Logo O POVO+
Arte dosencontros
Foto de Marcos Sampaio
clique para exibir bio do colunista

Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Arte dosencontros

Pela segunda vez no Pará, Festival Choro Jazz fica marcado como arena de encontros entre artistas e público
Tipo Análise
Arismar, Gabriel Grossi, Felipe e Filó Machado, e Pipoquinha no Festival Choro Jazz 2025, em Soure, no Pará (Foto: Kleber José/ Divulgação)
Foto: Kleber José/ Divulgação Arismar, Gabriel Grossi, Felipe e Filó Machado, e Pipoquinha no Festival Choro Jazz 2025, em Soure, no Pará

Dos dias 8 a 13 de julho, a ilha de Marajó recebeu pelo segundo ano consecutivo o Festival Choro Jazz. O evento acontece há 16 anos em Jericoacoara, mas há um ano expandiu sua programação para Fortaleza, Cariri e Pará, aqui dividindo apresentações na capital Belém e no município de Soure. Em 2025, Belém ficou de fora.

Na ilha de Marajó, a programação - toda gratuita - começou com oficinas ministradas pelos próprios músicos que se apresentaram de sexta a domingo, no Parque de Exposições. Falo de estrelas da cena instrumental brasileira e grupos que defendem a cultura local. A propósito, para o paraense as atrações mais esperadas eram mesmo as paraenses. Carimbó, lambada e outros estilos típicos da terra do jambu garantiram um público bem heterogêneo dançando e rodando a saia. Por exemplo, um dos nomes mais aguardados foi Manoel Cordeiro, mestre da guitarra que foi recebido como estrela por uma plateia resistente, na madrugada da segunda, 14, encerrando a programação.

Mais nada chamou mais atenção no Choro Jazz, etapa Soure, do que a possibilidade do encontro. E foram muitos, inéditos ou não. A abertura, na sexta, 11, recebeu Egberto Gismonti e o violonista carioca Daniel Murray em um duo. Egberto tem personalidade forte, falou pouco, deu poucos cumprimentos à plateia - no palco, ainda passou recados para Daniel sobre postura. Mas, quando toca, até os encantados da floresta param para ouvir. Como poucos, ele combina virtuose com melodias arrepiantes. Hipnotizante até o encerramento, com clássicos de Tom Jobim e Pixinguinha.

Outro encontro digno de nota é da violonista Tamara Lacerda com o acordeonista Ranier Oliveira. Ela é vizinha de Abdoral Jamacaru, fã de Dori Caymmi, filha de artesãos, sobrinha de compositor e neta de mestre da cultura, ela é uma autodidata bem relacionada. E ele vem de uma família de músicos e começou a acompanhar o pai seresteiro ainda criança. De tecladista, ele virou sanfoneiro para atender o pedido de um amigo. Eles se conheceram num grupo de forró no Crato, ficaram amigos, formaram um duo e foram apadrinhados pela produção do festival. "O festival é uma via de mão dupla. Por que é bom para quem vem assistir, mas é bom também para quem vem fazer parte. E tem muitos ídolos aqui, né? Pipoquinha, Filó Machado, o Egberto", avalia Ranier que, junto com Tâmara, ainda participou de outros shows.

Natural do Pará, radicada no Rio de Janeiro, Jane Duboc veio ao Soure com o pianista Gilson Peranzzetta para apresentarem o disco "The Smiling Hour", uma homenagem a Ivan Lins. Com parte do repertório vertido para o inglês, o show foi recebido com frieza pelo público que demorou a reconhecer canções como "Abre alas", "Começar de novo" e "Lembra de mim". "Eu cresci ouvindo choro, música erudita, samba, jazz. Minha casa era aberta para todo tipo de música. Eu gosto de música e as notas são as mesmas no ocidente. Essas notas você pode vesti-las de qualquer jeito", comenta Jane entre elogios às composições de Ivan, com quem gravava jingles nos anos 1970.

Dois encontros inéditos, criados para o Choro Jazz, foram-se pontos altos da programação. O primeiro foi do pianista Cristóvão Bastos com a cantora Patrícia Bastos (nenhum parentesco) e o violonista, percussionista e cantor Renato Braz. Juntos, fizeram canções populares incluindo homenagens a Gal Costa e Nana Caymmi. Patrícia canta com elegância e refino e fez um belo duo com Renato. Cristóvão, muito discreto, teve seu solo interpretando "Sua cantiga", que ganhou letra de Chico Buarque. Ao final, Manoel Cordeiro se juntou ao trio para tocar violão no bolero "Um poema de amor".

O outro encontro foi no domingo, 13, reunindo um time que beira o inacreditável. Arismar do Espírito Santo (violão e piano), Michael Pipoquinha (baixo), Gabriel Grossi (gaita), Filó Machado (voz e violão) e seu neto Felipe Machado (violão) emendaram temas instrumentais, um ou outro cantado, e saíram tocando. Uma curiosidade: nada foi ensaiado, tudo foi criado na hora. A plateia entrou no jogo, dançou e aplaudiu.

A programação do Choro Jazz teve ainda o forró do Tocaia, o Choro na Rua (com os mestres Silvério Pontes, Daniela Spielmann, Rogério Caetano e participação de Ranier Oliveira), Nilson Chaves junto com Celso Viáfora e bandas tradicionais da ilha como Nativos Marajoaras, Eco Marajoara, banda Gaponga e os Aruãs. As próximas etapas confirmadas acontecem em Fortaleza (novembro) e Jericoacoara (dezembro).

 

Foto do Marcos Sampaio

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?