Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
Parece que a máscara será, por longo tempo, mais uma peça a viver em nosso corpo público. Talvez, igual ao soutien, a cueca e a calcinha. Sim, podemos ir à rua sem um desses três, mas há uma sensação de que nos falta algo. Ou não.
Bem, fui criado com na mentalidade besta de que mesmo num calção e numa calça comprida, por baixo, deveria constar uma cueca. Quando menino, achava que era somente para proteger a pinta miúda dos dentes do fecho éclair. Como doía!
Era algo relacionado, também, com higiene pessoal e coisa de pudores clandestinos. Poderia ser vexame para um menino descobrir o prazer no meio da rua, num short foló e no osso. E o risco dos outros baixarem seu calção quando menos esperávamos! Jesus.
E quanto aos pedófilos e a fantasia deles pelo traje tão inocente para meninos e meninas, não me lembro de alguém falando claramente sobre o risco de invadirem meu corpo sem permissão.
No machismo, meninas tinham de sentar com as perninhas fechadas desde pequenas. Para não mostrar algo medonhamente enclausurado, para não dar brechas e superproteger o que nem sabiam nominar nem ler.
Talvez, mais simples, fosse pai e mãe terem iniciado, sem a presença do bicho de sete cabeças, conversas sobre afetos. E as possibilidades de o corpo pedir para ser Pina Bausch e sentir gozo do fio de cabelo da cuca ao dedinho menor do pé.
Não. Alguns bosques foram sendo interditados e a cueca, a calcinha e o soutien eram o muro alto que proibia pulá-los. Toda raia caia lá, toda goiaba madura apodrecia ali porque não podíamos.
Agora, temos mais um troço no corpo para nos proibir a boca, o beijo, o sorriso, a língua, o gesto. Digo assim, mas não se vê outra saída, por enquanto, para não morrer de Covid-19 ou matar alguém contaminado.
Mas é estranho ter de ir aos lugares, da praia ao açougue, vestido o rosto nessa peça que já considero intima para além da higiene sanitária coletiva.
Sim, poderá deixar marcas de bronze igual a um biquíni, a uma sunga. Poderá virar fetiche pedir à moça ou ao moço bonito para retirar a máscara, mostrar o que há por baixo. Sorriso e duas covinhas, nariz atraente, lábios que nem esperava. Só não seis como ficaram os batons vermelho ou preto?
Já vi virou viral, varais e varais a quararem máscaras lavadas no Giovanna Baby. Penduradas. Alguém querendo mostrá-las e alguém que as olha pela janela do Instagram o quintal da casa alheia sempre aberta. Coloridas, decotadas, pretas, extravagantes, pudicas, frias...
No chão, perto dos pés da cama, estarão também máscaras além de cueca, meias, "califon", vestido, combinação e lingerie. Acho que ninguém chegará ao ponto de cheirar a máscara do outro. Não, não. Mas elas serão parte do corpo nu nessa nova idiotice terráquea chamada de "nuevo normal".
E como somos bons nisso, logo logo nos acostumaremos ou continuaremos a desafiar o proibido.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.