Logo O POVO+
Memória sem ordem
Foto de Marcos Sampaio
clique para exibir bio do colunista

Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Memória sem ordem

Aliado à qualidade, é a boa administração das obras de arte que permite que elas atravessem tempos e sigam sendo relevantes. Mas há quem prefira achar que essas obras só dizem respeito a si e causam mais problemas do que outra coisa
Tipo Opinião
Renato Russo (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Renato Russo

O personagem da semana chama-se Giuliano Manfredini, filho do líder da Legião Urbana, Renato Russo. O termo "líder" deve-se ao fato dele ter sido o principal porta-voz da banda. Fora isso, a Legião fez história como trio e todos tiveram participação fundamental no som de uma das formações mais vitoriosas do rock brasileiro. Ok, mas Giuliano discorda disso e acha que sua participação como filho é mais importante que a de Dado Villa-Lobos como guitarrista e Marcelo Bonfá como baterista - ambos compositores.

Na última segunda-feira, 26, Giuliano voltou ao noticiário quando denunciou à Polícia Civil do Rio de Janeiro que havia registros inéditos do seu pai em posse do produtor Marcelo Fróes, que amanheceu com os oficiais em sua casa recolhendo computadores, arquivos e celulares. Dono da gravadora Discobertas, Marcelo tem como foco relançar obras, vasculhar arquivos e descortinar trajetórias musicais que empalidecem na amnésia nacional. Ele, inclusive, a convite da família, fez o levantamento dos arquivos de Renato para ver o que renderia futuros lançamentos. Os CDs "Trovador solitário", "Presente" e "Duetos" são frutos de seu trabalho.

Leia também | Confira mais histórias e informações do mundo da música na coluna Discografia

Gravadoras e produtores costumam ser vistos como vilões, principalmente após o estabelecimento do rótulo "música independente". Mas é preciso fazer uma ressalva para Marcelo Fróes. À frente da Discobertas, ele devolveu ao mercado raridades, rejuvenesceu obras, produziu tributos com artistas de muitas gerações, e lançou registros inéditos que empoeiravam em arquivos. E a primeira pessoa a questionar isso é Giuliano.

A atitude de Giuliano torna-se mais questionável diante do histórico. Ele já investigou um fã que disse ter registros inéditos da Legião, doou parte dos pertences do pai (discos, roupas, móveis...) para um leilão do Retiro dos Artistas, processou a tia por ter criticado essa doação, supostamente impede a mãe de Renato (sua avó) de ter acesso aos bens do músico e já brigou com Dado e Bonfá porque não aceitava que eles fizessem shows com o nome "Legião Urbana".

Leia também | Guitarrista cearense Artur Menezes lança single com participação de Joe Bonamassa

Fato é que espólios mal administrados causam problemas, principalmente, à memória dos artistas. O fabuloso compositor cearense Petrúcio Maia é esquecido porque sua esposa se acha mais dona de sua obra do que fãs e parceiros. Tim Maia, Dominguinhos, Raul Seixas e Chorão também veem suas obras disputadas por filhos, ex-esposas e advogados. João Gilberto nem tinha morrido quando a briga pelo seu patrimônio começou.

Não por acaso, artistas como Elis Regina, Cazuza e Beatles seguem ganhando admiradores. Além do valor das obras, o cuidado com elas mantém esses e outros nomes vivos na memória do público. São filmes, livros, CDs, LPs, MP3, streaming e histórias que, mesmo quando parecem prejudicar, apenas elevam esses nomes à categoria de mitos. E mitos vendem melhor que pendengas mal resolvidas.

Dionísio Dazul
Dionísio Dazul

A seleção de Dionísio Dazul

Cearense radicado em São Paulo, Dionísio Dazul lançou novo single autoral. "Parece que é sobre amor, mas não é... Ou é?", assim ele apresenta "Eu sei, eu sei que é triste...". Músico e produtor, guitarrista dos Forgotten Boys e da banda Vulgo Vortex, ele indica a seguir cinco discos fundamentais do rock nacional. E pra conhecer mais sobre seu trabalho, tem entrevista no blog e música no bandcamp (dionisiodazul.bandcamp.com).

1. Mutantes - O A e o Z (1992)

Disco que ficou na gaveta, sem ser lançado por décadas e só vendo a luz do sol nos anos 2000. Mesmo tendo perdido a irreverência e o carisma da Rita Lee, e sendo um pouco "cabeçudo", esse disco tem músicas e performances memoráveis!

2. Rita Lee - Entradas e Bandeiras (1976)

Longe dos irmãos Baptista, mas ainda na companhia da turma da Pompeia, Rita se mostra muito mais que apenas um rostinho bonitinho e engraçadinho. Ela já está com as unhas bem afiadas nesse disco! Destaque pra "Corista de rock".

3. Edgard Scandurra - Amigos Invisíveis (1989)

Mesmo sendo o primeiro disco solo do Edgard, ele já mostra toda sua maturidade em letras e melodias sublimes. Esse disco você pode colocar pra tocar e escutar de cabo a rabo, sem medo de errar! Destaque pra "Quero voltar pra casa".

4. Nação Zumbi - Nação Zumbi (2002)

Apesar de misturar muitos ritmos diferentes, esse pra mim é um tremendo disco de rock! Banda mostrando o caminho que iria trilhar dali pra frente. Peso, densidade e identidade gigantes, do começo ao fim do play.

5. Paralamas do Sucesso - Hey Nana (1998)

Último disco antes do acidente de Hebert Vianna. Canções de bom gosto unidas a músicas vigorosas. De alguma forma, me parece que ele está dando dicas que, a partir desse disco, tudo iria mudar pra ele e pra banda. Destaque pra "Por sempre andar".


Foto do Marcos Sampaio

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?