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Retrospectiva 2021: Resenhas tardias 1
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Retrospectiva 2021: Resenhas tardias 1

Impossível resenhar tudo que sai no mercado da música. Então, segue uma série de trabalhos lançados em 2021 e que merecem um registro
Tipo Opinião
Capa do disco 'Índigo borboleta anil', da cantora Liniker (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Capa do disco 'Índigo borboleta anil', da cantora Liniker

Liniker - Índigo Borboleta Anil

Após cinco anos com os Caramelows, Liniker estreia sua inevitável carreira solo lançando "Índigo Borboleta Anil". Cantando com fluidez, compondo todas as faixas e dividindo a produção com Gustavo Ruiz e Júlio Fejuca, ela reafirma a independência artística refinando suas opções sonoras calcadas na pluralidade da black music.

Do soul ao pagode, o disco teve um investimento sonoro digno de uma grande estrela. Para se ter ideia, duas orquestras foram arregimentadas: a Rumpilezz, do saudoso Letieres Leite, e a Jazz Sinfônica. E ainda participações especiais de Tulipa, Mahmundi, Tássia Reis e Milton Nascimento.

Liniker não se acanha e entrega 11 canções que seduzem pela liberdade criativa. Tem os versos improváveis de "Clau"; o belíssimo falsete de "Psiu"; o ritmo solar de "Antes de tudo"; o desfecho sinfônico e onírico de "Lua de fé". Contando ainda com um incrível samba-exaltação ("Vitoriosa") e uma faixa-bônus incluída de última hora ("Mel"), "Índigo Borboleta Anil" é um passo adiante na história de Liniker e uma prova de que sempre vai valer esperar suas próximas canções.

Capa do disco 'Silk Sonic', de Bruno Mars e Anderson Paak
Capa do disco 'Silk Sonic', de Bruno Mars e Anderson Paak

Silk Sonic - An Evening with Silk Sonic

Desde que lançaram o primeiro single em parceria, Bruno Mars e Anderson .Paak deixaram claras as referências: soul, funk, r&b, pop, principalmente aquele praticado na virada dos anos 1970 pros 80. Não por acaso, nomes como Earth, Wind & Fire, Housemartins, Stevie Wonder, Stylistics, New Edition e até o fake Milli Vanilli parecem trocar posições entre as nove faixas do álbum que, enfim, lançaram este ano. Sob o pseudônimo de Silk Sonic, Mars e .Paak se divertem com agudos, falsetes, grooves, timbres vintages, batidas eletrônicas e tudo o que segue dominando as madrugadas nas rádios adultas. Se "Fly with me" parece trilha de filme do Eddie Murphy, "After last night" é o que se chamava de "música pra dar uns quebra". "Skate" é uma delícia!

Capa do disco 'Love for sale', de Lady Gaga e Tony Bennett
Capa do disco 'Love for sale', de Lady Gaga e Tony Bennett

Tony Bennett e Lady Gaga - Love for sale

Não há novidade ou surpresa em ver um artista gravando canções de Cole Porter. Mas quando esse artista é Tony Bennett, é preciso dar atenção. Em seu segundo trabalho ao lado da estrela pop Lady Gaga, o veterano de 85 anos pegou 12 faixas do compositor americano e deu seu banho de classe. "It's de-lovely", "Night and Day", "Let's do it", "I've got you under my skin" e outros clássicos que já ganharam uma infinidade de releituras, ganham mais uma releitura que seduzem pela afinidade dos intérpretes. Gaga, com um timbre que evoca as texturas de Ella Fitzgerald, é protagonista e ao mesmo tempo reverencia Bennett, que anunciou sua aposentadoria após esse trabalho. Mas antes, eles lançam um Acústico MTV dessa parceria. Sim, por que nunca vai ser demais ouvir a elegância de Tony Bennett, a máquina criativa de Lady Gaga e as incríveis canções de Cole Porter.

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Capa do disco 'Um gosto de sol', da cantora Céu
Capa do disco 'Um gosto de sol', da cantora Céu

Céu - "Um gosto de sol" e "Acústico"

16 anos e seis discos depois, Céu tirou o ano de 2021 para revisitar sua história musical. Foram dois discos para reafirmar sua personalidade como intérprete. "Acústico" pega canções de sua autoria vestidas apenas com o violão de Lucas Martins. Afeita aos loops e programações, Céu surpreende ao mostrar que sua obra resiste à ausência de toda essa capa. Macio, suave e íntimo, "Acústico" revela uma compositora afiada, dona de versos fora da curva, e uma intérprete sedutora.

Já "Um gosto de sol" é primeiro trabalho de intérprete de Céu e traz todos os clichês desse formato (de se mostrar eclético até as inevitáveis comparações). Primeiro single do álbum, "Chega Mais" (Rita/ Roberto) é malemolente como só a Céu sabe ser, mas não entrega o que é o disco. É ao samba que abre suas asas. "I don't know" dos Beastie Boys ganhou aquele sincopado que nos ensinou João Gilberto, autor de "Bim bom", que se destaca com a bateria de Pupillo e o violão de Andreas Kisser. Do novo suingue de "Paradise" (Sade) até as mágoas de Alcione ("Pode esperar"), passando por um desnecessário Morris Albert ("Feelings"), "Um gosto de sol" é como muitos discos desse modelo: curioso, mas que pouco acrescenta.

Gal Costa no Festival Elos
Gal Costa no Festival Elos

Retomada de shows

O tempo das lives passou rápido e a expectativa agora é pela volta dos shows presenciais. Com uma retomada ainda cuidadosa e cheia de regras, alguns shows já marcaram 2021. Por aqui, o primeiro evento teste foi uma edição especial, em setembro, do Festival de Jazz e Blues de Guaramiranga. Máscaras, nada de vender bebida ou comida, e um público diminuto foram marcas do evento que teve atrações como Marcos Lessa e Idilva Germano.

Claro que o clima era bem diferente dos tempos normais, mas ainda foi possível ver a grandiosidade do encontro de Nonato Lima, Adelson Viana e Zé do Norte. Os três sanfoneiros passearam por obras autorais e homenagens a Luiz Gonzaga e Piazzolla, e fizeram um grande espetáculo cheio de simpatia e calor. Ao contrário do que fez Gal Costa no Festival Elos, em dezembro. Num evento marcado por reveses, os ingressos disputado a tapa e a expectativa era grande. No entanto, a baiana, chegou, cantou, mas não fez muita questão de demonstrar simpatia. O repertório - com peso maior na obra de Milton Nascimento - só cresceu no fim, quando ela interpretou "Brasil", de Cazuza. "Eu tento tirar essa música do repertório, mas o Brasil não deixa", explicou Gal.

Bem mais disposta a reencontrar o público, Mariana Aydar deu um banho de alegria e entrega na apresentação do show "Veia Nordestina". Programado para acontecer em 2020 no São Luiz, o trabalho que resgata as raízes forrozeiras da paulistana foi adiado por causa da pandemia. Um ano depois, Mariana estava azeitada pra retomar esse trabalho. De "Morango do Nordeste" a "Frevo Mulher", passando pelo repertório inédito, ela costurou muitos forrós num roteiro construído com maestria. Tradição e modernidade, Mestre Lua e Marília Mendonça, tudo cabia no sorriso da cantora que não perdeu a chance de mandar muitos "Fora Bolsonaro" e muitos recados para a cena ainda tão machista que circunda o meio forrozeiro. O recado de Mariana Aydar foi dado e muito bem dado.

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