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O que você faria se fosse o mar?
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

O que você faria se fosse o mar?

Tipo Crônica
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A menina Clara conversou com a mãe, depois da metáfora feita aqui sobre a ida embora do mar de Fortaleza. O que seríamos nós sem os pés molhando a água do Atlântico e o que seria dos precisados de maresia?

E aquela cena de álbum de papel Kodak? Das romeiras franciscanas de Canindé, vestidos marrons, dentro de combinações, rindo ao vento... Se destacabarem do sertão até aqui e quando dá fé não encontrar o mar pela primeira vez? Não sei se queria estar lá como repórter. Fazer o espanto, o fim do mundo.

Um verso desfeito em desmilingue. Quando dei por mim, você não estava ali. Quando mergulhei não me prendi no visgo do mar azul...

E o medo de ser uma pessoa sem mar, de ter um grande vazio infinito e não ter mais para o que olhar quando chegasse e não houvesse mais rebentação.

Ou daquele meninozinho de algum livro lido que, assombrado com tanta imensidão, puxa a mão do pai e grita para que lhe ensine a ver o mar todinho porque seus olhos não conseguem abarcar tanto encantamento... Me ajuda a amar o mar, pai!

Vai um desafio de batalha, um aboio, um sarau, um repente, uma embolada, um coco, um poema, um discurso de irradiadora...

Se você fosse o mar, tão maltratado, tão contaminado, tão cuspido, mijado, defecado, oleado, asfaltado, aterrado, sinceramente, o que faria de nós?

Você queria ser Iracema? Bebendo de esgoto em esgoto? Engasgada com latinhas de Coca-Cola e cervejarias? Embriaga e cheia de gastura com tudo que é de porcaria rebolada nas areias dela, entranhada nas profundezas de tanto monturo?

Canto Iracema e também Parajuru, Icapuí, Goiabeiras, Aranaú, Barra do Ceará, Boi Morto, Sabiaguaba, Pontal das Almas, Farol, Baleia, Embuaca, Bitupitá...

Calé Alencar, domingo "trasado", me instigou e aceitei fazermos uma canção dentro do oco, sobre a metáfora do sem mar. Mais ou menos navegamos assim:

Se eu fosse o mar, eu ia embora daqui // Ia sim, ia ali, ia embora daqui //

Povos do mar venham nos acudir // Venham aqui, venho aqui, vim cantar pra subir //

Mãe Janaína, olha o que fizeram a ti // Odoiá, salva-te, reza-me, benze-te //

Gente sem lei, sem dó, sem pena de si // Mar daqui, Marajaig, Mundaú, Icaraí //

Iemanjá vem nos ajudar aqui // Benze-nos, vela-nos, salva-nos, abençoa-nos //

Paracuru, Iracema, Caetanos, não nos deixem assim // Sem eira nem beira mar //

Sem beijar o luar // E se não tiver mar, que vida será, sem sonhos pra navegar? //

Salve Obatalá! Um guerreiro subirá de espada na mão pra saudar Oxalá...

Foto do Demitri Túlio

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