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Mágico instante: a história de Lizzie Bravo
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Mágico instante: a história de Lizzie Bravo

Uma jovem estava nos estúdios Abbey Road, quando Paul McCartney pediu uma ajuda. Ela disse sim e tornou-se a única brasileira a gravar com os Beatles
Tipo Opinião
Lizzie Bravo na porta dos estúdios Abbey Road (Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Lizzie Bravo na porta dos estúdios Abbey Road

Certa vez, eu estava no campus da Unifor jogando conversa fora. Eis que avisto um vasto bigode caminhando ao lado do reitor da universidade. Era Belchior que passava a poucos centímetros de mim. "Belchior", cumprimentei". "Boa tarde", ele devolveu encerrando um diálogo, para mim, inesquecível.

Tem também a jornalista Claire Hoffman, que fazia vigília na porta da casa de Amy Winehouse em busca de um foto, uma fala, um escândalo qualquer. Certa vez, avançada a madrugada, a diva trágica apareceu na porta e a convidou pra entrar. O cenário desolador onde morava a cantora inglesa foi descrito em 2008, na revista Rolling Stone.

Lizzie Bravo com John Lennon(Foto: Acervo Pessoal)
Foto: Acervo Pessoal Lizzie Bravo com John Lennon

E se certos ídolos transformam-se em deuses, tamanha a fama, é preciso fazer vigília para encontrá-los. O empresário brasileiro Marco Antônio Mallagoli queria a todo custo encontrar John Lennon e se mandou para Nova York, com um exemplar do LP "Os reis do Iê, iê, iê!" - versão brasileira do disco "A hard day's night". O paulistano ficou dias esperando. Já quase desistindo, pediu ao porteiro do edifício Dakota que entregasse o LP ao famoso morador que faria aniversário naquele dia. No dia seguinte, uma nova tentativa e Mallagoli viu uma limusine estacionada e supôs que Lennon apareceria. E apareceu! Eles conversaram por 15 minutos, John adiantou planos de gravação, shows e revelou o desejo de conhecer o Carnaval carioca. O plano foi interrompido dias depois, quando Mark Chapman matou o compositor de "Imagine".

Estar no lugar certo, na hora certa, pode transformar a vida de uma pessoa. Foi o que aconteceu com Elizabeth Villas Boas Bravo, carioca que, como muitas, amava os Beatles. Aos 15 anos, ela pediu de presente uma viagem a Londres e ficou por lá. Conhecida por Lizzie, referência a "Dizzy miss Lizzy", rock que encerra o álbum "Help!" (1965), ela conseguiu mais do que encontrar os ídolos. Foi convidada pra cantar com eles.

Entre as pessoas que ficavam na porta dos estúdios Abbey Road, ela curtia a madrugada friorenta de Londres quando Paul McCartney veio à calçada e perguntou se alguém ali conseguiria sustentar um agudo. Ela disse que sim, entrou e participou da gravação de "Across the universe". Foram cerca de duas horas com John, Paul, Harrison, Ringo e Martin. Muitas e muitas fotos depois, ela tornou-se a única brasileira a gravar com os Beatles. Cantora, produtora, fotógrafa, a "esperança de óculos", como apelidou o marido Zé Rodrix, autor de "Casa no campo", Lizzie Bravo faleceu no último 4 de outubro.

Leia também | Confira mais histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

Caike Falcão com Sérgio Britto (Titãs)
Caike Falcão com Sérgio Britto (Titãs)

A lista de Caike Falcão

O cantor, compositor, guitarrista e produtor cearense Caike Falcão avisa que na sexta-feira, 29, às 21 horas, ele recebe Tico Santa Cruz para uma apresentação no Floresta Bar (av. Santos Dumont). Mestre de cerimônias de um projeto vitorioso da casa, Caike e sua banda já receberam muitos nomes nacionais para apresentações sempre lotadas e cheias de espontaneidade. A convite da coluna, o músico comenta cinco dos melhores shows que ele realizou no projeto. Confiram.

23/08/2019 – Tico Santa Cruz
Eu já havia tocado com o Tico em outras oportunidades, em 2017 e 2018. Em 2019, ele me mandou mensagem dizendo que estaria por Fortaleza, e me perguntou se conseguiríamos fechar algum show. Ofereci ao Floresta, e o nosso querido e saudoso Alexandre Soares aceitou de primeira. Foi nosso primeiro show com um artista nacional no Floresta. Até então, seria só um show, mas o resultado foi muito legal, e percebemos um caminho legal a ser percorrido. Logo começamos a prospectar outros artistas, e a imaginar um show por mês.

20/09/2019 – Rodrigo Santos
Segundo show. Diferente do show com o Tico, este trouxe uma carga um pouquinho maior: O cara tocou por anos com um dos maiores guitarristas brasileiros, Frejat, e tinha recém saído de uma turnê com Andy Summers (guitarrista do The Police). Me senti ligeiramente pressionado, embora ele tenha sido um gentleman durante todo o processo. Inclusive, tempos depois, já na pandemia, me ajudou com a divulgação do curso de guitarra que lancei.

18/10/2019 – Supla
Esse, com certeza, entra no meu Top 3. Para ser honesto, eu não lembrava do Supla, até que um amigo começou a tocar com ele. No primeiro contato, o Supla não estava muito à vontade para aceitar o convite, o que é bem normal. Ora, ele não me conhecia, não conhecia a banda, não sabia se seria legal. Mas acabou topando quando o Alê deu o aval. Fizemos um show com músicas dele, mas também tocamos Beatles, Ramones, Sex Pistols e Frank Sinatra. É um cara muito bom de se trabalhar.

02/11/2019 – Nasi
Foi o show mais diferente. Até então, a galera vinha fazendo um repertório de fácil digestão, mas o Nasi veio fazer um show de blues. Eu, como guitarrista, pirei. É minha praia. O Nasi é um dinossauro do rock, e toca com Edgar Scandurra, um pouco mais exigente, chegou a "reger" a banda para soar como ele queria.

08/02/2020 – Sérgio Britto
Esse, sem dúvidas, foi o meu preferido. Foi o mais visceral, mais rock'n'roll. O cara é um Titã, e eu não esperava menos que isso. De todos, foi o que eu senti uma pressão maior. O nível de exigência foi o mais alto, e fico feliz de ter respondido à altura. O Sérgio é um cara brilhante, e a história do rock brasileiro passa por ele. Ter sido titã por um dia foi maravilhoso.

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Amilton Godoy celebra 80 anos com novo disco e shows virtuais
Amilton Godoy celebra 80 anos com novo disco e shows virtuais

Notas musicais

Amilton Godoy celebra 80 anos com novo disco, lançado na quinta, 28, onde interpreta peças de Tom Jobim, Camargo Guarnieri e George Gershwin. Pianista que integrou o Zimbo Trio e acompanhou divas como Elis Regina, Elizeth Cardoso e Claudya, faz ainda série de shows gratuitos, dois deles (dias 06 e 26/11) transmitidos pelo seu canal do Youtube.

Um dos mais impactantes filmes nacionais, "Terra estrangeira" completa 25 anos. O drama dirigido por Walter Salles e Daniela Thomas faz um retrato do governo Collor e do confisco das poupanças. Somado ao visual em preto e branco, a voz de Gal Costa cantando "Vapor barato" aumenta a desolação de uma época sombria.

A gigantesca Alaíde Costa encerrou 2020 com o álbum de inéditas "O Anel", dividido com Zé Miguel Wisnik. Agora chega às lojas e plataformas "Antes e depois", disco com gravações inéditas dos anos 1970. As faixas incluem compositores como Guinga, Ivan Lins e Hermeto Pascoal. Aos 85 anos, eu próximo projeto, já em andamento, é um disco composto e produzido por Emicida.

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