Dá para fazer alguma coisa para ajudar as mulheres, as árvores, as crianças, os grilos, os indígenas e as onças do Pantanal? Dá sim. Não adianta querer ir para lá, agora. Apagar um fogo sem saber. Doar R$ 10, R$ 25 ou 100 reais... Quem puder dividir, será enorme para um pedaço do Brasil que arde em fogaréus.

Sim, aqui em Fortaleza há favelas famintas, gente dormindo nas calçadas dos supermercados e ruminando fome, há palhaços no sinal jogando malabares, há um Gereba que nunca se de(s)paupera... Mas o fogo no Pantanal é dessas tragédias repentinas que carece dividir, mais ainda, o pouco ou quase nada que sobra.

Não é brincadeira, mais de 19% da floresta e da autoestima do pantaneiro já derreteram nos fogareiros naturais por causa de uma das secas mais severas num ecossistema de alagados e violas.

É também rastro de queimadas criminosas de gente estúpida que não sabe o valor de um tuiuiú. Resultado, até os pastos, até áreas clandestinas de extração de madeira e de garimpo estão na fogueira há dois meses.

Só para medir o apocalipse, o que queimou (e ainda queima) já deixou um vazio por lá que nem 90 capitais do tamanho de Fortaleza preencheriam a vastidão desvivida no ardume.

O dado é do Ibama, não é devaneio. Há um colapso na floresta, bichos incinerados, homens e mulheres sem chuvas e uma ferida que poderá não sarar para o Brasil inteiro.

Infelizmente, o pior incêndio no Pantanal não poderia ter vindo com o mais bestial dos presidentes da República desde a redemocratização. Num momento tão atroz e lancinante para gente, bicho e mata.

Dá para fazer algo pelos pantaneiros? Dá sim. Quatro garotas de estados diferentes resolveram se mexer e colei nelas - uma brigada feminina de voluntárias. Nada de heroínas, nem de porra-louquice. Contrário.

Luciana Leite (@lu.biophilica), Cecília Licarião (@licariao), Lua Benício (@luabenício) e Daniella França (@dani.moojeni), biólogas de Foz do Iguaçu, de Fortaleza, de Salvador e de São Paulo entrançaram conversas e foram fazer o possível.

Foi Luciana quem puxou as outras. Uma lua de mel no Pantanal com o esposo Benjamin, também biólogo, foi atravessada pelo incêndio e pela tristeza. Ao chegar na pousada, na região de Poconé (MT), não existia pousadeiro porque ele havia ido guerrear contra o fogo.

As quatro se juntaram e organizaram duas "vaquinhas" virtuais para arrecadar fundos. A história pegou. Um compadecido, de pronto, depositou R$ 50 mil. O dinheiro está pingando e, por questão de transparência, vai para a conta de uma pantaneira.

Com o que foi arrecadado, até aqui, a brigada das biólogas já comprou e entregou um caminhão com capacidade para carregar 10 mil litros de água. Tanques de 8 mil litros. Duas bombas de água. Uma motosserra para abrir aceiros (valas). 600 metros de mangueiras com conectores...

Dez respiradores com filtros para brigadistas. Cinco abafadores de chamas. Quinze camburões para colocar água para os animais nas estradas ou áreas de fuga. E uma tonelada e meia de farelo de milho para bichos que buscam comida nas áreas devastadas.

Conheço de perto a Cecília Licarião, gente do bem, ex-bióloga do Parque do Cocó, honesta e uma grande companheira de passarinhadas e devoção pela natureza.

Quem quiser doar pode fazê-lo por dois caminhos: https://www.vakinha.com.br/vaquinha/o-pantanal-pede-socorro-ajude-os-animais-e-o-povo-pantaneiro (compra de equipamento) e https://www.vakinha.com.br/vaquinha/voluntarias-no-pantanal (logística da brigada das biólogas)