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Histórias mal contadas
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Histórias mal contadas

A história de Tenório Jr. foi ignorada por décadas, numa tentativa de encobrir a ligação entre as ditaduras do Brasil e da Argentina. Trinta anos depois, o estado brasileiro reconheceu seu pouco esforço em elucidar o fato. A família foi indenizada por danos morais e materiais, mas o corpo do músico nunca foi localizado
Tipo Notícia
Pianista Tenório Jr, morto na ditadura argentina (Foto: FOTOS Divulgação)
Foto: FOTOS Divulgação Pianista Tenório Jr, morto na ditadura argentina

Imagino que argumentos explicariam alguém defender a ditadura militar e um instrumento vil como o Ato Institucional 5. Acredito que defenda-se por desconhecimento ou ignorância. Sim, é possível que alguém não saiba que houve um tempo no Brasil em que prisão, sequestro e tortura eram instrumentos contra o "comunismo". Também é possível que alguém saiba, mas ignore a importância. Possibilidades absurdas, mas possíveis.

A truculência ditatorial me lembra os que sofreram traumas insuperáveis e os que perderam vida. Nesse segundo caso, um exemplo é o do pianista Tenório Jr. Figura promissora na cena jazzista brasileira, ele vinha chamando atenção pelo toque refinado e sem excessos, visto, por exemplo, no disco Índia (1973), onde ele acompanha Gal Costa em Volta.

Carioca nascido em 1941, Tenório poderia ter entrado para a história pelo talento. Mas não foi bem assim que quis o destino. Em turnê com Vinicius de Moraes e Toquinho por Buenos Aires, o pianista saiu do hotel na avenida Corrientes avisando que iria comprar um sanduíche e um remédio, e voltaria logo. Era 18 de março de 1976. A iminência do golpe de estado que tiraria Isabelita Perón do governo se concretizou seis dias depois. Tenório tinha 35 anos e nunca mais voltou.

"Tenorinho desapareceu", assustou-se Vinicius. As relações de Tenório com movimentos políticos nunca existiram. Provavelmente, por conta da barba e dos cabelos longos, ele foi confundido com um "subversivo". Sua história se manteve um mistério por dez anos, até o cabo Cláudio Vallejos revelar em entrevista à revista Senhor que participou do sequestro e das sessões de tortura que o artista brasileiro sofreu por nove dias, até ser fuzilado. Com o Itamaraty ignorando o fato, o exército argentino achou melhor sumir com o corpo do que dar explicações.

Uma das 30 mil vítimas da ditadura argentina, Tenório hoje tem seu único disco, Embalo (1964), disponível no Youtube. Ele também pode ser ouvido no disco Vagamente (1964), acompanhando Wanda Sá na faixa título. E no disco de 1975 de Nana Caymmi, onde ele reveza o piano com Ivan Lins e Tom Jobim. Ouvir essas gravações é o melhor que se pode fazer pela memória de Tenório Jr e contra desinformações levam pessoas a sentirem saudades das ditaduras. Só a beleza pode vencer dores deixadas por uma época que não deve voltar nunca mais.

 

Ricardo Bacelar, pianista e advogado
Ricardo Bacelar, pianista e advogado

A seleção de Ricardo Bacelar

Do piano clássico a integrar uma banda de rock, o pianista cearense Ricardo Bacelar testou muitas possibilidades e linguagens na música. Integrante do Hanoi-Hanoi, que fez história no rock com Totalmente Demais, ele também lançou três discos solo e trabalhou com Belchior em Vício Elegante. A seguir, ele indica cinco pianistas que foram importantes para sua formação musical. "Alguns tocam música clássica também, mas aqui a nossa abordagem é mais pro jazz", adianta.

Keith Jarret - Pianista americano de formação clássica, que tocou com Miles Davis. É um grande improvisador, um grande estudioso do piano. Tem uma interpretação muito especial, tirando um som do piano de uma forma muito peculiar. Ele consegue extrair do instrumento uma sonoridade que influenciou vários pianistas no mundo inteiro.

Lyle Mays - Tocou muitos anos com o Pat Metheny e traz uma linguagem muito lírica, melodiosa. Tem poucos discos, mas marcou a história do jazz mais contemporâneo com seus temas tão bonitos e sua musicalidade incrível. Particularmente, me influenciou demais.

Egberto Gismonti - Um músico brasileiro de alto nível, compositor, pianista e violonista também. Traz aí uma corrente de mistura da música brasileira com um componente erudito. É um dos pianistas e compositores mais importantes deste último século.

Chick Corea - Vem de uma escola de jazz tradicional. Também tocou com o Miles Davis. Traz uma sonoridade também latina misturando com a música flamenca, uma coisa meio cigana. Um pianista que traz uma contribuição muito importante para o jazz internacional e para a história da música mundial.

Herbie Hancock - Dessa linhagem do Chick Corea e do Keith Jarrett. O Herbie é uma pessoa que traz um piano de muita personalidade no cenário internacional. Traz vários discos muito bem feitos. Também trabalhou como arranjador e solista.

Foto do Marcos Sampaio

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