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Orquestra Frevo do Mundo celebra Moraes Moreira com grande elenco
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Orquestra Frevo do Mundo celebra Moraes Moreira com grande elenco

Sinônimo de Carnaval, Moraes Moreira é homenageado em álbum da Orquestra Frevo do Mundo com participações de Céu, Criolo e Luiz Caldas
Tipo Opinião
Aniversário de Fortaleza deste ano não teve show. Por falar em saudade, em 2010, a atração foi Moraes Moreira (Foto: REPRODUÇÃO/VÍDEO)
Foto: REPRODUÇÃO/VÍDEO Aniversário de Fortaleza deste ano não teve show. Por falar em saudade, em 2010, a atração foi Moraes Moreira

Limitar Moraes Moreira ao Carnaval é típico de quem não conhece sua obra. Violonista virtuoso, compositor criativo e intérprete cheio de recursos, ele explorou muitos ritmos em 50 anos de carreira. Do rock à bossa nova, o baiano filho do tropicalismo não parou de buscar novos sons para seu som. No entanto, vamos e convenhamos, está faltando no Brasil quem tenha feito tanto para o Carnaval quanto este que foi um dos primeiros cantores de trio elétrico da história.

Logo, é muita justa a homenagem que a Orquestra Frevo do Mundo presta a esse mestre inesquecível que levou trio elétrico até para dentro do Rock in Rio. Batizado como "Moraes é Frevo", esse é o quinto trabalho do projeto criado em 2007 pelos produtores Marcelo Soares e Pupillo, este reconhecido como ex-baterista e fundador da Nação Zumbi. Inicialmente chamado só de Frevo do Mundo, o projeto ganhou o título de "Orquestra" em 2020, quando lançou o segundo disco - que já trazia Moraes representado em uma versão de Duda Beat para "Bloco do Prazer".

Em 2023, veio o EP "Orquestra Frevo do Mundo Vol.2", com três faixas, e Moraes está entre elas, com o Bala Desejo cantando "Chão da Praça". Ainda no ano passado, Marcelo e Pupillo desviaram a rota sonora para lançar o divertido "Forró do Mundo". Mas, em 2024, eles recuperaram o passo para celebrar o baiano mais pernambucano que se conhece.

"Moraes é frevo" retoma a ideia original do projeto: pegar a tradição do frevo e reembalar com ideias modernas, novos arranjos, vozes contemporâneas e apresentar essa mistura às novas gerações. A base é feita por Kassin (baixo), Pupillo (bateria) e Davi Moraes, filho do homenageado, na guitarra. Os arranjos de sopros são divididos pelos maestros Duda, Henrique Albino, Nilsinho Amarante e Spok, e é por causa deles que o ouvinte pode não perceber que a ideia aqui é trazer um novo olhar para o frevo.

Quem melhor embarca nessa proposta é Céu, que pega a balada oitentista e radiofônica "Sintonia" e transforma numa marcha carnavalesca com ares de Carmen Miranda. Quem também surpreende é Criolo, que se diverte numa versão acelerada de "Preta Pretinha". Sempre disposto a testar novos ritmos, ele surpreende num frevo azeitado pela guitarra de Davi e pelos sopros do Maestro Spok. "Novo GPS contemporâneo da música brasileira, o frevo. Se você não sabia, fique sabendo", avisa o rapper encerrando o assunto.

O álbum de 10 faixas abre com Lenine em casa na faixa "Pernambuco meu". O mesmo vale para Otto em "Pombo Correio": canta com paixão, sem querer criar nada de novo e deixando a composição falar por si. E o álbum segue com Maria Rita se esforçando para impor personalidade em "Festa do Interior", sucesso arrasador do repertório de Gal Costa. Agnes Nunes, tida como uma das revelações da MPB, coloca dose de doçura em "Coisa Acesa", enquanto a pernambucana Uana brinca com os ritmos de "Eu sou Carnaval".

Contando ainda com Moreno Veloso ("Todo Mundo Quer") e Luiz Caldas ("Vassourinha Elétrica"), "Moraes é Frevo" encerra com um encontro emocionante. Lançada no disco de estreia de Moraes, "Guitarra Baiana" une a voz original dele, lá de 1975, com a guitarra do filho Davi, que tinha só dois anos à época. Sem sopros, sem letra, acrescentando só um surdo marcado por Pupillo, a faixa é uma espécie de vinheta de despedida desse compositor que ajudou a fazer o Carnaval brasileiro como ele é hoje. Um erudito da folia, Moraes Moreira morreu em 13 de abril de 2020. Como herança para o Brasil, ele deixou um Carnaval que para sempre vai ser motivo de festa.

Capa do disco 'República da Música', de Moraes Moreira
Capa do disco 'República da Música', de Moraes Moreira

Moraes Moreira revisitado

Oficialmente, pode-se considerar que Moraes Moreira completou 50 anos de carreira, contando do disco de estreia dos Novos Baianos ("É ferro na boneca", 1970) até sua morte, em 2020. Nesse tempo, ele passou por muitas gravadoras, lançou discos de muito sucesso e outros que ficaram reservados para os fãs mais atentos - caso de "Ser-Tão", seu último trabalho lançado pelo selo Discobertas em 2018.

Resgatando um período menos popular e menos carnavalesco do baiano, a Sony Music lançou 11 títulos da extinta gravadora CBS nas plataformas de streaming. Deles, quatro são coletâneas que repetem boa parte do repertório. Tem ainda dois compactos, um deles dividido com o filho Davi e outro com temas do Carnaval de 1986.

A parte mais interessante e curiosa está nos discos lançados em 1984 e 1988. A série abre com "Mancha de dendê não sai" (1984), que tem como destaque a festiva "Parafraseando o frevo". O disco "Tocando a Vida", do ano seguinte, fez fama por causa de "Santa Fé", parceria com Fausto Nilo que foi trilha da novela "Roque Santeiro". Mas vale ouvir a balada "Nós é Voz". "Mestiço é isso" (1986) e "Baiano fala cantando" (1988) são fartos em parcerias e lançaram, respectivamente, os sucessos "Sintonia" e "Por Que Parou, Parou Por Que?". Por fim, "República da Música" (1988), além da capa hilária com um Moraes de presidente "mambembe" da república, chama atenção pelo reencontro com os Novos Baianos Pepeu Gomes, Baby Consuelo (à época) e Paulinho Boca de Cantor.

 

Ritchie, cantor e compositor
Ritchie, cantor e compositor

Notas Musicais

Casa nova

Após viajar o Brasil com um hipnotizante show em que comemorou 40 anos de carreira, Ritchie deve vir com novo disco em 15 de março. O projeto, com regravações e canções inéditas, será lançado pela Biscoito Fino.

Celebração

Aproveitando o lançamento do filme "One Love", sobre a vida de Bob Marley, a Island Records lançou um álbum com sete versões inéditas para sucessos do guru do reggae. Entre os convidados, que passaram pela curadoria da família Marley, nomes como Leon Bridges, Kacey Musgraves e Jessie Reyez.

Em Vinil

Mês difícil para colecionadores de LPs. Fruto da parceria do clube Três Selos com a gravadora Rocinante, chegaram em versão vinil os discos acústico de Céu, "D", de Djavan, e "Lágrimas ao Mar", fruto do encontro de Arnaldo Antunes com o pianista Vitor Araújo. E ainda falta muito até chegar o 13º...

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