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Tolerância zero nos quartéis?
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Tolerância zero nos quartéis?

Tipo Opinião
0803demitri (Foto: Carlus Campos)
Foto: Carlus Campos 0803demitri

Camilo Santana, após o fracasso de Cid Gomes com o Ronda do Quarteirão, até tentou retomar a história da construção de uma polícia mais cidadã. Uma PM de aproximação e menos coturnos nas portas de quem mora na periferia e já nasce suspeito.

Criou o Ceará Pacífico e Izolda Cela foi tentar modificar mentalidades. Porém, o novo pensamento não encorpou diante de um Estado tomado pela violência urbana, por uma dívida social atávica e minado pelo domínio das facções nos territórios.

Com índices de homicídios vazando pelo ladrão, o governo se desesperou e acabou rendido ao modo Raio de combater "vagabundo" e ao imaginário cinematográfico da "faca na caveira" como solução.

O Ceará Pacífico, com vários atores além da PM, foi perdendo protagonismo para vertentes discursivas do tipo "justiça ou cemitério para bandidos". Fala de André Costa, mantra para policiais.

Nos bastidores, Izolda nunca escondeu o incômodo. Porém a virada de importância do Ceará Pacífico para a mentalidade Raio/caveira também foi interessante para Camilo.

Naquele momento, o petista tomava fôlego contra a força política do Capitão Wagner e sua turma nas fileiras da Corporação. Principalmente entre as praças.

André Costa, com discurso paternalista e de não aliviar o pé, foi angariando a simpatia dos guerreiros.

Foi do secretário o estimulo para a criação de um grupo de advogados voluntários com a missão de defender PMs que se excediam em ação ou à paisana. Um contraponto à suposta "perseguição" da Controladoria Geral de Disciplina (CGD).

O Raio se fortaleceu como batalhão e foi vendido como o melhor produto operacional de segurança do Estado para restituição da sensação de segurança.

A retomada do curso para formação de "caveiras" e a criação de um quartel que botasse pra moer, o Batalhão de Operações Especiais, foram outros sinais de mudança na mentalidade do governo.

Mas, mesmo com o empoderamento do Raio e a simbologia dos caveiras, os índices de homicídios não despencarem. Sim, verdade, nunca a polícia prendeu tanto.

E, também, nunca a CGD foi tão acionada para apurar abusos derivados do "voluntarismo" dos PMs. Chacina do Curió, tortura de um garoto na Bela Vista, massacre de reféns em Milagres... e outros excessos em nome da segurança pública.

Ouvi de alguns oficiais superiores que até eles temiam ser abordados na rua por seus subordinados.

Na verdade, os índices de homicídios e violência agregada só caíram depois que Mauro Albuquerque chegou e retomou os presídios "doados" às facções. Uma obviedade que ele enxergou.

Foi o refresco que Camilo achou ter conseguido após fragilizar as facções e reduzir a carnificina no Ceará.

Mas veio o "fogo amigo" dentro de casa. O governo viu parte da PM - pelo menos cinco mil homens e mulheres - entrar numa queda de braço que durou 13 dias e teria produzido, pelo menos, 312 homicídios.

O daqui para frente é uma esfinge. Nos quartéis, os amotinados foram recebidos sem refresco. Não seria diferente.

O anistia zero, encampado por Camilo e por oficiais, gerou o tolerância zero no retorno dos PMs. Virão as expulsões e outras feridas...

O resto é esperar para ver o que o governo e os PMs aprenderam com o motim.

 

Foto do Demitri Túlio

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