Quase todos os municípios brasileiros já definiram o prefeito que governará os locais pelos próximos quatro anos, à exceção de Macapá (AP), cujas eleições ocorrem neste domingo. Um dos assuntos que mais chamaram a atenção durante a apuração das urnas pelo Brasil - inclusive em Fortaleza e em Caucaia, onde houve segundo turno - foi a discrepância entre o resultado final e o que apresentavam os institutos de pesquisa que mostravam as intenções de votos dos eleitores.
É comum que meios de comunicação encomendem pesquisas, principalmente ao longo da campanha eleitoral, para mostrar ao público um retrato do momento. Quem encomenda tem a garantia da publicação em primeira mão, com dados exclusivos que vão sendo disseminados pelos demais veículos pouco tempo depois. Também é corriqueiro que o veículo de comunicação incorpore seu nome à pesquisa. É o que acontece com a "Pesquisa O POVO/Datafolha", por exemplo. Atribui-se um teor de exclusividade e privilégio pela informação dada, que será repercutida não apenas na data da publicação, mas também nos dias subsequentes.
Os dados são dissecados por jornalistas com análise de convidados, que ajudam a fazer a leitura dos elementos. É preciso lembrar que pesquisa é sempre uma amostra do cenário. Por vezes, coincide com a realidade e o ideal é que haja mesmo essa combinação, haja vista que se estudam os números e trabalha-se com as informações em perspectiva, para adiantar uma realidade que deve se concretizar.
Desta vez, no entanto, a diferença entre as pesquisas e o resultado das urnas foi muito larga. E a forma como a mídia vem divulgando esses dados ainda influencia o voto de muita gente.
Desvio
As pesquisas influenciam tanto - e consequentemente o meio pelo qual são divulgadas - e ainda são tão críveis para grande parte da população que muitos levantamentos são falseados e divulgados. Em muitas cidades do Interior isso é frequente. A forma de checagem, geralmente deficitária, contribui para a desinformação.
O POVO publicou pelo menos três matérias em que desmentia a existência de outras pesquisas, usando a marca do Grupo ou outros dados: "São falsas as pesquisas atribuídas ao O POVO com candidatos a prefeito no interior de Pernambuco" (https://is.gd/ENaQcJ), "É falsa a pesquisa para vereador em Fortaleza atribuída ao Ibope" (https://is.gd/p83yTZ) e "É falsa pesquisa atribuída ao O POVO sobre eleições em Baturité" (https://is.gd/FAw7lo).
Depois dos votos apurados, resultados definidos e prefeitos eleitos, os institutos passaram a semana se explicando. A pandemia, provocada pelo novo coronavírus, foi uma das possíveis causas, responsável por originar "fenômenos atípicos" também nas pesquisas, que seguem todo um protocolo metodológico.
É sempre importante que a metodologia da pesquisa seja citada nas matérias - como foram as entrevistas (por telefone, presencialmente, on-line etc.), quando foi o período das entrevistas, qual é a margem de erro, quem foi ouvido, qual é o perfil do entrevistado etc.
A forma como o Jornalismo comunica os dados das pesquisas se reflete no voto do eleitor, já que ainda se vive a cultura do "voto útil". Muitas vezes há eleitor que se decide por determinado candidato porque ele está à frente nas pesquisas. Não quer ter a "sensação de derrotado", ao votar em alguém que está muito abaixo nas intenções de voto. Quer que seu voto seja útil. Não se trata, é óbvio, de falsear dados ou omitir informações. Isso não é próprio do Jornalismo, mas de contar as histórias dos números.
O Jornalismo é mediador - reproduz os dados que recebe dos institutos de pesquisa. Deve, porém, ser cauteloso para agir com equilíbrio. No sábado anterior às eleições do segundo turno, quando o Datafolha apontava uma diferença de 57% a 43% entre os dois candidatos à Prefeitura em Fortaleza,
O POVO noticiava: "Datafolha consolida favoritismo de Sarto, que deve se eleger prefeito de Fortaleza" e "Sarto deverá ser eleito neste domingo, de acordo com os números da pesquisa O POVO Datafolha realizada na véspera do 2º turno da eleição 2020 para prefeito de Fortaleza". (sic)
Os percentuais em Fortaleza foram de 51,69% e 48,31%, com uma diferença de 43 mil votos entre os então candidatos.
O comportamento do eleitor neste pleito ainda estará em estudo pelos pesquisadores por um tempo. Tanto a disparidade dos números quanto o histórico índice de abstenção precisam de análise minuciosa. E os institutos de pesquisa continuarão críveis, mesmo diante de descrédito e suspeição por políticos e eleitores. É papel do Jornalismo, no meio de todo esse processo, mostrar números e comparações entre as pesquisas, analisar contextos e apresentar metodologia. Em suma, tentar explicar ao público o porquê do desvio da curva.
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