
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis
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Há algumas semanas fui a uma boda de coral, 35 anos de casamento de um casal amigo.
A festa foi numa de nossas praias, onde escolheram como morada de descanso e refúgio. Fica vizinha a uma das mais badaladas da atualidade, e contrasta pela tranquilidade reinante e brisa do mar que embala um mar calmo de águas rasas.
A comunidade é de pescadores artesanais, numa persistência admirável ante o aparente esquecimento do Poder Público.
Lá tem uma igrejinha que só abre aos domingos, uma pracinha sem bancos, ruas de areia e duas pioneiras pousadas de surpreendente padrão internacional. Pelo que notei, existe um esforço não combinado de manter a simplicidade do local, ao tempo em que preservam o meio ambiente e incrementam um turismo bucólico e sustentável.
Nesse aspecto, tudo parece girar em torno da beira do mangue, seja pela coleta de mariscos e caranguejos, seja por oferecerem passeios em pequenos barcos, mediante contato com guias locais.
Fui em um desses passeios que conheci Neném.
O sol já lhe castigou muito a pele e as rugas fundas riscam sua aparência cansada, mas presumo que deva ter em torno de 40 anos.
Casado e com filhos, sempre viveu tirou o seu sustento dali mesmo, colhendo ostras, caranguejos e mexilhões, vendidos para restaurantes e pousadas nas praias vizinhas.
Diz conhecer todos os segredos do mangue, os caminhos das marés e a dança dos peixes. Suas mãos calejadas são acompanhadas de um sorriso acolhedor e olhar de quem quer agradar.
Aos finais de semana usa seu pequeno barco para atuar, ao mesmo tempo, como piloto, guia e atração.
É que ele mesmo resolveu assumir um personagem meio híbrido de condutor, narrador, comediante e modelo, o que começa por um chapéu de palha repleto de adornos e unhas pintadas de várias cores.
O texto já decorado é bem informativo, com apresentação dos tipos de vegetação, animais que ali habitam e descrição de como é feita a coleta manual, com direito a exageros bem-humorados e, por assim dizer, liberdades poéticas a respeito de suas próprias realizações como pescador e como pioneiro na abertura de caminhos para passeios dentro do mangue.
Mostra-se mais que atualizado em economia e política e, de uma hora para outra, se oferece para fotos na proa do barco, incentivando os turistas a registrarem suas poses sensuais, caricaturas de antigas revistas masculinas. Também conta piadas de previsível duplo sentido e ri de si mesmo, jogando água para cima que respinga nos passageiros, pedindo piedade a Deus.
Ao final, desculpa-se pelas brincadeiras e dá cartão de visitas, pedindo para divulgarem seu trabalho.
Na beira do mangue, de uma praia distante, um outro mundo se revela.
Ali, onde a água é salobra, vive uma população doce que desafia a própria vida.
Homens, mulheres e crianças se desdobram no emaranhado do destino, adaptam-se aos caprichos da maré da vida e sobrevivem sorrindo como os que ainda abrigam sonhos.
Na beira do mangue de Moitas, as tradições e o meio ambiente são preservados por uma gente fiel às suas origens e à esperança de dias melhores. E ali, entre a lama e a água, encontramos lições de humildade, perseverança e amor pela natureza que nos envolve.
No silêncio do sol poente, resgatamos a compreensão de que a vida é feita de obstáculos, mas também de superações e aprendizados constantes.
Ali, na beira do mangue, podemos enxergar a beleza nas entrelinhas e nas pequenas conquistas diárias, na certeza de que podemos sair de um início lamacento para brilharmos no território da inventividade e encantamento.
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