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O Jornalismo regional contra as desigualdades
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O Jornalismo regional contra as desigualdades

Tipo Opinião

É nítido que a cobertura do futebol da região Nordeste não tem o mesmo alcance do que a de times sudestinos. É histórico que esses clubes sempre esbanjaram maiores investimentos, patrocínios de marcas nacionais e transmissões de TV de seus jogos. Ao depararmos com uma polêmica em que se coloca um time da região Nordeste numa situação de subserviência, é que percebemos o quanto é relevante fortalecer o jornalismo regional para combater preconceitos.

Os jornalistas esportivos que acompanham a cobertura e são responsáveis com o conteúdo que publicam manifestam suas críticas à gestão dos clubes, ao desempenho dos times e aos demais assuntos com respeito e equilíbrio.

Há youtubers que vivem tão somente em busca de cliques e vão se mantendo com polêmicas. E, vez por outra, a região Nordeste está na berlinda.

Causou certo furor, no fim da semana passada, nas redes sociais, um vídeo de 40 segundos em que um jornalista ("mas tem vergonha de contar", como se intitula) esportivo tenta responder a uma pergunta sobre a gestão do Bahia, o clube. Não se trata das considerações acerca da administração ou do desempenho no futebol baiano, mas da forma como se refere ao time.

Neste breve tempo, o youtuber, ao responder a um espectador, não argumenta. Em via oposta, usa do seu palavreado chulo para estereotipar o time da região e comparar com um carioca, numa explícita tentativa de acirrar ainda mais as desigualdades, tão propaladas no rasteiro mundo virtual. A pseudoanálise se dá neste nível: "Eu não sei, porque eu não acompanho de perto o Bahia. Mas os resultados do Bahia são uma bosta. Eu queria entender o que é tão do caralho. Seria o Flamengo nos três primeiros anos? Talvez esteja nos números do caralho, porque no campo, não."

Conflitos

O caso gerou indignação e uma onda de citação de produtores de conteúdo da região Nordeste, como forma de valorizar os profissionais. A situação não é sobre um palpite acerca de algo que não se conheça. Também não é sobre o infeliz ar de deboche. Nem sobre os malfadados clichês. É sobre o açodamento no preconceito tão arraigado entre as regiões, estimulado por desconhecimento, pelas desigualdades históricas e pela ignorância (em toda sua polissemia). É esse preconceito que o Jornalismo precisa combater.

A propósito do futebol, de uns tempos para cá, os times cearenses ascenderam. E a imprensa cearense tem acompanhado essa evolução. Mais organizados financeiramente, contratando melhor e com transmissões via canais fechados, Ceará e Fortaleza disputam a elite do Brasileirão. Fortaleza disputou a Sul-Americana já neste ano e tem o aclamado Ceni pelo terceiro ano seguido. Ceará está na Série A por três anos seguidos. Há uma Copa do Nordeste, competição para a qual se volta a imprensa nacional.

Age corretamente a imprensa local ao priorizar os conteúdos regionais, o futebol inclusive, a partir do público que alcança e da circulação que tem. Mesmo em tempos cada vez mais digitais, há um público-alvo. O Jornalismo regional é um mediador fundamental para a comunidade da qual faz parte. Além de ajudar a abrir espaço para o diálogo, como parte de sua função social, contribui para amainar distorções históricas como as desigualdades, elemento que um país como o Brasil conhece a fundo.

Desenvolver o jornalismo regional é aprofundar-se na cobertura de temas locais, sem necessariamente limitar-se a eles. É mostrar ao público o valor de um debate com excelência em torno dos nossos conflitos, promovendo uma discussão com responsabilidade voltada para os interesses da comunidade em que estamos inseridos.

Além disso, defender o Jornalismo regional é atentar, por exemplo, para a participação de um colega cearense em um programa nacional em que se entrevista o governador do Ceará. Foi o que aconteceu há duas semanas quando Camilo Santana foi entrevistado no Roda Viva (TV Cultura) e o jornalista Érico Firmo, do O POVO, foi um dos entrevistadores. É oportuno e necessário descentralizar as discussões e promover um novo olhar para o jornalismo, tão viciado no eixo RJ/SP/DF. Há mais Brasil no circuito.

É ainda pujante o estigma de a região Nordeste ser atrelada à imagem de território atrasado, do sotaque hilário, da tão somente terra das férias. Enquanto isso, outras regiões sempre se inventam como a potência moderna, a terra do progresso. A mídia não deve reforçar esse discurso. Antes, deve combatê-lo. Alimentar essas diferenças não é prática cultural. É ato irresponsável que só fortalece a pecha discriminatória. O Jornalismo pode bem mais do que isso.

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