Marisa Monte volta aos palcos com o show "Portas", que chega a Fortaleza
Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Marisa Monte volta aos palcos com o show "Portas", que chega a Fortaleza
Depois de dois anos longe dos palcos, Marisa Monte chega hoje a Fortaleza com a turnê "Portas", em que revista toda a carreira incluindo seu mais recente disco
São mais de 30 anos de carreira, 14 discos e mais uma infinidade de projetos, parcerias, turnês e produções. Mas nunca Marisa Monte ficou tanto tempo fora do palco do que nos últimos dois anos. Forçada pela pandemia, ela ficou em casa tendo que medir o que era possível fazer de trabalho. Ainda assim, foi nesse tempo que foram gerados os três EPs com gravações retiradas dos seus DVDs e ainda "Portas", seu mais recente álbum de inéditas.
Lançado em julho de 2021, "Portas" traz parcerias com Marcelo Camelo, Seu Jorge, Dadi, Chico Brown e Nando Reis, além dos amigos tribalistas Carlinhos Brown e Arnaldo Antunes. Esse repertório é que puxa a turnê que passa hoje, 23, por Fortaleza. Por email, Marisa Monte falou sobre esse retorno aos palcos e a experiência, até então inédita, de produzir um álbum remotamente - ela no Rio de Janeiro e músicos pelo mundo todo. Ela fala ainda sobre as recentes manifestações políticas em seus shows, mercado de música digital e seus 55 anos, que chegam em breve. Confiram.
O POVO - Seu último disco e a recente turnê nasceram dentro desse contexto de pandemia, trabalho remoto e encontros virtuais. Levando em conta que a arte também se faz desse calor dos encontros, o que você achou dessa experiência de "encontros à distância"? Marisa Monte - Eu queria fazer um álbum através dos encontros, ao vivo no estúdio, todo mundo tocando simultaneamente se olhando com uma dinâmica humana. Na medida que os encontros foram ficando difíceis, tivemos que refazer os planos e partir para um formato híbrido, meio presencial meio remoto. Pra minha surpresa, a tecnologia nos possibilitou experimentar formas de relacionamento que não teríamos tentado se não fosse pela necessidade extrema. Nesse sentido, a conectividade digital do mundo contemporâneo foi destaque na pandemia. "Portas" acabou sendo um álbum que fiz com mais colaborações internacionais, em mais cidades diferentes, sem sair do Rio e sem perder o calor nem o espírito coletivo.
O POVO - Dez anos separam "Portas" de "O que você quer saber de verdade", seu disco anterior. Embora você tenha lançado outros projetos durante esse período, o que a fez perceber que era hora de um novo disco solo? Marisa Monte - Quando terminou a última turnê, fiz um disco ao vivo e um DVD. Na sequência fiz uma série de projetos colaborativos com diversos artistas interessantes, num diálogo que eu gosto muito, mas que durante as minhas turnês eu não consigo disponibilizar tempo para fazer. Fiz o projeto "Samba Noize" no BAM, em Nova York, uma turnê nacional com Paulinho da Viola, um álbum inédito, uma turnê internacional e um disco ao vivo com os Tribalistas. Eu já tinha um repertório pronto e estava pronta para entrar no estúdio quando veio a pandemia. Depois dessa fase de colaborações sabia que era hora de voltar a mim, e estava com saudades da minha expressão solo.
O POVO - Seu cuidado aos detalhes de um disco e de um show já são sabidos. O que te dá mais trabalho? Produzir o álbum ou pensar no espetáculo? Marisa Monte - São trabalhos diferentes. Gosto muito do estúdio e do palco, não saberia dizer o que eu prefiro. O estúdio é um ambiente íntimo, com pouca gente, e o palco é o resultado da expressão mais coletiva da música, que envolve o público. O show não existe sem o público. Basicamente o input criativo precisa vir de mim, sou eu que respondo em última instância por todas as decisões artísticas, mas tenho uma equipe incrível que trabalha comigo e desenvolve cada detalhe. São horas e horas de trabalho de muita gente, os dois são resultado da soma de tempo da vida de muitas pessoas.
O POVO - Tendo mais de 30 anos de carreira e uma trajetória já estabelecida, o que mais te move a criar, compor, fazer música atualmente? Marisa Monte - A vida, as pessoas, a própria música, o desejo de promover um diálogo poético e criativo com o mundo ao meu redor.
O POVO - Você faz parte de um time de artistas que não aderiu ao formato de singles. O que você acha desse modelo de lançar músicas individualmente, independente de um álbum? Marisa Monte - No mundo digital, estamos livres do formato herdado do físico, de lançar álbuns etc. Já lancei single, sim, acho muito interessante que a gente possa decidir, caso a caso, o formato de lançamento das músicas. "Portas" tem músicas que se relacionam entre si seja pelo momento, pelo repertório, pelo diálogo interno das canções, pelo grupo de trabalho, mas às vezes um single também faz sentido. As regras de mercado são mais fluidas e existe mais liberdade em relação a formato no mundo digital e isso amplia as possibilidades, o que é sempre bom.
O POVO - Em mais de 30 anos de carreira, já percebo um "jeito Marisa Monte" de fazer música, misturando referências brasileiras com sotaque pop e muito cuidado nos detalhes. Em que medida você tenta subverter essa fórmula para não se repetir? Marisa Monte - Na verdade procuro reforçar o jeito "Marisa" porque não existe jeito certo, mas existe um jeito próprio, estou sempre buscando o meu. Minha forma de fazer música, o resultado das minhas referências das coisas que eu escuto, vejo e leio e que eu vou descobrindo vão nutrindo a minha criatividade ao longo dos anos em constante mutação. A curiosidade sempre existe e move.
O POVO - O período da pandemia nos fez conviver com uma série de situações incômodas, como o uso de máscaras, questões políticas, medo da morte, necessidade de interromper projetos e ficar em casa. Pessoalmente, como você enfrentou esse período? O que fez para manter a sanidade? Marisa Monte - Foi um momento difícil para todos, para mim não foi diferente, uma fase de muitas incertezas, medo, insegurança. Por outro lado, como eu viajo muito e sempre, foi um privilégio poder estar em casa com minha família por mais tempo. Acho que foi um período transformador que marcou todos nós no planeta. Pessoas de todas as idades e profissões jamais se esquecerão dessa experiência.
O POVO - Ao mesmo tempo em que vemos um desmonte na política cultural brasileira, foi essa cultura que deu algum alívio no período de pandemia com shows e outros eventos virtuais. Que saldo o Brasil tira dessa experiência? Acha que a arte e os artistas saem mais fortes? Marisa Monte - Infelizmente, a pandemia impactou em cheio o setor cultural. Muito da nossa atividade envolve aglomeração e tivemos que nos manter distantes do público fisicamente. Apesar da falta de visão do atual governo em relação ao potencial material e imaterial que a cultura traz, as pessoas precisam abrir portas internas para a imaginação e para a criatividade onde a gente pode sonhar. A música é remédio. Arte é necessidade e transcendência nos momentos da realidade mais dura.
O POVO - As manifestações políticas têm acontecido nos seus shows e você também tem se posicionado no palco e fora dele. Com as eleições chegando e as opções que estão se colocando para o futuro do País, qual sua expectativa para o próximo ano? Marisa Monte - Acho normal, e muito saudável que o povo possa se manifestar coletivamente e amplificar seus sentimentos. Um exercício cívico, de liberdade, de potência e de democracia. Adoro.
O POVO - Ao mesmo tempo em que a Anitta alcançou o primeiro lugar em audições no Spotify, surgiu uma campanha questionando esses números e esse sucesso internacional. Como você tem visto esse episódio e o que ele revela sobre o mercado da música? Marisa Monte - Essa é uma pergunta muito complexa que eu não sei como te responder, quem pode oferecer dados sobre esse assunto são os próprios serviços de streaming. Anitta é uma artista digital que tem uma base forte de fãs nas redes, faz parte da forma como ela constrói a carreira dela.
O POVO - "Portas" é seu primeiro disco a não ganhar - até agora - edição em CD e a versão em LP foi lançada somente no exterior. Mesmo com a base de fãs que você construiu ao longo da carreira, você não acredita valeria a pena lança-lo em formato físico? E quando o LP "Portas" vai chegar ao Brasil? Marisa Monte - Em alguns países foi lançado o CD físico. Fizemos uma pequena tiragem que está sendo vendida nos shows. Quanto ao LP, ainda não saiu em nenhum país, mas estamos planejando o lançamento junto com toda a discografia em breve.
O POVO - No dia 1º de julho você completa 55 anos. Se um ser todo poderoso como o "Gênio da Lâmpada" quiser realizar seu maior desejo, o que você pediria a ele nesta data? Marisa Monte - Gostaria de pedir um país mais amoroso, mais justo, menos desigual e mais colaborativo. Gostaria de um mundo sem guerras e mais cuidadoso com o meio ambiente, e maior preocupação com o legado para as gerações futuras. Pra mim não quero pedir nada, só agradecer.
Marisa Monte - Turnê Portas
Quando: sábado, 23, às 22 horas Onde: Centro de Eventos do Ceará (Av. Washington Soares, 999 - Edson Queiroz) Quanto: R$240 (plateia - inteira) e R$400 (mesa, por pessoa). À venda no site Eventim e na loja Yuri Costa (Iguatemi e RioMar)
Repertório do Show
- Pelo Tempo Que Durar (Marisa Monte/ Adriana Calcanhotto) - Portas (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Dadi) - Quanto Tempo (Marisa Monte/ Pedro Baby/ Pretinho Da Serrinha) - Maria De Verdade (Carlinhos Brown) - Vilarejo (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown/ Pedro Baby) - A Língua Dos Animais (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Dadi) - Infinito Particular (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown) - Praia Vermelha (Marisa Monte/ Nando Reis) - Ainda Bem (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes) - Beija Eu (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Arto Lindsay) - Totalmente Seu (Marisa Monte/ Lucio Silva/ Lucas Silva) - Ainda Lembro (Marisa Monte/Nando Reis) - O Que Me Importa (Cury) - Preciso Me Encontrar (Candeia) - Vento Sardo (Marisa Monte/ Jorge Drexler) - A Sua (Marisa Monte) - Déjà Vu (Marisa Monte/ Chico Brown) - Depois (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown) - Calma (Marisa Monte/ Chico Brown) - Eu Sei (Marisa Monte) - Velha Infância (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown/ Pedro Baby/ Davi Moraes) - Seo Zé (Marisa Monte/ Carlinhos Brown/ Nando Reis) - Elegante Amanhecer (Marisa Monte/ Pretinho Da Serrinha) - Lenda Das Sereias (Vicente Mattos/ Dinoel/ Arlindo Velloso) - Você Não Liga (Marisa Monte/ Marcelo Camelo) - Na Estrada (Marisa Monte/ Carlinhos Brown/ Nando Reis) - Não Vá Embora (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes) - Magamalabares (Carlinhos Brown) - Comida (Arnaldo Antunes/ Marcelo Frommer/ Sergio Britto) - Pra Melhorar (Marisa Monte/ Seu Jorge/ Flor) - Já Sei Namorar (Marisa Monte/ Arnaldo Antunes/ Carlinhos Brown) - Bem Que Se Quis (Pino Daniele/ Tradução: Nelson Motta)
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