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Reverências mil
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Reverências mil

Renata Lu foi amiga de Beth Carvalho, Alcione e andava muito com as Chacretes. Gravou vários compactos e lançou o primeiro LP em 1971, que tem entre os destaques Sambaloo e Manias, famosa na voz de Dolores Duran
Tipo Crônica
Capa do disco Tô  Voltando, de 1979, lançado por Renata Lu (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Capa do disco Tô Voltando, de 1979, lançado por Renata Lu

A notícia da morte de Aldir Blanc, no último 4 de maio, veio seguida de muitas homenagens a um dos mais importantes compositores brasileiros. Letrista famoso por falar dos anônimos, o carioca merecia uma estátua gigante, teses sobre sua obra, bandeiras a meio pau, toda e qualquer homenagem. Só pela co-autoria de O Bêbado e a Equilibrista, ele já mereceria mais que marias e clarices chorando.

A gravação lançada em 1979 por Elis Regina, no disco Essa Mulher, é indiscutivelmente um dos momentos mais felizes da música brasileira. Tirando inspiração sabe Deus de onde, ela pegou mais um samba da grife Aldir-João Bosco e elevou à sua enésima potência.

Naquele mesmo ano outra cantora gravaria este samba, no mês de maio, num estúdio carioca, sua terra natal. Renata Lu foi um mistério para este colunista ao longo de 11 anos. Nenhum vídeo no youtube, nenhuma entrevista ou biografia mais aprofundada. As únicas informações sobre a discografia daquela morena sorridente estavam num site, hoje extinto. E assim ela permaneceu até a morte de Aldir voltar a atiçar a curiosidade.

Consultando pesquisadores, músicos e jornalistas de alguns cantos do Brasil, cheguei a um parente que muito prontamente me respondeu que Renata Lu está viva, para alívio dos que lamentam sua morte em comentários da internet. Segundo Rodrigo Machado, casado com uma sobrinha-neta da cantora, Renata hoje, com 65 anos, vive reclusa numa clínica por conta de uma doença degenerativa hereditária – que já havia atacado sua mãe e uma irmã. Embora totalmente lúcida, ela teve a voz e a locomoção comprometida.

A gravação de Renata Lu para O Bêbado e a Equilibrista está no disco Tô Voltando, que leva o nome do samba que Simone gravaria naquele mesmo ano. O álbum teve produção de Paulinho Tapajós e participação de músicos como Ivan “Mamão” Conti, Zé Menezes, Dino 7 Cordas e Armando Marçal. No repertório, além desses clássicos nacionais, uma linda versão de Quando tu passas por mim (Vinicius de Moraes/ Antônio Maria) e a melancólica Quero Sim (Leci Brandão/ Darcy da Mangueira).

Há alguns meses, um empresário português entrou em contato querendo relançar outro álbum de Renata Lu, Sandália de Prata, de 1976, com canções de Cartola, Nelson Cavaquinho, Heitor dos Prazeres e outros. Mas, a negociação não se concretizou. Rodrigo não sabe mais sobre a discografia da sambista cujo timbre de contralto lembra muito Clara Nunes. Renata, inclusive, teria vencido Clara em festival de música.

Estreando no início dos anos 1970, Renata Lu foi além do samba, encostou na black music, na jovem guarda e deixou uma história bonita a ser redescoberta. Em seu tempo, cruzou o mundo, chegando ao Japão com sua voz e nossa música. Numa época de tantas sambistas que ganharam notoriedade e popularidade, Renata não teve a mesma projeção. Mas sua música segue disponível em algumas plataformas e pode (deve) ainda lhe trazer o reconhecimento merecido.

Notas musicais

A cantora Anastácia celebra 80 anos com novo disco produzido por Zeca Baleiro. Disponível nas plataformas digitais a partir de 29 de maio, véspera do aniversário da cantora, Anastácia 80 - Lado A conta com participações de nomes como Chico César, Amelinha e Mariana Aydar.

Reconhecido pelo trabalho com o Dona Zefinha, Orlângelo Leal aproveitou a quarentena para produzir um novo single. Com participação da estreante Ariadna Sampaio, Canção de Resiliência é, segundo o artista, "um presente para aliviar nossas tensões, angústias e ansiedades provocadas pelas circunstâncias". O clipe já está disponível na Internet.

Com produção de Apollo9, a banda Ira! está preparando um novo disco após 13 anos sem canções inéditas. A primeira faixa do trabalho é a balada folk Mulheres à Frente da Tropa, composta e cantada por Edgard Scandurra. Falando do protagonismo feminino, o clip traz homenagens a Mariele Franco e Dandara.

A cearense Paula Aragão está estreando no meio musical com o EP Triangular, com três canções que serão lançadas ao longo deste ano. A primeira, já disponível no Youtube, é Serpente, que ironiza a mítica imagem da "erva venenosa". Aluna do Conservatório Alberto Nepomuceno, Paula acumula ainda experiências na dança e no teatro cantado.

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