Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Fim de ano chegando e uma certeza já temos: não haverá especial do Roberto Carlos. Até por isso, 2020 não deixará saudades. Ainda assim, num surto imaginativo e fantasioso, segue o roteiro fictício do especial que o Rei deveria fazer
O anúncio de que 2020 vai embora sem especial do Roberto Carlos é uma das provas de que esse ano não vai deixar saudades. Tradição que acompanha o Natal desde 1974, o show do Rei era tão certo quanto a chegada do Papai Noel. O motivo alegado pela rede Globo são os cuidados em relação à pandemia, mas há quem diga que trata-se de falta de acordo entre o artista e a emissora sobre fazer uma live ou não fazer nada.
A solução encontrada foi fazer quase nada. Será reprisado o show de 2011, gravado em Jerusalém. Como os últimos especiais dele têm sido bem iguais, é provável que você nem perceba que é uma reprise. No Youtube estão disponíveis muitos especiais completos de uma época em que Roberto era mais artista e menos personalidade famosa. Preso às próprias manias e a regras rígidas de controle de riscos, ele foi deixando de fazer muita coisa interessante.
Mas ainda dá tempo, Roberto. Por isso, de forma muito pretensiosa, segue uma proposta de roteiro para o "RC Especial 2021", quando (tomara!) teremos nos livrado do risco das aglomerações e poderemos reunir a família em frente à TV para vê-lo cantar. O roteiro se baseia numa única ideia: tirá-lo desse looping constante que o faz cantar as mesmas coisas há tantos anos. A abertura seria logo com "Gente aberta", uma linda parceria sua com Erasmo. Depois, pra quebrar tudo, uma homenagem a Rita Lee, com "Agora só falta você" (eu verifiquei, não tem palavra feia). E aí viriam seus rocks, pra não perder a fama de mau: "Parei na contramão", "O calhambeque", "É proibido fumar"...
O segundo bloco seria dedicado ao Roberto maduro. "Detalhes", "Música suave", "Na paz do seu sorriso" e "O portão" não faltariam. E uma homenagem a Sinatra caberia bem com "Night and day". Um luxo! Em seguida, um Roberto cheio de positividade poderia cantar "Felicidade", de Marcelo Jeneci, que ganharia grande arranjo orquestral guiado pelo piano de Eduardo Lages. Depois um pot-pourri: "Alvorada", de Cartola (lembrando que você não quis gravar "As rosas não falam"); "Estrada do sol", de Tom Jobim e Dolores Duran (cheia de flautas e violinos); encerrando com "Além do horizonte". Choro só de imaginar.
Um novo bloco poderia começar com uma homenagem a Tim Maia. "Azul da cor do mar" é muito pessimista? Não sei, acho que ficaria legal. Mas você poderia levantar o clima com "Meu boomerang não quer mais voltar". Não teria nada a ver com o momento, mas a música é ótima!
Estamos nos encaminhando para o fim, mas ainda preciso encaixar algumas músicas. Antes de jogar rosas pra plateia, você poderia interpretar "The long and winding road", daquela banda que fez tanto pela sua carreira. Seguiria com "Todos estão surdos", espetacular, e "Quando o sol nascer", joia perdida de 1981. Pra encerrar, não sei se é melhor "Jesus Cristo" e "Emoções", ou o inverso. Pouco importa, as duas são lindas e não podem faltar. Assim como você, Roberto, não poderia faltar no nosso fim de ano. É triste, mas não adianta nem tentar esquecê-lo por que durante muito tempo em nossas vidas você vai viver. E digo mais: eu te amo, eu te amo, eu te amo...
Encontros especiais
Seguem alguns momentos inesquecíveis dos especiais de Roberto Carlos. Foram muito, é verdade, mas logo lembrei desses. Tem tudo no Youtube:
1. Em 2018, ao lado de Zizi Possi, cantando "Non ti scorda di me". Italianíssimos!
2. "As curvas da estrada de Santos" ganhou dois duetos memoráveis: com Seu Jorge e Djavan, respectivamente, em 2012 e 2017.
3. Zeca Pagodinho tomou pra si "Além do horizonte" e ficou ótimo.
4. Fã assumido dos cantores do rádio, Roberto dividiu "Conceição" com Cauby Peixoto sob os Arcos da Lapa. Ficou um arraso.
5. Em 1979, o tema do especial foi o humor e RC dividiu várias cenas com Chico Anysio, Trapalhões, Agildo Ribeiro e outros.
6. E Roberto ainda cantou "For once in my life" duas vezes. Uma sozinho e outra em dueto com Freddy Cole, irmão de Nat King Cole.
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