Logo O POVO+
Pianista Antonio Adolfo celebra a obra de Milton Nascimento no disco "Bruma"
Foto de Marcos Sampaio
clique para exibir bio do colunista

Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Pianista Antonio Adolfo celebra a obra de Milton Nascimento no disco "Bruma"

Além do tributo "Bruma", o músico carioca relembra suas parcerias com Tibério Gaspar em "Vamos partir pro mundo", disco dividido com Leila Pinheiro
Tipo Notícia
Antonio Adolfo e Milton Nascimento (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Antonio Adolfo e Milton Nascimento

Em 5 de novembro de 2015, aconteceu no município Mariana, Minas Gerais, o rompimento de uma barragem de rejeitos de mineração controlada pela Samarco Mineração SA, causando uma gigantesca tragédia ambiental e social, uma das maiores ligadas a esse tipo de atividade econômica no mundo. A menos de 200 km de lá, pouco mais de três anos depois, Brumadinho, outro município mineiro, passaria pelo problema quando outra barragem se rompeu. Lá, 259 pessoas morreram, 11 nunca foram encontradas, famílias foram devastadas, e todo um ecossistema foi comprometido, com poucas esperanças de que se recupere.

Relembrando toda a dor causada pelo acidente e pelos descasos políticos que vieram a seguir, Antonio Adolfo puxa para a capa do seu novo disco as sílabas iniciais das duas cidades. “Bruma” é uma homenagem à música de Milton Nascimento, compositor carioca que teve sua vida e sua música desenhada no relevo de Minas Gerais. Sobre o que mais gosta na música de Milton, Antonio não deixa dúvida: “Tudo! A combinação da composição com o violonista sai daquele padrão estético que a gente está acostumado. E é uma voz incrível”, aponta por telefone.

Feito inicialmente para o mercado internacional, “Bruma” começou a ser pensado em outubro de 2019. “Eu trabalho da seguinte forma: começo a viajar nas músicas. Sento ao piano e começo a imaginar as músicas com a formação que eu uso. Da época que eu toquei com ele até hoje, o repertório dele cresceu muito e eu amadureci bastante”, explica o músico de 73 anos que conheceu o homenageado em 1967, no Festival Internacional da Canção, que teve como destaque a canção “Travessia”. “Ele tinha um repertório enorme, mas de difícil acesso para as pessoas. Não era assim uma música popular”, comenta Antonio.

Dono de um currículo extenso, reconhecido internacionalmente, Antonio Adolfo não se preocupou em “facilitar” a obra de Milton Nascimento. Entre cerca de 30 candidatas, ele escolheu nove e deu a elas novos arranjos instrumentais, puxados para o jazz com influências brasileiras. “Fé cega, faca amolada” foi inspirada nas quadrilhas, enquanto “Caxangá” virou um afoxé e “Canção do sal” ganhou um ritmo saltitante de sambajazz. Se “Outubro” tem sublinhada sua melancolia, “Três pontas” segue o movimento de um trem veloz. Além do piano de Antonio, o álbum conta com nomes como Lula Galvão (guitarra), Jorge Helder (baixo), Rafael Barata (bateria), Jessé Sadoc e Marcelo Martins (sopros), entre outros. Gravado em cinco dias, “Bruma” foi concluído na semana em que o Brasil entrou na pandemia do novo coronavirus. “Quando eu saí do estúdio, as ruas já estavam vazias”, relembra o músico.

Leia também | Palco Vida&Arte: Saiba como construir instrumentos musicais com materiais recicláveis

O tributo a Milton sai ao mesmo tempo que Antonio Adolfo presta outra homenagem importante: ao seu parceiro Tibério Gaspar (1943-2017). Com Leila Pinheiro nos vocais, “Vamos partir pro mundo” (Deck Discos) reúne 15 faixas da dupla, incluindo sucessos como “Teletema” e “Sá Marina”. Assim como “Bruma”, ele foi gravado em 2019, mas teve o lançamento atropelado pela pandemia. “Mas acho que é um disco que não tem hora, pode ser consumido em qualquer momento”, destaca Antonio.

Antonio e Tibério se conheceram por intermédio de Beth Carvalho e criaram uma das parcerias mais celebradas da música brasileira, que rendeu uma infinidade de regravações por nomes como Ivete Sangalo, Wilson Simonal, Evinha, Stevie Wonder e Elis Regina. Empolgada com o convite, Leila Pinheiro queria 19 músicas no disco. De fato não seria fácil escolher entre tantas canções que ficaram no imaginário popular, mas eles preferiram passear por uma seleção mais plural, que relembra, inclusive, o projeto A Brazuca. “A dupla foi de 1967 até o final de 1970. E fizemos umas 40 até ali, e depois fizemos mais algumas. A gente saía junto, era muito amigo mesmo. Quando teve o problema do ‘BR-3’, eu fui pra Europa, o Tibério foi pra Goiânia e a gente parou a parceria. A gente só retomou em 2006. A Evinha acabou gravando a última parceria que a gente fez em 2016”, conta ele se referindo à música “Meu canto”, presente no disco “Uma voz, um piano”.

Jazz

Em 2018, Antonio Adolfo foi um dos cinco indicados na categoria Melhor Álbum de Jazz Latino, com "Hybrido - From Rio To Wayne Shorter" na premiação que é considerada o Oscar da música.

Foto do Marcos Sampaio

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?