Logo O POVO+
Corrupção e o mistério dos prazeres efêmeros
Foto de Danilo Fontenelle
clique para exibir bio do colunista

Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

Corrupção e o mistério dos prazeres efêmeros

Desde os tempos mais idos, a gênese da motivação da corrupção é um mistério
Tipo Crônica
Foto: Ricardo André Frantz / Wikipédia "Julgamento de Paris", no Museu Capitolinos, Roma

.

Em mais de 35 anos de formado e de 29 como juiz federal, já me deparei com muitos casos de corrupção.

E não apenas a corrupção administrativa, mas também legislativa, judicial e privada.

Qualquer que seja a modalidade, as consequências extrapolam os limites do corruptor e corrupto, atingindo efeitos imponderáveis.

Até hoje não consegui entender suas causas, mas tenho algumas impressões a respeito.

Nesse aspecto, sempre recordo do episódio da mitologia grega do julgamento de Páris.

Segundo a narrativa, Éris, deusa da discórdia, teria ficado irritada ao não ser convidada à uma festa no Olimpo. Assim, enviou ao evento uma maçã de ouro, com a inscrição "pertencente à mais bela" (seria daí a origem da expressão “o pomo da discórdia”).

Zeus, não querendo confusão com nenhuma deusa, atribuiu a decisão a Páris, príncipe de Troia. Apresentaram-se Hera, Atena e Afrodite. A primeira ofereceu-se para fazê-lo rei da Europa e da Ásia; Atena ofereceu a sabedoria e habilidade na guerra, e Afrodite, ofereceu, como suborno, “o amor da mulher mais bela”.

Adivinhem a quem Páris escolheu dar a maçã?

Sim, mesmo achando que Hera seria a mais bonita, preferiu ceder à proposta de Afrodite e, assim, teve o amor de Helena de Esparta, esposa do rei grego Menelau. As consequências disso todos conhecem na narrativa da Guerra de Tróia.

O que quero dizer com isso é que o corruptor e o corrupto geralmente pensam apenas em seus próprios prazeres, em uma satisfação egoísta de uma sensualidade passageira, na expressão de uma compreensão limitada do mundo. Desejam o gozo de roupas caras, o encanto de um carro do ano, a excitação de uma viagem luxuosa, o deleite de comidas exóticas e o degustar de vinhos exclusivos. Procuram, assim, a ostentação da aparência de um sucesso que jamais alcançariam sem os artifícios que elegeram.

Alie-se a isso, o total desprezo com o destino das pessoas afetadas com suas ações ou omissões.

Pouco importa ao corruptor e corrupto se crianças que deveriam comer arroz, feijão, salada e uma proteína recebem macarrão com molho, ou se deveriam merendar achocolatado e sanduiche misto, e recebem apenas suco de pacote e duas bolachas.

Para eles, pouco importa o número de acidentes que ocorrerão nas estradas malfeitas ou se faltarão gaze, linha de sutura ou analgésicos nos postos de saúde.

Simplesmente não lhes interessa o que será feito de inúmeros fornecedores nem muito menos a vida de milhares que perderão seus empregos, se algum dia descobrirem que o balanço da empresa era falso.

E, além disso, colocam em risco suas honras e histórias, a admiração das famílias, o amor dos filhos, o apreço dos amigos e a própria liberdade.

Tanto corrupto como corruptor agem em nome de prazeres egoístas e temporários em uma vida que sabemos tão efêmera.

Atitudes como essas ainda permanecem um mistério para mim.

Foto do Danilo Fontenelle

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?