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O dono de cada som
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

O dono de cada som

Hoje é celebrado o "Dia do Músico". A data é também de Santa Cecília, padroeira desta classe de trabalhadores que, apesar de onipresente em tudo que se ouve, anda precisando de reconhecimento pelos seus serviços
Tipo Análise
Carlinhos Patriolino, músico cearense (Foto: Reprodução Facebook)
Foto: Reprodução Facebook Carlinhos Patriolino, músico cearense

Admito que foi uma coincidência descobrir que hoje é dia de Santa Cecília, padroeira dos músicos - portanto, hoje é "Dia do Músico". Conta a história que ela era uma moça virgem, cristã, muito devota e que fora prometida em casamento pelo pai. Na noite de núpcias, ela cantou para o marido sobre a beleza do celibato e, assim, permaneceu virgem.

A coincidência é porque a ideia para hoje era falar do quanto o mundo dos streamings ignora um profissional que é fundamental para o mercado da música: o músico. Observe que não há informação sobre quem toca cada instrumento. Para uma audição descompromissada, pouco importa. Mas para quem cultiva a música como uma obra de arte, com laços sensíveis na nossa vida, ah sim, faz toda a diferença.

Em 2013, quando conheci o cearense Carlinhos Patriolino, não pude deixar de confirmar se é ele mesmo quem toca uma guitarra maravilhosa em "Um jeito assim", faixa do álbum de 1994 de Zélia Duncan. Sim! É ele creditado sobriamente como "Carlos Patriolino". Para quem faz música com esmero e atenção, o toque particular de cada músico faz toda a diferença. Não é por acaso, por exemplo, que Ed Motta chamou o mestre Ed Lincoln para tocar seu órgão Hammond B3 em "Conversa mole", do disco "As Segundas intenções do Manual Prático".

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Não é saudosismo, mas CDs e LPs costumavam ser mais atentos a esses artistas. Embora não fosse obrigatório, vários deles traziam fichas técnicas que, não raro, vinham com curiosidades históricas. Quem não lembra, por exemplo, da gaita de Stevie Wonder em "Samurai" e do violão de Paco de Lucia em "Oceano", ambas de Djavan. Ou ainda do violão de Gilberto Gil em acompanhando Marisa Monte em "Dança da Solidão".

Algumas fichas técnicas, inclusive, são bem curiosas. Por exemplo, quando Elba Ramalho gravou "Paralelas", de Belchior, chamou Paulinho Moska pra fazer o violão. E aquele cello que abre "Até quando esperar", clássico da Plebe Rude, é de ninguém menos que Jaques Morelembaum. O soulman Hyldon foi mais ousado e convidou Chico Buarque pra tocar uma discreta kalimba (instrumento africano) na faixa "Medo da Solidão", do disco "Soul brasileiro". Eric Clapton foi além e chamou Paul McCartney para fazer vocais e baixo despretensiosos em "All of me". Mas o que dizer de Stephen Stills que reuniu, no mesmo disco de 1970, lendas como Eric Clapton, Graham Nash, Booker T. Jones e Jimi Hendrix?!

E tenha certeza, dar nome a cada uma dessas pessoas, sejam ou não lendas, é fundamental. O currículo desses profissionais está espalhado em cada fonograma que você bota para tocar. Dar nome a cada um deles é sinal de respeito com o trabalho, de atenção com aquele artista que tanto nos dá em sensibilidade. E cada músico tem seu jeito, suas particularidades. Às vezes dá pra reconhecer só ouvindo. Quando não, deveria ser obrigação de quem ganha com o trabalho do músico dizer seu nome a quem o escuta.

Notas musicais

Radicada em São Paulo, a cantora cearense Nina Ximenes ganhou um prêmio na Lei Aldir Blanc pelo roteiro do longa-metragem "Acauã". A ficção é ambientada nos anos 1930 e conta a história de um grupo de cangaceiros liderados pelo personagem que dá nome à obra. Nina, agora, busca viabilizar a produção, que já chamou atenção de nomes como Paulo Goulart Filho, Nicete Bruno e Eliana Guttman.

Após dois EPs, o trio cearense Casa Maré lança pelo selo paulistano YB Music seu disco de estreia. "Solta teu grito" foi produzido por Klaus Sena e apresenta uma mistura de sons que envolve ska, reggae, frevo, manguebeat e outros ritmos. O single "Jardim mar", homenagem do vocalista Bruno Biú ao filho Noah, ganhou clipe. O disco completo já está disponível em streaming.

A banda Rematte lançou este mês o clipe "A cerca", gravado em tom furioso, falando sobre desigualdades sociais e o drama dos desabrigados. O vídeo dirigido por Vicente Ferreira conta com trechos da série documental "Cartas Urbanas" e do vídeo "Comunidade Alto da Paz é despejada pelo Batalhão de Choque", do Coletivo Nigéria. A composição é do quarteto formado por Daniel Gadelha (voz), Álvaro Abreu (bateria), Jonas Monte (baixo) e Thiago Barbosa (guitarra).

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