Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Reavaliando as memórias registradas em 1997, Joyce Moreno "remixa" e amplia seu livro de estreia e lança uma nova edição com novas ideias, histórias e impressões sobre uma carreira de mais de 50 anos reconhecida pelo mundo
Joyce Silveira Moreno completou em 31 de janeiro último seus 73 anos. A idade deveria ser um detalhe menor diante de uma obra que se pautou em qualidade, brasilidade e atemporalidade. Atemporalidade, esse é um ponto relevante. Duvido que esta cantora, compositora, instrumentista e arranjadora carioca tenha criado um plano de trabalho para criar um cancioneiro que desafiasse regras impostas pelo tempo, ainda mais num mercado volátil como o brasileiro. Ainda assim, ela alcançou tal feito.
A estrada perseguida por essa obra é bem mapeada no livro "Aquelas coisas todas", lançado no fim de 2020 pela Numa Editora. O livro é uma versão revista e ampliada de "Fotografei você na minha roleiflex", apanhado de histórias, memórias e impressões pessoais lançado em 1997. Entre uma e outra publicação, vieram mais elementos que mereciam ser registrados. "(Em 1997) comecei a escrever pequenos textos de memórias, e quando me dei conta, tinha um livro. Como contei na introdução, o livro teve seu momento, foi bem recebido, depois ficou esgotado. Quando surgiu o convite para uma nova edição 'remixada', acabei escrevendo toda a segunda parte, e o livro dobrou de tamanho", conta Joyce em entrevista cedida na época do lançamento.
Dividido em vários pequenos capítulos escritos com uma prosa fluida, despretensiosa e extremamente saborosa, "Aquelas coisas todas" enumera muitos encontros que Joyce teve ao longo de mais de 50 anos de carreira. Um deles, por exemplo, com Chico Buarque, quando uma revista criou para eles um relacionamento fictício. À época, ela era apelidada como "Chico Buarque de saias" e um repórter os colocou juntos num papo sobre música, depois titulado como "O novo amor de Chico Buarque". Tudo mentira criada para forçar Chico a revelar seu romance com Marieta Severo.
"Aquelas coisas todas" segue a trilha com nomes como Gerry Mulligan, Gonzaguinha, Henri Salvador, Tenório Junior e Elis Regina ("Tivemos uma amizade que durou até a partida dela. (Elis) não era uma pessoa fácil, mas as pessoas brilhantes nem sempre são fáceis mesmo. E ela era inteligente demais, engraçada, genial. Nós nos gostávamos muito"). Joyce também fala de suas posições políticas e critica um meio musical que tentou explorar sua beleza como um adendo à música. "Sempre fui ligada nessas figuras femininas libertárias, independentes, tipo (a romancista francesa) George Sand e a boneca Emília. Na verdade, fui criada por mãe solo, o que talvez tenha contribuído. Só sei que nunca quis ser musa, diva, cantora, essas coisas. Sempre quis desenvolver uma linguagem musical que fosse minha, na composição, no violão, nos arranjos e no uso da voz como instrumento".
E assim se fez a Joyce cantora e compositora cujo valor musical desperta curiosidade e admiração pelo mundo. Curiosamente, embora assuma que não é nostálgica, a compositora de "Mistérios" e "Essa Mulher" também passou em revista o álbum de estreia, de 1968. Para comemorar os 50 de carreira, ela regravou faixa a faixa, reencontrou os primeiros parceiros e reuniu tudo no disco "50". Confrontando aquela jovem artista de 20 anos com a atual, mais experiente e madura, sabe o que ela descobriu? Que o fogo segue queimando com o mesmo calor.
A atriz Débora Ingrid grava neste fim de semana, em Russas, seu primeiro trabalho solo. "Carta para Violeta" é uma homenagem à compositora e artista plástica chilena Violeta Parra. Com direção de Larissa Alves e trilha sonora de Clau Aniz, o espetáculo costura memórias e experiências pessoais da cearense com a história da compositora de "Gracias a la vida" e "Volver a los 17". Viabilizado pela Lei Aldir Blanc, o projeto será lançado no Youtube.
Membro fundador do Cidadão Instigado, Fernando Catatau está envolvido agora com seu primeiro trabalho solo. Uma amostra dessa experiência pode ser conferida neste domingo, 7, às 18 horas, pelo Youtube do Cineteatro São Luiz. O guitarrista estreia no projeto "Dentro do Som", apresentando influências que vão dos cantadores nordestinos ao rock psicodélico. O show conta ainda com Ayla Lemos (bateria) e Herlon Robson (teclados e sintetizadores).
Neste domingo, 7, o Pato Fu realiza, às 16 horas, a primeira live do projeto "Música de Brinquedo", transmitida pelo Youtube da Fundação Arcelor Mittal e pelo Facebook do programa Diversão em Cena. Criado em 2010, o projeto colocou a banda mineira tocando clássicos do rock nacional e internacional em instrumentos de plástico, muitos comprados em lojas de R$1,99. no repertório, Rita Lee, Queen, Raimundos e Jane e Herondy.
Reconhecido mundialmente como gênio depois de um longo período no ostracismo (quase foi frentista), Tom Zé tem sua vida recontada na biografia "O último tropicalista", lançado pelo Sesc SP. De Iarará, Bahia, para o mundo, quem narra é o jornalista e médico italiano, Pietro Scaramuzzo. O livro traz depoimentos de Rita Lee, Arnaldo Antunes e Emicida, e prefácio de David Byrne.
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