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Solidão que nada: parcerias e gravações raras de Cazuza em discos de amigos
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Solidão que nada: parcerias e gravações raras de Cazuza em discos de amigos

Fora da discografia oficial, Cazuza fez raras participações em discos de amigos e projetos especiais. Confira algumas
Tipo Opinião
Cazuza foi um dos grandes nomes da música brasileira e voz importante de contestação (Foto: Sociedade Viva Cazuza/ Divulgação)
Foto: Sociedade Viva Cazuza/ Divulgação Cazuza foi um dos grandes nomes da música brasileira e voz importante de contestação

Celso Blues Boy

Referência do blues nacional, Celso chamou Cazuza para dividir a faixa "Marginal", que abre seu segundo disco, "Marginal Blues" (1986). O rock clássico, com cara de Rolling Stones, abre com a voz grave de Celso em clima de suspense, até dar uma pausa para entrar os vocais rasgados do convidado. Com esse som, Cazuza está em casa. Destacando ainda o solo do anfitrião, o encontro é impecável.

Dulce Quental

Uma das mais talentosas compositoras do rock 80, Dulce Quental fez sua estreia solo - após o sucesso da banda Sempre Livre - com o álbum "Délica" (1986), que reúne bons nomes daquela geração, de Titãs a Nico Rezende. Cheio de personalidade, Cazuza canta em "Tudo é Mais", uma espécie de hino ao "tô nem aí". Eles ainda são acompanhados pela banda Ronaldos, que gravou com Lobão em início de carreira. Ela ainda gravaria uma inédita de Cazuza, "A inocência do prazer", no terceiro disco (1988), e foi parceira de Frejat em "O poeta está vivo", uma emocionante homenagem póstuma ao amigo.

Leo Jaime

Como é sabido, Leo Jaime seria vocalista do Barão Vermelho, mas preferiu indicar o Cazuza para o posto. Ele achava a banda séria demais para seu deboche. Especialista em versões bem-humoradas, Leo chegou a convidar Cazuza para gravarem juntos "Hot Dog", uma brincadeira sobre "Hound Dog", sucesso do repertório de Elvis Presley. Em 1984, Angela RoRo regravaria esse sarro no disco "A Vida é Mesmo Assim".

Bebel Gilberto

Bebel e Cazuza eram unha e carne, amigos de farra. E dessas madrugadas também surgiram parcerias registradas no EP de estreia dela, lançado em 1986. Ali estão "Nós", "Amigos de bar", "Mais Feliz" e "Preciso Dizer Que Te Amo". Esta última, ainda mereceu uma raríssima gravação íntima feita em Petrópolis, mas só lançada em 1996, num projeto dedicado a levantar fundos para o combate à Aids. Nesta gravação, Bebel e Cazuza são acompanhados pelo violão de Dé Palmeira, baixista do Barão e terceiro compositor da faixa que se tornaria um sucesso na voz de Marina Lima.

Gilberto Gil

De Cacá Diegues, "Um Trem Pras Estrelas" é um drama noturno sobre um saxofonista (Guilherme Fontes) que busca a namorada desaparecida (Ana Beatriz Wiltgen) pelo Rio de Janeiro. Nessa procura, ele encontra figuras pitorescas como Zé Trindade, Fausto Fawcett e Cazuza. Além de atuar, este foi convidado pelo autor da trilha, Gilberto Gil, para dividir composição e vocais da faixa que dá nome ao filme. No original, a música tem um balanço dançante bem diferente da versão de Cazuza para o álbum "Ideologia". Mas o charme de Gil e Cazuza se chamando de "meu nego" é impagável.

Fagner

O compositor cearense já morou num apartamento no Rio de Janeiro que recebia um volume de convidados bem generoso, de Cauby Peixoto a Gonzaguinha. Cazuza era seu vizinho e costumava aparecer sem ser convidado. Apesar do inconveniente que devia ser, eles foram amigos e cantaram um rock de Fagner e Belchior. Juntando guitarra e triângulo, "Contra Mão" (1985) faz um jogo de palavras super esperto usando o semáforo e flerte. Fagner conta que cuidou de Cazuza em seus piores momentos de saúde e foi um dos convidados do show "Viva Cazuza", gravado na Praça da Apoteose (RJ) em 1991. Coube a ele uma versão emocionada de "Completamente Blue".

Cartola e Nelson Cavaquinho

Se o rock foi o berço, Cazuza cresceu e quis ir mais longe na carreira. Até porque, para ele, rock era samba enredo, reggae era xote e blues era samba canção. Então, por que não cantar os mestres que sofreram por amor antes dele? Convidado do programa "Chico & Caetano" (1986), ele canta a trágica "Luz Negra", de Nelson Cavaquinho e Amâncio Cardoso, cujo verso "estou chegando ao fim" ganharia outro significado após a morte do roqueiro. Dois anos depois, ele seria um dos convidados do tributo "Bate Outra Vez", em homenagem a Cartola. Para cantar "O Mundo é um Moinho", Cazuza foi acompanhado por ninguém menos que Raphael Rabello (violão) e Rildo Hora (gaita). Em 1989, Cazuza e Lobão se tornariam parceiros de Cartola em "Azul e Amarelo", como uma homenagem às cores do santo do sambista falecido em 1980.

Os Trapalhões

Cazuza não teve filhos, mas isso não o impediu de ter o coração tocado pelos especiais infantis da TV Globo nos anos 1980. A super divertida "Subproduto de Rock" entrou para a trilha de "Plunc Plact Zuuum II", falando sobre o pavor juvenil de não ser reconhecido como um autêntico rebelde. Cazuza e o Barão Vermelho, todos fantasiados, cantam para uma plateia de crianças e não parecem muito à vontade. No mesmo ano, 1984, ele gravou com os Trapalhões na trilha do filme "O Trapalhão na Arca de Noé", acompanhado pelo Roupa Nova. Com solo de guitarra, bateria marcada e berros, a faixa é puro Cazuza em início de carreira.

Foto do Marcos Sampaio

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