Jornalista (UFC-CE) e licenciada em Letras (Uece), é doutoranda em Linguística (PPGLin-UFC), mestra em Estudos da Tradução (UFC-CE), especialista em Tradução (Uece) e em Comunicação e Marketing em Mídias Digitais (Estácio). No O POVO, já atuou como ombudsman, editora de Opinião, de Capa e de Economia, além de ter sido repórter de várias editorias. É revisora e tradutora.
A diferença se dá porque há confusão entre os sufixos. O -al é usado, geralmente, na formação de adjetivos.
NÃO É RARO LERMOS E OUVIRMOS QUE A ESTRADA DE TERRA, aquela feita inicialmente para ser via de tráfego de carroças e outros veículos, é "carroçal". A expressão, amplamente usada no meio jornalístico, deveria ser dita e escrita como "carroçável". É assim a palavra registrada no vocabulário oficial. É claro que, se estivermos numa estrada não pavimentada, e ouvirmos que ali é "carroçal", vamos entender o que significa, porque funciona naquele contexto, principalmente para as pessoas que não tiveram acesso à norma culta. Mas precisa escrever a palavra em uma situação mais formal? Precisa dizer em um contexto da norma culta? Use carroçável.
Sufixo -al
A DIFERENÇA se dá porque há confusão entre os sufixos. O -al é usado, geralmente, na formação de adjetivos. Exemplos: estatal, fatal, semanal, imoral etc. Também quando se refere a um conjunto: bananal, laranjal, areal. Há uma ideia de coletivo.
Sufixo -vel
O SUFIXO -VEL indica adaptação ou dá ideia de possibilidade. Assim, "influenciável" é algo ou alguém que se possa influenciar. "Compreensível" é algo ou alguém que se possa compreender. Outros exemplos: adaptável, imaginável, legível, admissível, negociável. Desse modo, "carroçável" é o lugar adequado para carroças. Por isso, o uso do sufixo.
OUTROS EXEMPLOS
AQUI MAIS EXEMPLOS de palavras que frequentemente causam confusão: bicarbonato (e não "bicabornato") meteorologia (e não "metereologia") beneficente (e não "beneficiente") reivindicar (e não "reinvindicar") entretido (e não "entertido") privilégio (e não "previlégio") perturbar (e não "pertubar") mortadela (e não "mortandela") iogurte (e não "iorgute") frustração (e não "frustação") sobrancelha (e não "sombrancelha") cabeleireiro (e não "cabelelero") cérebro (e não "célebro") geminada - se tiver o sentido de duplicado, dobrado. Exemplos: casa geminada, aula geminada. germinada - se tiver passado pelo processo de germinação. Exemplo: "A semente foi germinada".
SALVA A DICA!
"Ir pro trampo não precisa ser um trampo."
ANÚNCIO ESTAMPADO nos outdoors de Fortaleza, da empresa Uber Moto, traz essa frase. Ao lado, uma imagem do serviço - um motociclista e um passageiro na moto. Pelo conhecimento geral, até se consegue entender a ideia que deve ter sido a intenção da campanha. Mas regionalmente, na capital cearense ou em qualquer outro lugar do Estado, não faz sentido algum.
Onde se usa o termo "trampo" aqui, mesmo em situações coloquiais? Expressão informal que significa serviço, atividade ou trabalho, o "trampo" é bastante usado no Sudeste. Em São Paulo, por exemplo, a Prefeitura criou um programa de cursos de empreendedorismo para jovens com o nome de "Meu Trampo". Faz sentido lá? Certamente. Lá.
Ignorar as especificidades de cada região, além de desrespeito com a população, é uma forma de excluir as variações linguísticas, deixando de lado a relação entre a língua e a sociedade.
Deve-se, antes, pesquisar o público-alvo e tentar entender principalmente o contexto social daquela comunidade. É assim que a gente comunica - se a gente quiser, claro, que a nossa informação faça sentido para quem recebe.
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