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Por que as coisas acontecem conosco?
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

Por que as coisas acontecem conosco?

Eis o mistério que desafia a natureza humana em sua eterna busca por explicações sobre a existência, parte das vezes nada racionais
Tipo Crônica
As dúvidas que permeiam a nossa existência (Foto: Uli Batista)
Foto: Uli Batista As dúvidas que permeiam a nossa existência

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É interessante como sempre estamos querendo saber a razão do que acontece conosco, como se não bastasse viver.

Invariavelmente vamos atrás das causas do que acontece de bom e de mau, de acordo com nossa curta e limitada avaliação.

Alguns atribuem aos astros, seja em suas conjugações mais favoráveis ou em ambientes retrógados. Ficando à mercê das influências dos movimentos planetários, não temos alternativa a não ser acatar a influência corrente e esperar uma revolução vindoura.

Existem, para alguns, as influências numéricas, e a responsabilidade agora recai no dia e hora de nascimento, acrescido do nome que nos foi dado ou à numeração atribuída por uma incauta prefeitura, a nos conduzir os destinos paradoxalmente não bem calculados e alteráveis com a supressão ou acréscimo de uma letra ou número. E eu, ingênuo, pensando que eu mesmo poderia influenciar minha própria vida. Que tolo sem numeração, digo, noção.

Outros carimbam a vida como eterno reviver de carmas, como se não estivéssemos também criando outros a cada dia, em uma roda-viva infindável de compromissos eternos.

Há quem frequentemente rotule os acontecimentos como "sorte" ou "azar", sendo que, em um universo com incontáveis variáveis, a aleatoriedade é inerente, e certos eventos podem beneficiar alguns enquanto prejudicam outros.

A famosa citação atribuída a Seneca diz: "Sorte é o que acontece quando a preparação encontra a oportunidade" e algumas pessoas podem estar mais preparadas ou atentas a oportunidades, o que pode ser percebido como sorte.

Os mais céticos indicam que tudo não passa de uma sequência de causa e efeito, e a vida é resumida a uma sequência lógica de acontecimentos. Encontram, assim, explicações probabilísticas até mesmo nos encontros amorosos, acidentes, escolhas, preferências e antipatias. Mas o fazem sempre a posteriori. Os lógicos sempre apresentam explicações sobre o que aconteceu, mas não conseguem sequer prever o que vamos vestir amanhã, a não ser estimarem de ser algo que temos no guarda-roupa.

Há quem diga que tudo é fruto do merecimento, baseando-se na ideia de que alguém é digno de algo devido às suas ações, caráter, esforços ou qualidades inerentes. Assim, alguém que trabalha duro e trata os outros com respeito pode ser considerado merecedor de reconhecimento, bem como algumas religiões ensinam que as boas ações ou a fé genuína tornam alguém merecedor de recompensas nos pós vida.

A questão continua em aberto porque muitas vezes a análise empírica destoa de tal conclusão, confirmando justamente o contrário dessa tese. Quem nunca teve um chefe que só o universo consegue explicar como ele foi parar ali? Quem já presenciou pessoas alçarem cargos superiores quando, na verdade, só pode ter sido coisa de um carma coletivo, uma conta errada, uma tempestade cósmica ou uma conspiração malévola da aleatoriedade para aquilo ter acontecido e nunca merecimento?

Um grande amigo prefere outra explicação.

Segundo ele, não somos regidos nem pelos números, nem pelos astros, nem por meras coincidências e nem muito menos merecemos coisa alguma. A vida não está resumida em uma relação de troca, pelo que, segundo ele, tudo é, de fato, fruto da graça divina.

Toda a bondade, o amor, a salvação ou qualquer bênção que recebemos vem de Deus e é um presente imerecido. Não temos o emprego, a família, os amigos e os recursos porque merecemos, mas simplesmente porque Ele nos concedeu, mesmo sem fazermos jus a tanto. E, nos momentos difíceis, da mesma maneira, a graça Dele nos serve como aprendizado e fonte contínua de apoio e amor.

Mas não é porque não merecemos que devemos ficar parados, mas sim nos preparar para recebermos a graça divina.

Essa perspectiva reforça a humildade e serve de lembrete para não sermos orgulhosos ou arrogantes, reconhecendo que não somos a fonte primária de nossas bênçãos.

Foto do Danilo Fontenelle

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