Edson Cordeiro fala de parceria e novo disco com Zeca Baleiro
Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Edson Cordeiro fala de parceria e novo disco com Zeca Baleiro
Correndo o mundo com repertório sem limites e voz sem comum, Edson Cordeiro fala sobre novo single, parceria com Zeca Baleiro e a vida entre Brasil e exterior
Em 1997, quando lançou o álbum “Clubbing”, Edson Cordeiro foi vítima de boicote por parte do público religioso. O motivo: sua estreia na música eletrônica trazia não uma, mas três versões techno para “Ave Maria”, do francês Charles Gounod. A reação conservadora foi imediata e quem partiu em defesa do cantor foi Rita Lee, que publicou um artigo em jornal intitulado “Não sacrifiquem o Cordeiro”. O texto da roqueira inspirou Zeca Baleiro a escrever “Tango do Cordeiro”, primeiro single de um disco que une a verve multifocal do maranhense com a voz única do intérprete paulistano.
Edson já conhecia Zeca como artista e até dividiram o mesmo violonista (Tuco Marcondes), mas não tinham mais aproximação. “Depois da pandemia, ele criou o disco ‘Mambo Só’ e teve ideia de me chamar. Depois veio a ideia de fazer esse disco comigo. É uma química que deu muito certo. Ele conta que era meu fã há muito tempo”, conta Edson Cordeiro, por telefone, de São Paulo, onde passou uma temporada. Radicado na Alemanha desde 2007, ele vem sempre ao Brasil para realizar projetos pessoais e profissionais.
“Cordeiro canta Baleiro” é um desses projetos, já teve um primeiro single lançado em 2023 (“Tango do Cordeiro”) e está sendo gestado e apresentado aos poucos. “São raridades do Zeca, coisas feitas para teatro. Tem músicas em inglês, francês, espanhol. Ele escreveu uma guarânia com a irmã dele, tem uma parceria com o Zé Renato, alguns hits”, elenca Edson, afirmando que “cada vez que ele manda mais uma música, eu fico apaixonado”.
Mesmo sem previsão de lançamento para o disco em conjunto (embora o show já esteja sendo preparado), a parceria já rendeu outro fruto. Edson Cordeiro lançou pela Saravá Discos, selo de Zeca Baleiro, o single “I have a dream”, versão do grupo ABBA gravada ao lado da harpista alemã Nora-Elisa Kahl. A ideia nasceu do sonho de se apresentar somente com voz e harpa. “Consegui fazer lá (na Alemanha). É um show só de canções de conforto, um estado de paz, de relaxamento. Uma frequência só e diferentes dinâmicas. É quase um clima paradisíaco. Nós pássaros exóticos temos esse lado que precisam de paz”, explica.
Se parece estranho que cada parágrafo desse texto, até aqui, cite um ritmo e um projeto diferente de Edson Cordeiro, para ele essa ausência de rótulos e amarras é o natural. “Eu tenho uma característica que é a total liberdade. Eu cantei tudo que permitisse me expressar. Sou intérprete com uma voz rara. E não economizei isso”, conta o artista de 57 anos que, em 32 de carreira, gravou um bocado de tudo. Com seu registro de contra-tenor, ele explorou árias de ópera, gospel, samba. Gravou disco de fado, de clássicos da discoteca e de peças eruditas. Dividiu faixas com Cássia Eller, Miriam Batucada, Ney Matogrosso e com o trio alemão de jazz Klazz Brothers. “O ecletismo é algo que eu trabalho. Escolhi essa profissão para ser livre”, define.
Na Alemanha, onde é casado com o escritor e ilustrador Oliver Schrank-Bieber, Edson mantém outros projetos, como um tributo à cantora e atriz egípcia Dalida. Embora seu radar não deixe de apontar para o que acontece no Brasil, não raro ele precisa responder que não é um exilado e nem foi embora do País em busca de mais valorização. “Eu só preciso e tenho muita disposição de não deixar isso se cristalizar. Entendo que, se você para de pular na frente das pessoas, elas pensam que você sumiu. Eu tenho um público muito grande, muito eclético. Com a internet, eu tenho a possibilidade de dizer ‘oi, eu tô aqui’. Se você me segue, sabe o que estou fazendo”, explica ele que mantém uma atividade frequente no instagram, com agenda de shows, memórias, opiniões, cenas domésticas e dublagens hilárias. “E ainda tem aquela coisa de dizer que ‘ele é bom demais para o Brasil’. Não é nada disso. Eu sou tão feliz. Saio na rua e as pessoas vêm falar comigo, me cumprimentar. Sempre tem aquela ‘por onde você anda’, mas faz parte”.
Movimentos
1992 - Edson Cordeiro
Disco de estreia causou espanto pelo registro raro do cantor e pelo repertório que foi de Nina Hagen a Duke Ellington. Com rock, baião, soul e erudito, Cordeiro inicia a carreira mostrando muito do que pode.
1996 - Terceiro Sinal
Mesmo mantendo o ecletismo, o terceiro disco investe em timbres camerísticos e instrumentos acústicos. Destaques para o forró "A mulher que virou homem" e para "Aos pedaços", parceria de Ed Motta e Paulinho Moska.
1998 - Clubbing
Ao lado do produtor Suba, Edson estreia na música eletrônica num disco soturno, curioso e com uma releitura divertida de "You make me feel like dancing", de Leo Sayer. No mesmo ano, ele lança o único registro ao vivo da carreira, que é um grande baile com clássicos da dance music. Mega sucesso de vendas, a fase discoteque renderia mais dois discos.
2005 - Contratenor
Depois de quatro discos voltados para as pistas, Edson se une com o pianista Antonio Vaz Lemes e grava peças de Handel, Mozart, Bach e outros. Mais uma vez, é a "Ave Maria" de Gounod que encerra o disco.
2007 - Klazz Brothers meet The Voice
A parceria com o trio alemão de jazz remete aos primeiros anos de carreira, com repertório eclético e uma performance vocal alucinante. De Beatles a Tom Jobim, passando por Prince e Ângela Maria, tudo cabe no quarteto virtuoso.
2017 - Fado
Na sequência de trabalhos para o mercado estrangeiro, um deles é dedicado à música portuguesa, gravado dentro dos rigores da tradição lusitana. O repertório vai de Amália Rodrigues ao "Fado tropical", de Chico Buarque.
2018 - Bem na foto
Cordeiro reencontra o produtor Franco Junior ("Disco Clubbing") e reúne repertório inédito e brasileiro. Com balada, samba-rock e uma bela capa, o disco passa despercebido pelo público.
Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página
e clique no sino para receber notificações.
Esse conteúdo é de acesso exclusivo aos assinantes do OP+
Filmes, documentários, clube de descontos, reportagens, colunistas, jornal e muito mais
Conteúdo exclusivo para assinantes do OPOVO+. Já é assinante?
Entrar.
Estamos disponibilizando gratuitamente um conteúdo de acesso exclusivo de assinantes. Para mais colunas, vídeos e reportagens especiais como essas assine OPOVO +.