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Um cafezinho sempre faz bem
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

Um cafezinho sempre faz bem

O cafezinho é calor. Literal e simbólico. Implica proximidade, partilha, conversa, conexão. Algo que parece ameaçado com o modelo atual de comercialização nos quiosques e shoppings
Tipo Crônica
Um cafezinhos e suas alegrias (Foto: Reprodução/Moka Clube)
Foto: Reprodução/Moka Clube Um cafezinhos e suas alegrias

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Seja fruto da imaginação popular ou da imaginação poética, acho que todo mundo já ouviu a história do café ter sido descoberto na Etiópia, por um pastor de cabras que notou que seus animais ficavam mais alegres e saltitantes quando saboreavam as pequenas frutinhas.

No Brasil o hábito de beber café é tão forte que o nosso desjejum é chamado de “café da manhã”, expressão que supera em muito o afetado “pequeno almoço” português, de clara influência francesa.

Seja em casa, ou em restaurantes, lanchonetes, aeroportos e rodoviárias, o café está presente em qualquer parte do mundo, como que fazendo parte de uma cultura milenar.

Interessante é que ele sempre trouxe a ideia de companhia. De gente. De outra pessoa ao lado. De um amigo para conversar. De alguém que gostamos, nem que esteja sendo esperado e a companhia de uma xícara nos console a ansiedade da expectativa.

Café é uma bebida de paz, de amizade, de construção de laços, de carinho sem cerimônia.

Não se toma porre de café sozinho por conta de um amor que acabou.

Não existe briga numa mesa de café.

Não se dirige irresponsavelmente após um café.

Ninguém passa vexame após bebericar um expresso.

Não se cheira o seu pó nem se injeta nada para um prazer solitário.

Nenhuma degradação ocorre após um cappuccino.
Uma pequena pausa no trabalho ou no estudo. Um convite para uma conversa. Um flerte na pele de Dona Florinda. Uma gentileza dos anfitriões. Uma conversa com bolo. Um afogar de pão quentinho. Uma tapioca com manteiga.

Café serve para aproximar, unir, apaziguar os ânimos e conversar sobre qualquer coisa, até sobre a vida alheia.

De uns tempos para cá surgiram pequenos quiosques especializados.

São franquias que atraem o público mais jovem e descolado.

Pode-se até dizer que são “releituras gourmetizadas” das antigas e resistentes tiazinhas do café, ainda presentes nos terminais de ônibus.

São modernos, higienizados, capricham nos tipos que servem e inovam em shakes, gelados ou em acompanhamentos especiais.

Sem dúvida alguma oferecem o mesmo produto que nos apaixona há séculos.

Mas modo de servir indicam outra vertente, revelado até nos nomes.

Todos remetem à pressa.

À uma modernidade líquida.

Ao consumo imediato.

Rápido.

Desconectado com o outro.

Tome e vá embora.

Siga sozinho.

Pague e vá viver sua vida. Não me interessa sua história.

O gosto pode até ser bom, mas poderia ser melhor.

Poderia vir acompanhado da simplicidade de uma amizade sincera.

Do calor de um amor terno e companheiro.

Do cheiro de gente verdadeira.

Como um cafezinho de antigamente.

Foto do Danilo Fontenelle

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