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A invasão amorosa dos turcos
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Danilo Fontenelle Sampaio é formado em Direito pela UFC, mestre em Direito pela mesma Universidade e doutor em Direito pela PUC/SP. É professor universitário, juiz federal da 11ª vara e escritor de livros jurídicos e infanto-juvenis

A invasão amorosa dos turcos

De uma hora para outra, sem propagandas ou estratégias de marketing, uma legião de fãs devotas passou a acompanhar avidamente episódios da cultura turca
Tipo Crônica
Pássaro Madrugador (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Pássaro Madrugador

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Quem era adolescente nas décadas de 1970 e 1980 lembra como as novelas de televisão impactavam o cotidiano e ensejavam discussões claramente inócuas, como quem teria matado Salomão Ayala, na “O Astro”, ao tempo que divertiam com os inesquecíveis prefeito Odorico Paraguaçu, Seu Dirceu Borboleta e o Zeca Diabo, na reunião de humor, crítica social e política no “O Bem Amado”.

Nessa época não existiam transmissões via satélite, de maneira que os capítulos chegavam aqui em fitas, ocasionando um lapso temporal em relação a quem assistia no Rio e em São Paulo. De vez em quando alguém que tinha viajado para lá voltava onisciente do final das novelas e fazia questão de ostentar o novo status social, desdenhando do nosso atraso.

Provavelmente por não haver internet nem redes sociais ou canais de assinatura, bem como pelas produções teatrais, espetáculos musicais e outros tipos de entretenimento serem raras por aqui, as pessoas se fixavam nos canais de tv aberta, ficando os vídeos em fitas VHS, quando surgiram, reservados aos finais de semana.

O interessante é que a popularidade das novelas chegava a impactar significativamente nos costumes, linguagem, música, moda e até mesmo nos valores sociais, reforçando o modo sulista de se ver a vida. Em termos de projeção nacional, era só aparecer em uma novela que o artista estaria consagrado e se você tivesse uma música selecionada como trilha musical podia ter certeza de que o sucesso estava garantido.

Nessa época só eram exibidas novelas nacionais e só viemos a ter contato com as mexicanas “A Usurpadora”, “Maria do Bairro” e “Marimar”, em seus dramas intensos e tramas complexas, já nos anos 1990. A novela argentina “Chiquititas”, a colombiana “Betty, a feia” e a versão mexicana de “Carrossel” também foram exibidas nesse período.

Com o advento de outras formas de acesso à informação e entretenimento, a televisão aberta foi perdendo público e as novelas atuais nem de longe possuem o mesmo impacto de antigamente.

Mas aí, como que em um roteiro digno de ficção, eis que surgem as novelas turcas, exibidas tanto em canais de assinatura como disponíveis em plataformas de streaming, com legendas.

Apesar de consagradas mundialmente, pode-se dizer que o fenômeno de popularidade das novelas turcas no Brasil é tão inusitado e surpreendente quanto as próprias coisas do coração. De uma hora para outra, sem propagandas ou estratégias de marketing, uma legião de fãs devotas passou a acompanhar avidamente episódios da cultura turca e participarem ativamente de discussões online em fóruns relacionados a enredos marcadamente românticos.

A receita do êxito talvez seja pelas novelas explorarem assuntos populares, como conflitos familiares e dramas sociais, envolvendo amores proibidos e toques de humor, em narrativas fáceis de acompanhar.

São temas facilmente compreensíveis e apreciados, tornando as histórias acessíveis e atraentes para uma ampla audiência. Daí não se surpreenda se estiver andando na beira-mar e ouvir pessoas falando de “Hercai”, “Pássaro Madrugador” ou questionando se “Será isso amor”, e não duvido nada se em breve alguém vai transformar a trilha sonora turca em ritmo de forró.

É fácil perceber que, como dito, as histórias turcas, em sua grande maioria, são simples, previsíveis e contam até mesmo com a utilização comum de cenários, casais de atores e repetições de cenas, com diálogos mais que aproximados, mas os aficionados garantem que os enredos são envolventes, os personagens memoráveis e os atores carismáticos e atraentes, além das atrizes serem lindas e cativantes e tudo oferecer uma cultura que aparentemente é exótica e intrigante, mas se mostra educativa e enriquecedora.

É interessante perceber que as novelas turcas frequentemente abordam temas universais como amor, família e virtudes, valorizando a honestidade, o estudo e o trabalho, além da amizade, lealdade e compromissos assumidos, não havendo crimes ou cenas violentas e até mesmo os beijos são raros, apesar de ansiosamente esperados.

O marcante é que, mesmo com temas aparentemente simplórios, essas novelas são um sucesso inconteste e ganharam diversos prêmios internacionais, desbancando as brasileiras.

Quem sabe essas preferências representem o que se passa no coração da maioria das pessoas e a gente esteja precisando ver essa invasão amorosa acontecer na realidade.

Foto do Danilo Fontenelle

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