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O leitor paga pra ler e exige mais
Foto de Daniela Nogueira
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

O leitor paga pra ler e exige mais

Tipo Opinião

Quando O POVO passou a cobrar pelo acesso a alguns dos textos que publica, em julho de 2019, muitos leitores reclamaram. Acostumados com todo o conteúdo aberto no portal, houve uma queixa inicial. A iniciativa de restringir o conteúdo a assinantes é um modelo de negócio que já existe há quase uma década mundo afora e que tem reverberado no Brasil ao longo desses anos. No mercado cearense, porém, não era comum. De lá para cá, os que preferiram continuar lendo O POVO tiveram de se tornar assinantes.

Criou-se até uma nova categoria - a dos assinantes exclusivamente digitais, que são aqueles que não querem mais ler o jornal no papel. A reclamação inicial, há pouco mais de um ano, era ter de pagar pela informação quando ninguém mais no Estado cobrava. Ora, se eu posso ler a mesma notícia em outro portal, concorrente, por que pagar pelo O POVO? - era uma das perguntas que eu mais recebia.

Foi aí que o jornal precisou investir mais no digital, apresentar novos colunistas, lançar a plataforma O POVO , enfim, fazer valer o produto pelo qual os leitores estavam pagando. Ademais, a pandemia da covid-19 tem feito com que os veículos acelerem o processo de produção de notícias no digital.

Hoje, os leitores não reclamam mais como antes porque pagam pela assinatura, mas cobram com insistência por melhor qualidade.

É preciso lembrar que há um custo no fazer jornalístico e no bom jornalismo e esse preço é repassado, em parte, no valor dessa assinatura digital que passou a ser cobrada. Por outro lado, isso significa restringir o acesso democrático à informação.

 

Digital

A propósito, "Consumo e pagamento por notícias digitais: Oportunidades e desafios do modelo de assinaturas na América Latina" é o nome de um estudo encomendado pela empresa Luminate, que traz um panorama acerca das preferências do público consumidor de notícias digitais. Divulgada há poucos dias, a pesquisa foi executada pela empresa de pesquisa de mercado e consultoria de marketing estratégico Provokers.

Foram entrevistados, por meio de um questionário on-line, 8.570 leitores de quatro países: Brasil, Argentina, Colômbia e México. Um dos objetivos principais era pesquisar se os leitores brasileiros estavam interessados em pagar pelo acesso às notícias.

Como toda pesquisa, os resultados nos dão uma amostra. É interessante observar o que esses dados podem nos indicar, pois isso pode apontar caminhos. Dos entrevistados, 83% leem alguma notícia digital pelo menos uma vez por dia. Para acessar essas notícias, o smartphone é o dispositivo mais utilizado. O computador também é usado, mas não tanto.

A mídia tradicional tem a maior confiança desses leitores entrevistados, que dizem acreditar mais em rádio, TV, jornais ou páginas na internet de jornais físicos. Entre os leitores de notícias digitais, 16% correspondem aos pagantes. As principais razões alegadas para assinar um jornal são: a qualidade da informação, a confiança, o acesso irrestrito ao conteúdo e a tradição dessa mídia.

Os que não são assinantes consideram que podem ter acesso à informação sem pagar, que a informação é um direito ou alegam não ter condições de pagar. A pesquisa não se menciona de quais regiões do País participaram os leitores.

O chamado "muro de cobrança", o paywall, esse modelo que combina as assinaturas com a busca pela audiência, é irreversível. Ninguém derruba o paywall completamente. Nesta pandemia, alguns jornais - O POVO inclusive - têm deixado as notícias sobre o novo coronavírus abertas a todos, assinantes ou não, a fim de facilitar o acesso à informação.
Mas só elas.

Enquanto esse modelo se consolida, o público está disposto a pagar se encontrar um produto com informação de qualidade que entregue a ele muito mais do que aquela notícia que está em todo local. O leitor quer a liberdade de navegar sem a restrição do "muro", quer o acesso às análises, quer um produto diferenciado. Quer também independência editorial, pois está mais atento e, por
isso, exigente.

No mercado local, em que os concorrentes do O POVO ainda não seguiram essa tendência de cobrar diretamente pelos acessos, o leitor que permaneceu e o que veio ao jornal agora têm motivo a mais para clamar por qualidade contínua - estão pagando pelo produto. Se a sustentabilidade do negócio está em xeque, a qualidade do que publicamos está em evidência bem maior.

 

Foto do Daniela Nogueira

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