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Paradoxalmente e de vez em quando, o avanço científico e a modernidade acabam nos levando ao que já existia antigamente.

O mais novo retorno ao passado diz respeito aos treinos de musculação, agora recomendados para a terceira idade.

Assim, quando jovens “puxávamos ferro” nas máquinas Apolo, com camisetas sem mangas e os sovacos à mostra. O objetivo era a hipertrofia e exibir peitorais e bíceps na feirinha da Praça Portugal (sim, nos anos 80 existia uma concorrida feirinha ali). Agora somos aconselhados a voltar a práticas semelhantes, mas sem os narcisismos de outrora, com os sovacos cobertos e usando suporte.

Pode parecer impensável para quem tem menos de 50, mas, com o passar do tempo, o enfraquecimento dos músculos dificulta a realização de atividades cotidianas, como caminhar, subir escadas e carregar compras, além de prejudicar o equilíbrio, aumentado o risco de quedas. Isso sem falar nos vexames de não se conseguir correr atrás dos netos, carregá-los no colo sem uma fisgada na coluna ou um ranger de joelhos ao chutar uma bola de meia.

Dizem que a musculação também ajuda no controle de diversas doenças, como osteoporose, doenças cardíacas, diabetes e artrite, além de aumentar a sensação de bem-estar e reduzir a ansiedade e a depressão, bem como ser capaz de fazer você dormir melhor.

Hoje em dia as academias contam com uma profusão de aparelhos, em um ambiente amplo, às vezes freneticamente iluminado, com ar-condicionado tinindo e uma espécie de “baticum motivador”, mas a ideia básica continua a mesma: o envelhecimento saudável, com músculos mais fortes e ágeis, contribuindo para que você se mantenha ativo e independente.

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Foi com essas promessas todas que contratei uma jovem personal, especializada em musculação para a terceira idade.

Logo na avaliação inicial fui confrontado com o retrato eletrônico elaborado na comparação entre minha idade de batismo e minha idade corporal real, segundo índices certamente idealizados por Dorian Gray.

Um tratamento de choque foi recomendado, com treinos três vezes por semana, alimentação rica em proteínas e redução calórica à praticamente a de um sibite.

Comecei à noite e, quanto à promessa de dormirmos melhor, posso garantir que depois da primeira sessão de treino me senti bem perto do repouso eterno.

Ao acordar, tive certeza de que tinha sido abduzido por personais alienígenas. Literalmente cada movimento me fazia lembrar de músculos que jamais sequer pensei possuir. Até o movimento de escovar os dentes me foi um suplício e nem vou comentar o que passei para agachar no vaso.

Passados quase cinco meses, aparentemente estou mais saudável e já consigo completar as séries com razoável sinceridade.

Pena que não existe mais a feirinha da Praça Portugal.