
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
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Discordo veementemente quando se fala de “valorização da cultura popular”.
É que toda manifestação cultural deve ser valorizada e não considero verdadeira a diferença que alguns fazem entre o popular e o erudito, ou algo parecido.
Acho até engraçado quando algumas pessoas assumem ares de seriedade e empáfia, empostam a voz e até se empertigam um pouco quando se referem ao patrimônio cultural.
Tem até alguns que fazem tipo e dizem “patrimônio culturá”, olhando de cima para baixo e pronunciando a última sílaba como se expelissem um suspiro condescendente para com os iletrados, imaginando-se em bebericas de chá em louça inglesa em um sarau para poucos.
O óbvio é que se nossos costumes, língua, história, gastronomia, moda, música, dança, literatura e manifestações artísticas em geral fossem algo difícil, distante e exclusivo de alguns, não fariam propriamente parte da cultura, limitando-se a práticas esnobes e caricatas.
Cultura é o que faz parte de nós e passou pelo crivo do tempo, resistindo e perpetuando-se, ao tempo em que assimila novas formas de manifestação. É uma maneira direta de vincular nosso jeito de ser, homenagear nossos heróis e valorizar nossa história.
Foi isso tudo que vi recentemente no espetáculo Chuva de Balas, em frente à igreja de São Vicente, em Mossoró, ao meio de uma multidão que assistiu tudo em silêncio e, ao final, explodiu em aplausos.
A encenação, aberta ao público, é um dos eventos mais marcantes na história da cidade e resgata a expulsão do bando de Lampião, em 13 de junho de 1927.
Enaltecendo a coragem do povo mossoroense e a liderança do herói local e então prefeito Rodolfo Fernandes, que montou trincheiras e liderou a resistência, o texto é rápido e instigante, conduzido por duas emboladeiras que, se não fossem os batuques dos pandeiros e o bom humor, lembrariam muito as tragédias gregas.
Todos os 150 atores, atrizes, bailarinos e bailarinas, músicos, responsáveis pelo figurino, cenário e efeitos visuais e sonoros são locais e as performances são dignas de qualquer palco no mundo.
A riqueza dos detalhes, a precisão nas trocas de cena, o requinte dos figurinos, o esmero da pesquisa, o capricho das músicas e danças, demonstram claramente que todos ali estavam vivendo a própria história, reconhecendo-se em profunda conexão com a cidade e seu povo, no reengajamento dos valores e enraizamento de uma pertença conjunta.
Bem que podia chover mais por aqui, de vez em quando.
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