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O transitório da vida e a armadilha da vaidade
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

O transitório da vida e a armadilha da vaidade

Quando as condecorações, homenagens e honrarias menos reconhecem o mérito e mais alimentam egos
Tipo Opinião
Mitologia indiana (Foto: Sonika Agarwal / Unsplash)
Foto: Sonika Agarwal / Unsplash Mitologia indiana

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Honrarias e reconhecimentos fazem parte da nossa cultura e podem ser encontrados desde a Pré-História, quando os melhores caçadores usavam dentes, chifres, peles e penas de animais como significados de eficiência e bravura. Nos jogos olímpicos da antiguidade o vencedor ganhava uma coroa com folhas de oliva, retiradas de uma árvore sagrada próxima ao templo de Zeus.

As condecorações e medalhas militares são símbolos de reconhecimento pelo brio durante batalhas e em comemoração às vitórias expressivas. Desde o século XVIII medalhas de ouro também têm sido agraciadas em reconhecimento a feitos extraordinários e representam prestígio nas artes e ciências como a medalha do Prêmio Nobel.

Existem também medalhas comemorativas em homenagem a eventos importantes ou figuras influentes, sendo ofertadas como presentes diplomáticos.

O fato é que, quando se reconhece algum feito realmente importante, as medalhas, troféus, placas ou atribuição de nome do benfeitor a uma sala, prédio ou instituição materializam o agradecimento pela contribuição sincera e desinteressada, o que é de todo louvável.

A pessoa homenageada certamente fica honrada com o reconhecimento e nada mais natural que até fique um pouco vaidosa.

"É dito há mais de dois mil anos que devemos orar e vigiar. Mas não é vigiar os outros e sim a nós mesmos. A nós e às nossas vaidades, na transitoriedade da vida e de tudo"

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O difícil é quando ocorre o contrário, ou seja, quando uma pessoa procura obter um reconhecimento artificial e não espontâneo, chegando a pedir a horaria ou até mesmo oferecendo-se para comprá-la.

Nessa hipótese, não há que se falar de honra, mas sim nas armadilhas da vaidade, esse vício que a todos nos ocorre e que, quando sem limites, acarreta a perda do senso de ridículo e alcança os píncaros da ostentação e exibição presunçosa.

Convivo com profissionais do direito há décadas e a maioria tem a perfeita noção de que somos bem menores do que nossas faculdades egóicas dizem, mas, de vez em quando, ouço falar de exibições de qualidades técnicas e acadêmicas não condizentes com a realidade, numa espécie de centralização individual e marketing.

Geralmente a frivolidade e orgulho injustificado levam as pessoas a esquecerem o caráter transitório de tudo e, em certo aspecto, até mesmo da não importância das nossas realizações. A rigor, a raça humana é a única espécie da qual o planeta não sentiria nenhuma falta. Sem nós, a natureza certamente se desenvolveria com muito mais ímpeto e, em pouco tempo, as cidades estariam tomadas por uma vegetação exuberante, num planeta menos poluído e com os animais sem nenhum risco de extinção.

Quem sabe o cuidado exagerado com a aparência, a preocupação com o que as pessoas pensam de nós, o objetivo de atrair a admiração ou elogios de terceiros e a necessidade de vangloriar-se, de ostentar e de se exibir diminuíssem caso essa simples constatação fosse revigorada.

É dito há mais de dois mil anos que devemos orar e vigiar. Mas não é vigiar os outros e sim a nós mesmos. A nós e às nossas vaidades, na transitoriedade da vida e de tudo.

Foto do Danilo Fontenelle

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