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Danilo Caymmi, cheiro verde e os temperos de Minas
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Danilo Caymmi, cheiro verde e os temperos de Minas

Filtrada pelo Clube da Esquina, a música mineira foi referência e refúgio pra muitos artistas. Entre eles Danilo Caymmi, em seu disco de estreia
Tipo Opinião
Capa do disco 'Cheiro Verde', de Danilo Caymmi (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Capa do disco 'Cheiro Verde', de Danilo Caymmi

Com aposentadoria decretada após a última turnê, Milton Nascimento deixa um legado artístico inconteste. Desenhando as paisagens mineiras em suas melodias, ele criou uma obra ao mesmo tempo sacra e terrena que conquistou a admiração do mundo. É o que prova uma história já muito repetida: quando Milton lançou o primeiro disco no exterior, parte da crítica o considerava jazz, outros achavam que o rótulo era pouco. Ao participar de um festival europeu, o cartaz trazia o nome das atrações com o estilo que iriam executar. Estava lá "Miles Davis - jazz; Milton Nascimento - Milton". Só seu nome define aquela mistura de pop, erudito, jazz, gospel...

Como uma mina de inspiração, o carioca de alma mineira saiu influenciando muita gente, a começar pela turma do Clube da Esquina, claro. E mais gente se chegou a essa esquina. A baiana Simone já confessou que se vê mais na música de Milton do que nos sons de sua terra. Sua conterrânea Gal Costa dedicou a última turnê à obra de Milton. A paraense Fafá de Belém trouxe esse som pra perto logo nos primeiros discos, além de participar do musical "Maria Maria" (1976). E nem é preciso falar da gaúcha Elis Regina. Num período de namorico com Guilherme Arantes, ela se mandou para Minas Gerais, buscou abrigo na casa dos pais de Lô Borges e, de quebra, participou do disco em família "Os Borges" (1980). Entre os rascunhos deixados pela Pimentinha, havia uma lista de músicas que começava com "Tudo que você podia ser", abertura do clássico "Clube da Esquina" (1972). Seria um novo disco?

Outro nome que se abrigou na música mineira foi o carioca Danilo Caymmi. Ele já tinha uma carreira como instrumentista de palcos e estúdios, e havia assinado um projeto coletivo com Beto Guedes, Toninho Horta (mineiros) e Novelli (pernambucano). Mas a estreia solo só veio em 1977, com o doce "Cheiro Verde". A mineirice do álbum fica evidente nos ritmos brasileiros com arranjos jazzísticos, bem como na serenidade que se espalha pelos 30 minutos do disco. Os vocais de Milton na faixa "Lua do meio-dia" só confirmam o que está nas entrelinhas.

"Cheiro Verde" foi lançado pelo selo independente "Ana Terra Produções", de sua então esposa. A poetisa, parceira de Angela Rô Rô em "Amor meu grande amor", divide com o marido cinco das 10 composições do álbum. Entre elas, o samba "Pé sem cabeça", gravado por Elis Regina no disco "Essa mulher" (1979). Além de Ana Terra, dois compositores muito ligados ao Clube da Esquina se fazem presentes: o mineiro Nelson Ângelo e o niteroiense Ronaldo Bastos.

Logo na primeira frase do disco, Danilo Caymmi entrega o jogo: "Eu vou por aí levando um coração mineiro". E ele faz isso com uma voz curiosamente aguda, que marca todo o disco. Os tons são altos e até inadequados pro seu timbre grave, mas também causam um estranhamento confortável. Por exemplo, na cantiga de ninar "Juliana", feita para a filha que tinha dois anos na época. Em "Codajás", que leva o nome de uma cidade do Amazonas, esse timbre chega a lembrar o da irmã Nana.

Cercado por mestres do instrumental brasileiro (Airto Moreira, Cristovão Bastos, Pascoal Meirelles, entre outros), Danilo transporta o ouvinte para longe das capitais. Falando em lavadeiras, estradas com porteiras, cor de barro, cheiro de mato, olhos d'água, pássaros, ele cria em "Cheiro verde" um ambiente idílico, meditativo, com muito espaço, beleza e sem pressa. Sendo filho de mineira, Danilo Caymmi traz essa herança no sangue. De Milton ele herdou uma parte da arte, muito bem representada em um disco de rara beleza.

Artur Araújo, músico cearense radicado em Minas Gerais
Artur Araújo, músico cearense radicado em Minas Gerais

A lista de Artur Araújo

Jennifer Souza - Pacífica Pedra Branca (2021)

Segundo trabalho solo da compositora mineira. Vale destacar a sutileza da assinatura vocal de Jennifer. A atmosfera bucólica e sentimental remete à uma tarde nublada e fria.

Marina Sena - De Primeira (2021)

Me fascina como seu jeito carismático e autêntico jeito de cantar dialoga com sua sensualidade e presença de palco.

Rafael Martini - Martelo (2022)

Arranjador, pianista, compositor, com uma carreira de enorme prestígio no Japão. Em seu quarto trabalho solo apresenta 5 faixas que são um convite a experiências sensoriais à medida que o som vai se tornando surpreendente.

Clayton Prosperi - Cativo (2022)

Clayton mostra que sua veia musical tem elementos que refinam sua maneira de cantar e tocar. Isso provavelmente acontece pela facilidade em transitar por influências eruditas, do rock progressivo, jazz e Clube da Esquina.

FBC e Vhoor - Baile (2021)

Projeto do rapper FBC com o DJ/beatmaker VHoor abordando temais atuais comm a sonoridade do funk melódico. A narrativa é sequencial e parte do ponto de vista do personagem central, Pagode: um pai de família, morador da favela, trabalhador, que frequenta o baile da UFFÉ. 

Luedji Luna, cantora e compositora baiana
Luedji Luna, cantora e compositora baiana

Notas musicais

Versão completa

Dois anos depois do original, Luedji Luna lança o "lado B" do álbum "Bom mesmo é estar debaixo d'água". Disponível nas plataformas digitais desde a sexta, 25, a continuação traz 10 faixas inéditas que contam com participações de Lin da Quebrada, Mayra Andrade e outros.

Estrela back

A cantora Izzy Gordon está lançando seu quinto disco em 30 anos de carreira. "O dia depois do fim do mundo" vem puxado pelo single "Neguinha sim", que fala sobre o orgulho da pele preta e do cabelo crespo. Neta de Dolores Duran, Izzy tem um belo trabalho voltado para o jazz, soul e outros sotaques da black music.

Instrumental

Para celebrar os 80 anos de Paulinho da Viola, completados no último 12 de novembro, duas referências da música brasileira se encontram para um tributo. "Choro Negro" reúne o piano de Cristóvão Bastos e os sopros de Mauro Senise em versões instrumentais para 9 composições do sambista. A décima faixa é uma composição de Cristovão em homenagem ao portelense mais ilustre.

Foto do Marcos Sampaio

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