Logo O POVO+
Carne de lata em vez de cerebelo
Foto de Demitri Túlio
clique para exibir bio do colunista

Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Carne de lata em vez de cerebelo

Tipo Crônica
0311demitri02 (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 0311demitri02

Quanto vale, mesmo, a palavra do iraniano Farhad Marvizi? Um personagem conhecido das narrativas do crime no Ceará e que anda enlouquecendo o juízo de bolsonaristas pouco inteligentes? Umas criaturas ávidas por teorias da conspiração e por conteúdos falsos disseminados a torto e à direita.

Ok, muitas vezes, o farol de uma investigação é aceso por fontes bandidas. Óbvio! Geralmente, elas são a própria cena do crime ou entrançam com desenvoltura por onde os planos são rascunhados. Inclusive em condomínios.

Mas Farhad Marvizi não tem credibilidade nem para ser um Antonio Palocci, o mais dadivoso dos delatores da história do crime na contemporaneidade.

Em Fortaleza, Marvizi comandou uma rede de assassinatos e só foi alcançado pela Justiça depois que mandou tentar contra a vida do auditor fiscal da Receita Federal - José de Jesus Ferreira, em dezembro de 2008.

Pelo crime, encomendado aos pistoleiros Mairon Silva de Lima e Alex Nogueira Pinto, o estrangeiro foi condenado a 20 anos de prisão e passou pouco tempo no sistema penitenciário daqui.

Por causa da periculosidade do homem que lidava com a concorrência mandando matar o concorrente, Marvizi foi desterrado para o presídio federal em Campo Grande - no Mato Grosso do Sul.

Foi um esforço feito pelo Sindicato dos Auditores Fiscais da Receita Federal, no Ceará. De porta em porta, até nos tribunais em Brasília, foram apelar para que o iraniano não botasse mais os pés em Fortaleza ou qualquer xadrez da Região Metropolitana.

O Coringa da Gotham do Semiárido meteu medo por aqui, principalmente, pelo requinte de psicopatia com que resolvia suas paradas no universo do contrabando de eletroeletrônicos e sonegação fiscal.

Para se ter uma ideia da ardilosidade de Marvizi, o atentado contra o auditor fiscal José de Jesus Ferreira se deu em dezembro de 2008. Jesus, sobrevivente por um triz dos tiros, estava no rastro de uma denúncia sobre fraudes fiscais praticadas pelo iraniano.

A denúncia havia sido feita pelo empresário Francélio Holanda. Um pagador de impostos que não conseguia competir com os produtos ilegais de Farhad Marvizi.

O iraniano e seu lugar-tenente - o ex-sargento da PM Jean Charles da Silva Libório, como demostrou o promotor Ricardo Machado na sessão do júri popular, articularam e desenharam a execução de Francélio Holanda em julho de 2010. Um ano e meio antes de tentar matar o auditor Jesus Ferreira.

Agora, Farhad Marvizi "descobriu" para a Abin e para Polícia Federal que Adélio Bispo "recebeu R$ 500 mil" para esfaquear Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018. E exige o perdão judicial do presidente para contar detalhes da conversa com Bispo.

Adélio, numa cena parecida com uma sequência da série Irmandade (Netflix), teria se encontrado com Marvizi na enfermaria do presídio de segurança máxima e feito confissões nunca antes.

Podem ter acontecido o encontro e as revelações? Podem. Afinal, o real é muito mais ficção do que realidade. Mas vamos combinar, essa história em quadrinhos baseada em conteúdo falso só serve, mesmo, para as alucinações de bolsonaristas que têm carne de lata em vez de cerebelo.

E, como a família Bolsonaro e seus seguidores transformaram o País numa encenação da A Cantora Careca, não é absurdo se Jair tuitar que Marvizi revelou que Marielle mandou Adélio esfaqueá-lo. Nem Ionesco escreveria.

Foto do Demitri Túlio

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?