Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Um conhecido meu, já pelos seus setenta anos bem vividos, encontrou uma atividade para lá de criativa para combater os pensamentos negativos que, de quando em vez, tentavam seduzi-lo, após a aposentadoria.
Ele explicou que, com o passar dos anos e pela frequência em que se via sentado diante dos noticiários, acabava constantemente sugado ao que chamava de “meu pântano encarnado”.
Esse local, pegajoso e fétido, de luz constantemente vermelha e quente, era repleto de notícias de guerras, crimes, proliferação de drogas, violências gratuitas e ataques covardes a vítimas inocentes, onde a corrupção gracejava e a hipocrisia fazia festa, fora a nocividade da ausência de empatia e as imposturas morais tão comuns em cidades de muro baixo, como a nossa.
Isso tudo o consumia e impregnava, mudando seu humor e contaminando suas palavras. Vivia amargo, desesperançado e revoltado com a humanidade, descontando tal negatividade nas pessoas em geral e, em particular, na própria família.
A sua psicóloga o ajudou a melhor direcionar sua sensibilidade e a ajustar o motim de sua alma em uma solução realmente inusitada.
Como ele identificava a melhor época da vida como sendo a adolescência, acabou montando uma lanchonete temática, onde você volta a uma festa de aniversário dos anos 70 e começo dos anos 80. Lá você pode encontrar quase tudo que já sumiu de cena mas que sua memória visual e gustativa sempre recordam.
Assim, se você pedir o menu degustação, em poucos minutos se deparará com canudinhos recheados de frango desfiado, empadinhas que se esfarelam ao menor toque, mini coxinhas, pastéis de vento, espetinhos com queijo e salsicha intercalados com pedaços de pimentão e uma indefectível cereja ao final, além de mistos quentes preparados naquelas sanduicheiras de fogão e um inesquecível “passaporte de galinha do Gaúcho” que fez fama em um trailer onde hoje é um restaurante que serve arroz com camarão a preços internacionais.
Os docinhos serão os tradicionais brigadeiro e casadinho, mas o toque saudosista ficará com as cascatas de beijinhos de coco em papel crepom com franjas e algodão doce.
Como bebida, nada como relembrar de sabores de laranja com Crush, Mirinda, Pop laranja e Sukita, o de uva com Grapette e poder escolher o guaraná entre o campeão Guaraná Champagne (que era o hoje conhecido como Guaraná Antártica, também dado, sabe-se lá a razão, quando a criança adoecia), Guaraná Wilson e Guaraná da Brahma, em sua inconfundível garrafa marrom com anéis. Caso prefira limão, pode saborear soda limonada, fanta limão, 7 Up e limão Brahma. Como ousadia rebelde que durou pouco, mas marcou a cidade, Bidu Cola, concorrente local da mais conhecida do planeta.
O cardápio de comidas é limitado, mas representativo: você pode escolher entre consumê, maionese de batata, salpicão ou creme de galinha com batata palha por cima e arroz à grega. Pizza só tem opção de moçarela e frango. Comida regional só paçoca com banana. Como sobremesa, a fumegante cartola com queijo derretido em cima da banana, salpicada de canela ou pode pedir um picolé de água colorida açucarada ou pedaço de doce holandês e quebra-queixo cortados direito no tabuleiro.
Ao final, você recebe um saquinho de lembrança repleto de chiclete Ploc, Big Bol, embalagem de mini chicletes incrivelmente diminutos, além de caramelos de leite, pirulito zorro, chocolate Kri, provavelmente o último lote de cigarrinhos de chocolate ao leite pan e, para quem não é dos fracos e gosta da vida louca, as famigeradas e perigosas balas soft.
Ao fundo, uma brinquetoteca apenas para visitação exibe o desafiante Genius, o iniciante à capitalista banco imobiliário e as pioneiras versões expansionistas de War, além de pistolas d’água, Pula Pirata, pega varetas, bonecos Falcon, autorama, bonecas Susi e Amiguinha, bambolês, piões (ao invés de beyblades), bilas, incluindo as de aço (bolas de gude para os mais viajados), instalações de elástico, pular corda, amarelinha com a esperança do paraíso e o ameaçador inferno, bandeira, carimba e espirobol, bem como uma fascinante coleção de carrinhos de metal e praticamente uma biblioteca inteira de revistinhas em quadrinho, álbuns e papéis de carta, incluindo os raros e disputados com perfume.
Ele comenta que foi muito criticado ao iniciar o negócio e as pessoas apostavam em seu fracasso. Passados cinco anos, já pensa em abrir franquias.
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