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Viver e reviver
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Viver e reviver

Em mais de 40 anos de carreira fonográfica, Zizi Possi encontrou o sucesso popular algumas vezes, mas também fugiu de fórmulas fáceis e de tudo aquilo que a afastasse do que dizia seu instinto. Foi assim que ela construiu uma digna história
Tipo Análise
Zizi Possi (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Zizi Possi

Tenho um amigo que admira quem compõe essas canções em que basta soar a primeira nota que multidões já saem cantando. De fato, um talento que merece aplausos e nunca faltou gente em busca da fórmula do sucesso. Mas, esse mesmo amigo tem dificuldade de entender que, para alguns artistas, a música vai além do ganha pão e da vaidade. Pode ser também uma forma de expressão de subjetividades, protesto e comunicação.

Entre uma e outra postura, sorte a de quem consegue se equilibrar nos dois pratos dessa balança. Entre exemplos, cito o nome de uma mulher que chegou ao Olimpo algumas vezes, deu uma olhada em quem estava lá, tomou uma e outra taça de vinho, mas desceu à sua realidade onde a música importa mais do que a pompa. Falo da paulistana Zizi Possi, cantora que, suspeito eu, esconde um violino na garganta.

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E foi esse violino que encantou Roberto Menescal, que a ouviu no fim dos anos 1970 e tratou se contratá-la para gravar na Philips. O primeiro disco, "Flor do Mal" (1978) atira para muitos lados, e quase nada foi escolha dela. O resultado foi um fracasso de vendas e um convite de Chico Buarque para gravar "Pedaço de mim", o que serviu como baliza de qualidade e instrumento de confiança.

Num mercado dominado por homens interessados em números e planilhas, foi difícil para ela se fazer ouvir quando falava de timbres e arranjos. Certa vez, teve que colocar dinheiro do próprio bolso para que seu disco saísse com encarte nomeando músicos e compositores. Até então, estes eram meros detalhes. Outra vez, Zizi foi repreendida pelo produtor na hora da gravação de "Jura secreta" por que "ousou" pedir para ver a partitura. Quem era ela pra vir se meter em trabalho de maestro?

Episódios assim foram ensinando Zizi Possi a lidar com o mercado fonográfico de uma forma bem particular. Tentando combinar a repercussão popular com as próprias convicções, a cada novo disco vinham "novas ousadias". Ela acumulou sucessos e se fez um nome respeitado no mercado, mas o sucesso popular mesmo veio em 1986, com o estouro de "Perigo", composição de Nico Rezende e Paulinho Lima.

Zizi gostou de ser reconhecida do topo à base da pirâmide social brasileira e repetiu a fórmula um ano depois. Aí veio o cansaço e "Estrebucha baby" era o inverso com seus timbres acústicos e novas ideias. Pra se ter ideia, ela levou três dias pra gravar um piano acústico por que esse instrumento já era considerado ultrapassado nos grandes estúdios. Da mesma forma, ela dispensou as cordas que iriam adoçar "Meu erro" para deixar só a secura da voz e do piano.

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As vendas fracassaram, mas dali nasceu uma nova cantora que, dois anos depois, estrearia o espetáculo "Sobre todas as coisas" e um novo ciclo de trabalhos intimistas aclamados por público e crítica. Esse ciclo daria lugar ao retumbante "Per amore", álbum de canções italianas que venderia surpreendentes 500 mil cópias. Hiperexposição, tema de novela, shows grandiosos e o Olimpo estava aos seus pés novamente. Aí ela desce à terra com "Puro prazer" (1999), trabalho de voz e piano dividido com o músico Jether Garotti Jr.

Nem sempre é fácil de entender as escolhas de Zizi se não com base no feeling e no desejo. Se duvida, ouça "O grande circo místico" e se esforce pra não se emocionar. E pode-se dizer que Zizi não alcançou o sucesso, foi o contrário. O sucesso alcançou Zizi. Hoje, 28 de março de 2021, Zizi Possi completa 65 anos e esta é só uma humilde e sincera homenagem.

Aparecida Silvino
Aparecida Silvino

A lista de Aparecida Silvino

"Eu sempre escuto a Zizi, pra me acalmar, pra pensar, pra aprender, pra me inspirar, pra ser feliz ouvindo mesmo. Até sem motivo! Pra mim uma das mais perfeitas intérpretes da música brasileira", adianta a cantora, compositora e professora de canto Aparecido Silvino. A convite da Coluna, ela indica as cinco preferidas interpretações de Zizi Possi. Confira.

1. O amor vem pra cada um (George Harrison/ V.: Beto Fae)
Do disco "Pra sempre e mais um dia" (1983)
"Amo essa música! Ela é suave, pra cima! Arranjo massa! Letra super e a Zizi arrasa"

2. Dedicado a você (Dominguinhos/ Nando Cordel)
Do disco "Estrebucha baby" (1989)
"Estou por ver música mais linda e mais bem interpretada que essa! Amo profundamente!"

3. Bom dia (Paulo Freire/ Swami Jr.)
Do disco "Valsa brasileira" (1993)
"Essa música me dá um negócio!. Aliás, esse disco inteiro, ouvi e reouvi milhares de vezes. Somente voz, piano e percussão".

4. Disparada (Geraldo Vandré/ Theo)
Do disco "Puro prazer" (1999)
"É uma aula de interpretação!"

5. Asa morena (Zé Caradípia)
Do disco "Asa morena" (1982)
"Não tem como não citar esta. É uma canção eterna e terna, e faz um bem danado".

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