Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
A praça Luíza Távora, no miolo da Aldeota, poderia se chamar praça da Pierina. Ou praça dos Castelos de Pierina ou praça do Amor de Pierina e Plácido.
Ser conhecida do Litoral ao Semiárido como a praça do Derriço, onde um casal de capitalistas do Século passado viveu uma história amorosa que todo mundo apraz ouvir para escapar do cotidiano torturante.
Nenhuma birra contra dona Luíza Távora, senhora de algumas posturas curiosas e que também teria vivido um romance interessante com Virgílio Távora. Um coronel da ditadura militar (1964-1985) que governou o Ceará entre 1963-1966 e 1979-1982.
Em alguns momentos do governo de Virgílio, Luíza foi a "governadora". Teria evitado, por exemplo, a gentrificação do povo que habita, ainda hoje, o quarteirão da comunidade das Quadras ou da "favela do Santa Cecília".
Dona Luíza ordenou o marido atravessar o caminho de especuladores imobiliários da Aldeota interessados num filé ocupado pela arraia miúda. Nenhum pobre dali seria enxotado para um desterro de baixa da égua.
"A praça do Amor por Pierina teria banco próprio para namorados, serenatas, cinema, cantinhos para declarações e pedidos para enlaces"
Ela decretou a permanência e teria articulado outras subversões que a fizeram personagem não figurativa de um período de terror. Por isso, Luíza Távora teve o nome cunhado na praça esquadrinhada entre a Santos Dumont, Carlos Vasconcelos, Costa Barros e Monsenhor Bruno.
Mas o idílio de Pierina e Plácido, vivido até hoje num universo paralelo ali, se sobrepõe à homenagem à dona Luíza.
Pode parecer besta esta crônica sugerir que o nome da praça da Ceart deixe de se chamar Luíza Távora e passe a contar o romance de Pierina e Plácido.
É por puro enleio e reverência à cartografia amorosa, porque foi naquele sítio onde o sumbaré se deu entre Plácido Carvalho e a italiana Maria Pierina Rossi. Com todo o enredo real e a imaginação possível ou não.
É, também, a suspensão do juízo numa sexta-feira chata. Permitir-se embarcar num romance de uma Fortaleza que, talvez, ainda continue existindo em algum sobrenatural do tempo.
"Todo mundo iria à praça da Pierina experimentar um amor de arrebatamento, perene ou fugaz. Apenas um suspiro em meio à afobação e soberba da Metrópole"
A praça do Amor por Pierina teria a história romantizada, escrita e contada em vários cantos do logradouro ou num dos castelinhos ao redor. Teria banco próprio para namorados, serenatas, cinema, cantinhos para declarações e pedidos para enlaces.
Todo mundo iria à praça da Pierina experimentar um amor de arrebatamento, perene ou fugaz. Apenas um suspiro em meio à afobação e soberba da Metrópole.
Contam os mortos e os sobreviventes do tempo que o abastado Plácido Carvalho, em flanação por Paris no 1916, se engraçou de encantos pela milanesa Pierina. Ela correspondeu, ele pediu que viessem casados para Fortaleza.
Pierina aceitou se casar, mas em Fortaleza não iria viver. Foi ai que Plácido prometeu tudo e construiu um palácio para a amada. À imagem semelhança de um visitado em Veneza.
Em 1921, o castelo de Plácido e Pierina foi inaugurado e, ao redor, vários castelinhos foram erguidos.
O palácio, infelizmente, foi derrubado quando os Romcy compraram os prédios e o terreno. Parece maldição, faliram um tempo depois e perderam a propriedade para o Governo do Ceará.
Restou apenas o ao redor do castelo de Pierina e Plácido. Mas olhando bem de perto, se permitindo, ainda existe o palácio. Alguns ainda ressentem.
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