Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
É da lida do jornalismo receber críticas. Não há problema e é parte da atividade pública. O inaceitável é a violência contra a informação, a oposição de má-fé contra quem a produz e o direito do outro de ser informado.
Falo do caso do Colégio Militar de Fortaleza e da crônica do domingo passado: "Um colégio que nega a pandemia?". Difícil entender o motivo para sanha, via redes sociais, que se misturou à calúnia, à injúria e à difamação.
O fato objetivo, baseado em um documento assinado por um coronel do CMF, em e-mails e em lives disparadas por oficiais da escola pública federal, indica que a Covid-19 é tema indigesto na instituição e proibido de abordagem em provas. Há ordens escritas, outro exemplo, para não se usar as hastags #fiqueemcasa e #isolamentosocial nos canais de comunicação da escola.
Uma ordem que, segundo um coronel me revelou, partiu da Diretoria de Educação Preparatória e Assistencial (Depa). O que seria pior ainda, pois a Depa, sediada no Rio de Janeiro, é o órgão nacional responsável pelo Sistema de Colégios Militares do Brasil.
Sim, o CMF cumpre regras básicas por causa da pandemia como aulas remotas, uso de máscaras e oferta de álcool. Verdade. Porém, isso não significa que não haja negacionismo. É decreto sanitário para ser cumprido por instituições e cidadãos preocupados ou não com a própria vida e a existência coletiva.
Bom, o texto serviu para jogar luz sobre uma discussão que não tem unanimidade no Colégio Militar, isso também é fato. Há pais que não concordam com o que expus. Caso de Álvaro Furtado, que tem o meu respeito por tratar o assunto de maneira civilizada e não violenta.
Há professores também que discordam do que sustento com o jornalismo e documento. Em carta enviada, a professora Francisca das Chagas Reis tem outra visão sobre o que chamo de negacionismo do comando do CMF.
Também respeito a convicção de Francisca Reis. E disse a ela, que aguardava uma versão do gestor da escola. E a Ombudsman do O POVO, Daniela Nogueira, procurou o comandante.
Relatório da Federação Internacional de Jornalistas revela que três em cada quatro jornalistas já enfrentaram intimidação ao apurar e escrever notícia sobre a pandemia
O episódio também gerou uma onda potente nas redes sociais, sem agressões e violência, em defesa da "Liberdade de impressa, contra o autoritarismo e por debates públicos e democráticos". Puxada, inicialmente, pelo ex-deputado Mário Mamede, o sociólogo Hebert Lima, o psiquiatra Valton Miranda, o advogado Newton Albuquerque, a advogada Ecila Moreira, a educadora Vanda Magalhães, o sociólogo Geraldo Accioly, o agrônomo Eduardo Martins e o bancário Vicente Flávio, o movimento ganhou corpo.
Vozes se fizeram a favor do ofício do jornalismo, angariando a parceria de milhares de cidadãos, segmentos sociais e coletivos. E de instituições como o Sindicato dos Jornalistas do Ceará, da Associação Cearense de Imprensa, da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo, do curso de Jornalismo da UFC, do Instituto Verdeluz, do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais do Ceará e do Portal Imprensa.
As manifestações de apoio não me tratam como herói nem vítima da insanidade de quem ignora o debate democrático e público. Enxergam-me como jornalista e levantam bandeira contra a truculência e tentativa de intimidação ao exercício do jornalismo, imprescindível numa democracia e fundamental na cobertura da pandemia da Covid-19.
Um relatório da Federação Internacional de Jornalistas, deste ano, mostrou que três em cada quatro jornalistas já enfrentaram intimidação ao apurar e escrever sobre a pandemia. Principalmente em países onde o presidente da República ou cargo que o valha contribui para a desinformação e para as mortes causadas pelo coronavírus. Caso do Brasil com Bolsonaro.
É impressionante! O Brasil caminha, infelizmente, para as 100 mil mortes causadas pela Covid-19. A estatística macabra estará disponível para quem escapar da doença e ainda estiver vivo nas próximas três ou quatro semanas. Mesmo assim, há ainda quem minimiza o problema ou se conforme com conteúdo falso e negações sobre a pandemia.
Com ou sem tentativas de intimidações, vou continuar no jornalismo. E agradecido aos que se dispuseram ao debate respeitoso e a todos os que se manifestaram contra a tentativa de cerceamento da informação.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.