Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
1989 foi sui generis na história brasileira. Logo no primeiro dia do ano, o naufrágio do Bateau Mouche marcou o noticiário nacional, fazendo vítimas em pleno Réveillon. Foi também o ano em que nos despedimos de Nara Leão, Luiz Gonzaga e Raul Seixas. Depois de atravessar mais de duas décadas de ditadura militar e mais cinco anos de governo Sarney, o País foi às urnas para escolher o novo presidente da república. O eleito foi Fernando Collor, futuro protagonista de um dos capítulos mais vergonhosos da política nacional.
Em outro canto do País, a Legião Urbana também buscava renovação. Até ali, eles haviam lançado três discos com forte influência do punk, haviam apontado o dedo na cara de muita gente perguntando "que país é esse?" e vivido uma tragédia particular quando, um ano antes, viram uma turba quebrar tudo num show que eles fizeram no Estádio Mané Garrincha, em Brasília. Vendo que era hora de viver a maturidade e falar de união, eles começaram a costurar um repertório que falava em "amar as pessoas como se não houvesse amanhã".
Agora um trio, com a saída do baixista Negrete, a Legião lançou "As quatro estações", álbum que marca esse momento de renovação e que baseia a nova turnê que passa por Fortaleza neste sábado, 26. Com Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, da formação original, eles apresentam no estacionamento do Iguatemi Bosque o show "As V Estações", com a íntegra dos álbuns de 1989 e o que veio em seguida, "V", de 1991. "São dois discos icônicos que tiveram uma maturidade da banda em termos de composição. São dois discos que levaram a gente para esse lugar menos racional, menos apontando o dedo na cara, pensando na convivência das pessoas. Como harmonizar as pessoas, o trabalho, a família, como criar filhos. É a gente virando adulto", resume o guitarrista Dado Villa-Lobos por telefone.
Se "As quatro estações" era marcado por um momento de renovação, o disco seguinte teve como marca a descoberta de que Renato Russo (1960-1996) era soropositivo. "É um álbum muito melancólico, demais até. Fora da curva. Mas era o momento, quase o prenúncio de um fim", lembra o músico, hoje com 58 anos. Para ele, os álbuns que compõem a turnê "As V Estações" captam melancolias diferentes. O primeiro falava de uma expectativa de mudança no País, que acabou frustrada. O segundo é o início da despedida do vocalista e principal letrista da banda, que também se tornou um dos grandes ídolos nacionais. "Essas músicas têm um sentido muito profundo", avalia.
Dividido em cinco atos nomeados com os elementos da natureza (ar, fogo, terra e água), mais o elemento "espírito", o show foi montado com um cuidado técnico maior do que as turnês anteriores. "A música continua transformando as pessoas. São duas horas com a gente se exacerbando. É um espetáculo que foi montado com um roteiro que parece uma planilha de teatro. Luz incrível. Um projeto que foi trabalhado com muito carinho", adianta ele que conta ainda com Mauro Berman (diretor musical e baixista), Lucas Vasconcellos (guitarra e violão), Pedro Augusto (teclados) e André Frateschi (vocal), além do baterista Marcelo Bonfá, no palco.
A turnê "As V Estações" estreou em maio e já percorreu algumas das principais capitais do Brasil. "Tem sido maravilhoso. Tem músicas que a gente nunca tinha tocado, como 'Eu era um lobisomem juvenil', 'Sete cidades' e 'Metal contra as nuvens', que acho que só tocamos no 'Acústico MTV'. Tem um público que se renova muito. Muitos jovens, muita criança. Isso é muito motivo de orgulho. É uma banda analógica e são as nossas vidas que estão ali", conta Dado que guarda boas lembranças de outros shows em Fortaleza, sempre seguidos de praia e caranguejo. "Chegar em Fortaleza é sempre bacana, a gente é sempre bem recebido. Espero ter mais um show como esses. Tenho certeza de que, quando a gente pisa no palco, a mágica acontece".
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Legião Urbana - As V Estações
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