Marina Sena, Gal Costa e os dilemas da nova e da velha MPB
Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Num dos episódios mais famosos da música brasileira, Cazuza abandona o Barão Vermelho quando viu que seu talento não cabia mais numa banda de rock. Ele nunca deixou de ser rock, mas também queria ser samba-canção, pop e até propôs aos parceiros regravar um samba de Cartola. “Que heresia”, pensou a banda torcendo o nariz. Teimoso feito criança birrenta, Cazuza trocou a banda pela carreira solo, compôs uma pérola radiofônica da bossa nova (“Faz parte do meu show”) e, sim, regravou não só Cartola, como Nelson Cavaquinho também.
Frejat foi um dos que se opôs à proposta de trazer MPB para o Barão. Mas a vida anda pra frente e, anos depois, o guitarrista, vocalista e compositor do Barão gravou versões para sucessos de titulares como Luiz Melodia e Caetano Veloso. O próprio Frejat já gravou com Leila Pinheiro, Simone, Boca Livre e outros baluartes da música popular. Em comum, Cazuza, Barão, Frejat e grande parte da cena roqueira dos anos 1980 têm uma conexão com a geração de compositores que se formou nos festivais de música e até as que vieram antes. Pra se ter ideia, o falastrão Lobão já gravou canções de Gilberto Gil e Geraldo Vandré.
Na virada do milênio, jovens artistas chegaram com uma atitude afrontosa a tudo que estava posto. Chega dos velhos CDs! Vamos disponibilizar tudo de graça na internet. Nada de gravadoras, produtores, bandas de estúdio! Vamos fazer tudo em casa, autoproduzido. Com o acesso aos meios de produção, surgiram cenários que antes viviam à margem do grande mercado, como o rap e o funk. Mas, se por um lado surgiram novos ídolos trazendo novos discursos, por outro o padrão de qualidade imposto pela geração MPB não mudou. Ainda hoje, cantar bem ainda é cantar como Bethânia, Elis, Milton... Não por acaso, Marina Sena virou alvo quando decidiu homenagear Gal Costa em seu show do The Town. Sem o mesmo aparato vocal da baiana, a mineira de 26 anos derrapou bastante na afinação, mas manteve a emoção.
Se esse padrão de qualidade não fosse importante, saber se “Chico”, novo megahit de Luisa Sonza, é ou não uma bossa nova seria só um debate estéril para alimentar as redes. Mas, mesmo com o sucesso, a grana e a onipresença nos meios de comunicação, ser aceito no círculo da MPB ainda é cult, é estar num patamar mais alto. “Estamos criando uma nova geração de novos grandes nomes da música brasileira, mas o que vocês conseguem é só diminuir e se recusam a enxergar o que já está escancarado na cara de vocês. A música brasileira está viva, está diversificada, está com referência, está foda, vocês não admitirem isso, por enquanto, não vai impedir todos nós de fazermos história”, resumiu a loira num tuite.
Não sei para quem ela estava falando. O algoritmo, por exemplo, já percebeu a força comercial da geração atual, tanto que a geração MPB não figura nem no Top50 das plataformas de streaming. Quem programa grandes festivais também sacou essa força e, de Zepelim a Rock In Rio, o lance é misturar tudo e tentar agradar o máximo de públicos possível, de preferência equilibrando velhos (com respeito e carga histórica) e novos (cheios de seguidores) ídolos. É a tal antropofagia que desaguou no tropicalismo tão alardeado por Caetano. Assim, você sai de casa pra ver João Gomes e se depara com Ney Matogrosso. Ou vai ver o Leo Santana e é brindado com Criolo. Vai ver Gilsons e encara um Ferrugem. Tem pra todos. Quanto a Marina Sena ser a nova Gal, Sonza a nova Rita Lee e Jão o novo Cazuza... Bem, francamente, não precisamos de novas versões desses ídolos. Eles me parecem bem vivos e novos nomes podem se desobrigar de ocupar lugares vazios.
A lista de Natércia Melo
Rihanna - Rock In Rio 2015
Minha estreia no festival. Assistir de perto a uma diva pop como Rihanna foi a realização de um sonho. Sua voz hipnotizante e sua singularidade como artista me fazem ser sua fã. Sinto-me privilegiada até hoje por esse show, especialmente porque esse foi seu último no Brasil.
Noel Gallagher - Lolla 2016
Como um dos headliners desta edição, Noel Gallagher entregou um show memorável. Sou admiradora de seu trabalho solo, independente do Oasis, e ele conseguiu equilibrar habilmente sua discografia solo com os clássicos da sua ex, proporcionando aos fãs uma experiência nostálgica única.
Tame Impala - Lolla 2016
A psicodelia do Tame Impala se encaixou perfeitamente no ambiente do festival. Os álbuns "Currents" e "Lonerism" são meus favoritos, e o show ao vivo conseguiu capturar a essência dessas obras de forma espetacular. A experiência transcendental que a banda ofereceu no palco é inesquecível.
Panic! At The Disco - Rock In Rio 2019
Aqui está uma confissão: eu não era fã da banda e nem planejava assistir ao show nesta edição do festival. No entanto, fiquei surpreendida pela performance, pela musicalidade e pelo quanto a banda conseguiu contagiar o público. Isso me marcou e me lembrou que, em um show, outros elementos podem torná-lo memorável. Por exemplo, tive altas expectativas para o Red Hot Chili Peppers, porém o show deles não me agradou nessa edição.
Arctic Monkeys - Primavera Sounds 2022
Este foi o momento em que meu coração bateu mais forte. Sou uma grande fã da banda e, durante o show, eu nem piscava. Alex Turner nunca decepciona e entregou um espetáculo intenso, carregado com todo o charme e voz que o caracterizam. É incrível como uma banda consegue se manter relevante ao longo do tempo e continuar produzindo excelentes trabalhos. O último álbum, "The Car," que faz parte da turnê, é completamente diferente dos anteriores, sendo mais introspectivo, mas ainda mantém a essência inconfundível do Arctic Monkeys.
Notas Musicais
Versão física
"Coração bifurcado", excelente trabalho do mestre Jards Macalé; o intrigante projeto coletivo "Biscoito Fino"; e "Trem das Cores", parceria instrumental do violoncelista Jaques Morelenbaum e da soprista Gaia Wilmer, em homenagem a Caetano Veloso, são os novos lançamentos da gravadora Biscoito Fino.
Parceria local
Os cantores, compositores e músicos Vitoriano e Rodger Rogério apresentam hoje, 17, no Theatro José de Alencar, o disco "Instante Zero ou o Primeiro Sinal Luminoso". Composto a quatro mãos, o álbum mistura poesia, filosofia e ciência de dois pensadores da música cearense. É às 18 horas e a entrada é gratuita.
Disco novo
O compositor e produtor cearense Caio Castelo prepara disco novo pra ser lançado na próxima sexta, 22. "Passo" chega três anos depois de "Pontes de Vidro", falando sobre o "tempo e a impermanência em algum lugar entre a MPB, o pop e o folk", diz ele. Caio é figura indispensável para compreender a música cearense contemporânea.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.