontros, alquimia sem a qual a vida acaba ficando bem insossa.
Sobre o "auê" à la Nelson Rubens dos corredores de rua e triatletas aldeotinos, só tem um esporte que nos deixa blindados das relações humanas e suas particularidades, o esgrima. E, ainda assim, alguma hora há de se tirar as máscaras, antes que elas mesmas caiam...
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