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Ednardo e Sarau Vox 72: Só sorrisos me respondem
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Ednardo e Sarau Vox 72: Só sorrisos me respondem

Apresentando o recente "Sarau Vox 72", Ednardo faz apresentação pautada na memória, na força e na resistência de seu repertório
Tipo Opinião
Cantor Ednardo  (Foto: Gerardo Barbosa/ Acervo Pessoal)
Foto: Gerardo Barbosa/ Acervo Pessoal Cantor Ednardo

Era 1972, quando o cantor e compositor Ednardo, de malas prontas para ir morar no Sudeste, decidiu passar pelo Edifício Parente e gravar informalmente algumas canções que faziam parte do repertório da turma que viria a ser conhecida como "Pessoal do Ceará". A gravação aconteceu no escritório da Vox, antiga loja de discos de Fortaleza e o responsável pela gravação foi Gerardo Barbosa, que guardou essa bendita fita K7 por 50 anos, protegendo-a de eventuais problemas de pressão e temperatura.

Esse registro raro gerou o recente álbum "Sarau Vox 72", lançado pela Discobertas com a íntegra da apresentação que antecede o sucesso nacional do compositor de "Pavão Misterioso". Antecede, pra ser mais exato, o reconhecimento de toda a turma, incluindo aí Fagner, Belchior, Ricardo Bezerra e Rodger Rogério. Mas eles também estão presentes naquela fitinha, através de composições como "Cavalo Ferro", "Hora do Almoço", "Mucuripe" e "Curta metragem".

Esperado com ansiedade, o lançamento do "Sarau Vox 72" aconteceu no sábado, 30 de abril, no Cantinho do Frango. O lugar não poderia ser outro, uma vez que é pra lá que corre a autêntica música cearense. Sim, aquela casa já recebeu apresentações memoráveis e, com frequência, lembra que nossa música tem uma história a ser contada. E neste sábado, em especial, Ednardo foi lá fazer história.

Visualmente, tudo era muito simples: no palco, Ednardo e o violonista Carlinhos Patriolino. Mas tinha um algo mais, um sentimento denso, quase palpável, um orgulho meio bairrista de poder confraternizar aquele espaço com o homem que colocou melodias nas longarinas, na ponte velha, no farol do Mucuripe, na Padaria Espiritual, nas dunas brancas da Praia de Iracema. Ednardo ia cantando, lembrando amigos e contando histórias daquelas canções que resistiram bem ao tempo, mais até do que a cidade que as inspirou.

Sim, a Fortaleza cantada por Ednardo é mais bonita do que a que se vê hoje nas ruas, abandonando prédios e patrimônios históricos, em nome de alguma modernidade importada. Talvez até por isso, aquela voz prejudicada pelo tempo e por uma cirurgia recente soava ainda mais impactante, dilacerante, feito faca cortando a carne de cada um ali na plateia.

O lançamento do "Sarau Vox 72" aconteceu numa semana triste, marcada pelas despedidas do violonista Tarcísio Sardinha e do baterista Luizinho Duarte. O tempo do Brasil também não é de delicadeza, com ameaças à democracia e agressões partindo de muitos lados. Mas, de Ednardo partiu um canto de resistência, capaz de varar porteiras, abrir cancelas. Numa apresentação curta e sem bis, Ednardo deu o alívio necessário para destravar alguns nós presos na garganta.

Um papo com Gerardo Barbosa

A Vox

Meu pai trabalhava na loja do seu João Dummar. Quando apareceram os primeiros rádios pra vender, não tinha rádio pra tocar e o João Dummar abriu a Ceará Rádio Clube. O meu pai foi pra lá e, em 1955, saiu e foi pra Vox. Eu era estudante. A loja era no térreo e o escritório tinha ar condicionado, onde ficava melhor de gravar sem barulho.

Ednardo

A gente se conhecia da rua, se encontrava nos lugares. Ele sempre mostrava as músicas que estava fazendo. Quando ele disse que iria pra São Paulo, sugeri a gravação. Na época eu não sabia, mas no ano seguinte fui também pra SP e fiz as fotos do disco "Pavão Mysteriozo".

A fita K7

A gravação foi em maio e a fita ficou comigo. Eu fiz uma gravação parecida com essa com o Petrúcio Maia, mas essa não ficou comigo. Há uns cinco ou oito anos, levei num estúdio e pedi pra converter (a fita) em MP3. Quando veio o projeto do Marcelo Fróes (de fazer o CD), foi tirado o registro da fita novamente. Eu ainda achei uma capa de fita cassete escrita "Ednardo e Tânia Cabral", mas sem a fita. Estou em contato com ela (Tânia) pra ver se encontro.

O dia da gravação

Eu encomendei na casa da minha mãe uns caranguejos, levei umas cervejas. Estávamos lá eu, a minha irmã e a namorada do Ednardo. Eu tinha uma certa preocupação com a gravação em si. Fiquei curtindo ele tocar, mas ao mesmo tempo tinha um filme lançado recentemente que me permitia fotografar a noite. Então, eu ficava gravando, batendo foto e tomando cerveja. Foi tudo gravado direto. Parou, virou a fita e coube as 17 musicas.

Notas musicais

Parceiros desde os primeiros anos de carreira, Zélia Duncan e Paulinho Moska estreiam esta semana, em São Paulo, a turnê "Um par ímpar". No show, eles misturam seus repertórios e apresentam duas canções inéditas
da parceria.

Falecido em outubro de 2021, o maestro Letieres Leite deixou quase pronto um trabalho dedicado à obra de Moacir Santos. "Moacir de Todos os Santos" será lançado em LP pela Rocinante, com 7 faixas relidas pela orquestra Rumpilezz. A clássica "Nanã" foi lançada esta semana como segundo single do projeto, trazendo a voz de Caetano Veloso.

Anunciado o fim do trio As baias e a Cozinha Mineira, a cantora Assucena lança seu novo single solo. Após uma canção autoral, ela agora apresenta uma releitura de "Ela", canção de Aldir Blanc e César Costa Filho gravada em 1971 por Elis Regina.

Foto do Marcos Sampaio

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