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A falta que o debate faz
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Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.

A falta que o debate faz

Tipo Análise

Se o debate entre os candidatos a um cargo político não decide voto, ele ajuda o eleitor a conhecer melhor as pessoas que estão disputando a eleição. Vê como elas se comportam diante da pressão das discussões e podem até saber de suas propostas e defesa de ideias em meio a um ambiente com respostas, réplicas e tréplicas com tempo cronometrado. O formato, para atender às exigências legais e isonômicas, se tornou mais "engessado" mesmo e isso dificulta, por vezes, uma apresentação mais fluida e espontânea dos candidatos.

É interessante observar como, após os debates, a militância de ambos os lados se vê vitoriosa como se o debate fosse uma arena bélica na qual os dois candidatos - levando-se em conta o segundo turno - estivessem ali para um duelo entre eles. É comum que haja a pergunta "quem venceu o debate?" ou a resposta "Fulano ganhou o debate". Ora, a resposta para a "disputa" virá hoje, no dia da eleição.

Ao anunciar o debate que promoveria na segunda-feira passada, 23, que seria o primeiro do segundo turno, O POVO se refere ao "embate final", reforçando a ideia da batalha. Com a imagem sisuda dos candidatos - mais de um do que do outro -, anuncia o debate entre José Sarto (PDT) e Capitão Wagner (Pros). Mas não foi por isso que o confronto não ocorreu.

Sarto não compareceu, e o que era debate se tornou uma entrevista com Wagner. Assim, a quantidade de debates promovidos por veículos de comunicação, já reduzidos por causa da pandemia e a necessidade de evitar aglomerações, também foi menor neste segundo turno. Perdeu-se mais uma oportunidade de confrontar propostas e ter os dois candidatos respondendo um ao outro.

Diálogo

Os veículos jornalísticos insistem na realização do debate entre os candidatos, mesmo que a discussão não seja um diferencial para a definição do voto. O debate é, no entanto, um identificador de discursos, de visões de mundo, de divergências saudáveis de ideias. Como votar em alguém que só conheço pela propaganda política?

Fica explícito que o debate não descortina toda a personalidade de um candidato. Há discursos ensaiados, protocolo a cumprir, regras tão rígidas e cronômetros tão alinhados que impossibilitam qualquer capacidade de raciocínio dos participantes, mais preocupados com o tempo que a eles resta. Mas é a chance que temos de ver cada candidato discutir suas propostas, interagir sob pressão e responder sob tensão. Uma amostra mínima do que terá pela frente no comando da Cidade.

O cientista político Cleyton Monte, que é articulista do O POVO, lembra que as regras mais exigentes dos debates de hoje impedem discussões históricas como as de Brizola e Maluf, Enéas e Lula, por exemplo: "Havia mais interação e mais tempo. Nas últimas três, quatro campanhas eleitorais do Brasil, o processo ficou rígido, sem tanta efervescência".

Esta campanha foi diferente em muitos aspectos. Principalmente por causa da pandemia, a propaganda nas ruas e a militância estiveram mais acanhadas, diante de uma Justiça mais vigorosa. Quando um candidato falta a um debate, parece que esse desestímulo recai sobre a importância que dá à discussão.

"A ideia de poucos debates contribuiu muito para uma campanha de baixa intensidade, que entusiasmou pouco. Vemos poucas pessoas com adesivos, pouquíssimos carros adesivados ou gente com amor abraçando as propostas. Isso ocorre em decorrência da ausência de debates, que vão além da TV e são reproduzidos nas redes sociais. A ausência de debates deu uma coloração cinza para a campanha de Fortaleza", analisa Cleyton Monte, que é pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem-UFC).

Além disso, quando um candidato está na frente das pesquisas de intenção de voto, com uma diferença significativa, como ocorre em Fortaleza, deixar de participar do debate não incidirá tanto sobre o voto.

O jornalista Gualter George, coordenador das eleições no O POVO, explica que o debate que ocorreria no jornal fora comunicado à Justiça Eleitoral e começou a ser tratado ainda no primeiro turno, em outubro. Representantes das 10 candidaturas assinaram documento pelo qual se comprometeram, em caso de passagem à próxima fase, com a participação em debate já sinalizado naquele momento para o dia 23/11. A organização das sabatinas chamou as duas campanhas para uma reunião no dia 20, à qual compareceu apenas a equipe do candidato do Pros, segundo Gualter.

"Conforme manda a legislação, o convite para o debate foi encaminhado a ambos através dos endereços de e-mail oficiais das campanhas no prazo exigido de 72 horas de antecedência, anexado ao qual estavam as regras definidas para o evento", lembra o jornalista.

O debate, com todas as adversidades, importa para o eleitor favorável e contrário ao candidato que dele participa ter a certeza de que seu voto será depositado em alguém que valoriza a comunicação. Há formatos de debate que, sim, interrompem, incomodam e reprimem a argumentação. Para uma democracia, como a que vivemos, no entanto, estar disposto a debater é estar aberto ao diálogo.

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