Aos 80 anos, Ivan Lins compartilha impressões sobre projetos
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Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM
Aos 80 anos, Ivan Lins compartilha impressões sobre projetos
Aos 80 anos de vida e 55 de carreira, Ivan Lins segue com um caderno cheio de projetos. A seguir, as impressões do compositor sobre o que fez e o que pretende fazer
Foto: Leo Aversa/ Divulgação
Completando 55 anos de carreira, Ivan Lins revisita sua história em entrevista exclusiva
Compor ou tocar
Hoje, aos 80 anos, todas essas atividades ainda me agradam. Porque tudo é música, criatividade, e tudo que exige criatividade e um encontro emocional com a beleza é sempre uma coisa que me excita muito, me deixa muito feliz. E dessas coisas todas, a que eu mais gosto de fazer é compor. Eu comecei como músico, pianista, depois eu fui para a composição, e começar a perceber a música bem dentro de mim foi uma descoberta. Eu sempre fui muito musical, desde criancinha. E quando eu comecei a compor, aí é que eu achei o meu rumo. Estar fazendo show é uma coisa maravilhosa. Mas, no fundo, lá no fundo, mesmo, a coisa que eu mais gosto de fazer é compor.
Aprende a cantar
Eu, quando comecei a minha carreira, fazia uma voz rouca, porque quando eu comecei a compor sofri uma influência, principalmente, dessa música negra americana. Na verdade, quando eu mostrava minhas músicas desse gênero, eu tentava imitar um artista negro americano para as pessoas perceberem como essa minha música ficaria na voz deles. Como Ray Charles, como Stevie Wonder, ou como alguns cantores de bandas americanas na época, mais roqueiras, como Blood, Sweat & Tears, Chicago... E eu não consegui imitar eles, saiu um negócio, uma outra coisa. Mas era uma voz forçada, tanto que depois eu tive que parar com ela, porque arrebentava a minha garganta.
Primeiras
canções
Os primeiros discos eu considero geniais pelo sucesso que eles fizeram e por terem criado uma forma muito pessoal de eu apresentar a minha música, na forma de tocar piano, na maneira de cantar. Mas as canções, as composições, sempre foram feitas com um compromisso muito grande com a beleza. As músicas são muito bonitas. Talvez eu tenha algumas dúvidas em relação a certas letras. Na época, o meu parceiro era o Ronaldo Monteiro de Sousa e fizemos grandes sucessos juntos, mas o Ronaldo, de uma certa maneira, não acertava tudo. Ele fez grandes letras, mas também fez outras letras que eu não gostei depois. Mas as canções eu adoro todas. "Emmy", "Onde bate as ondas do teu olhar", "Um carro enferrujado"... Essas são canções feitas com muita paixão mesmo.
O Ceará
Eu tenho uma ligação musical com o Ceará e essa ligação vem através do Fagner. Conheci o Fagner em 1972, quando ele foi ao Rio, e ele também estava procurando divulgar o trabalho dele. Nós nos cruzamos pela primeira vez num programa de rádio do Haroldo de Andrade. Depois a gente foi se esbarrar quando a Elis Regina se interessou pela obra dele, e nessa época eu também estava convivendo musicalmente com ela. Logo gostei muito dele, a gente virou amigo, e eu fiz um arranjo para "Mucuripe", do disco "Manera Frufru Manera" (1973). O arranjo de cordas é meu. Foi o meu primeiro arranjo na vida, entendeu? Eu tinha acabado de aprender a escrever através de uma professora maravilhosa que eu tive de música, chamada Wilma Graça, e três meses depois de ter começado a ter aula, eu escrevia esse arranjo a pedido do próprio Fagner. Ele insistia que tinha que ser eu.
Disco de sambas e outros planos
Tem um caderno aqui, que escrevo as coisas que gostaria ainda de fazer. São muitas. Eu, por exemplo, estou acabando um disco de samba tradicional. É um disco que eu não toco nada, só entro com a voz e os sambas. Os arranjadores são os que trabalham pra Jorge Aragão, Zeca Pagodinho, Diogo Nogueira, essa turma toda. E esse disco tem participações de sambistas, Xande de Pilares, Péricles, Ferrugem, Martinália, Diogo Nogueira... Porque era um sonho meu há muito tempo de ouvir minhas músicas tocadas dessa forma, e estou realizando. Além disso, comecei também um disco de inéditas, que está parado por causa desse disco de samba, não dá para fazer dois discos ao mesmo tempo. Mas eu vou lançar no ano que vem. Espero até lançar mais de um de inéditas. Hoje com a internet, com essa forma nova de se produzir e divulgar música, colocar no mercado, talvez dê para fazer bem mais do que um disco. E ainda tenho sonhos de gravar disco com uma big band brasileira, com orquestra brasileira. Como já gravei discos com orquestras estrangeiras e com big bands estrangeiras, mas nunca consegui fazer isso aqui no Brasil. E tem um disco meu, por exemplo, um outro projeto, que é de música caipira. Um disco de música regional interiorana, com violões, violas, acordeon e tudo. Cheguei a começar esse disco há uns oito anos, mas tivemos que parar porque o dinheiro acabou. Sei que não vou conseguir, já estou com 80 e não tenho muito tempo para poder fazer todos esses projetos. Mas estão lá, escritos no caderno. Quem sabe, né? Deus me dê saúde para isso.
Cláudio Lins
Trocar informações musicais com o meu filho sempre foi um prazer. Ele também é extremamente musical, muito talentoso. Ele exerce dois lados da arte, não só a música, mas também o teatro, seguindo a mãe (Lucinha Lins, atriz e cantora). Ele é muito aberto, tem uma personalidade muito forte, mas é muito aberto. Ele é da geração dos anos 1990 e eu aprendo muito com ele também, com as ideias que ele tem. Esse novo sempre me interessou. Gosto da música jovem, eletrônica, os raps, os hip-hops e tudo. O meu filho, de uma certa forma, foi me conduzindo para essa área mais moderna.
A experiência
Acho que vim ganhando mais experiência, abrindo meu leque de fontes de criação. Evidentemente, eu escuto muita música do mundo inteiro. Eu ouço em rádio, vejo na televisão, na internet. Eu esbarro com várias coisas que são produzidas aqui no Brasil e no mundo. E, de certa forma, têm certas coisas que realmente me interessam como fonte de criação, inspiração. A diferença é que no começo de carreira eu não tinha essa bagagem. Eu ainda não conhecia bem o interior do Brasil, músicas folclóricas, músicas regionais, desde o sul do Brasil até o Norte, passando pelo Centro-Oeste, Sudeste e Nordeste. Portanto, essas músicas todas entraram em minha vida. E usei muito delas como inspiração para compor as minhas.
Carreira
no exterior
Aqui no Brasil eu sou música popular brasileira, não sou jazz. O Brasil tem festivais de jazz desde os anos 1960 e tal. Mas quando eu apareci, apesar das minhas harmonias, da forma como eu componho, eu sempre fui música popular brasileira, como toda a geração dos anos 1960, Chico, Gil, Caetano, Milton, Edu, Dori, e a minha geração. Todos nós sempre fomos considerados no Brasil música popular brasileira, música para o povo, não jazz. Mas, aos poucos, os festivais de jazz traziam os músicos internacionais e eles se apaixonavam pela música dessa minha geração. Eles ficavam muito impressionados. E alguns empresários começaram a convidar a gente para participar de festivais lá fora, mas nunca no Brasil. A gente nunca era chamado para participar de festivais de jazz no Brasil. Só começou isso mais tarde, quando nós já começamos a trabalhar fora do Brasil. E o público também é diferente. Eu, quando toco no exterior, a minha plateia é mais sofisticada, é uma plateia mais jazzística, mais exigente musicalmente. Já aqui no Brasil, eu canto para o povo, que é maravilhoso. Eu canto para o povão. Quando é de graça, é maravilhoso cantar numa praça pública e botar 10 mil pessoas, de todas as classes sociais, e todo mundo adora. O que mostra como a nossa música popular é a mais rica do mundo, entendeu? Porque nenhuma música que tem a sofisticação, a criatividade nossa, nos outros países, eles são sempre classificados rotulados de jazz, de música fora de alcance popular.
Cantar e tocar
Eu fiz estudo de canto. Fiz estudo de harmonia e a minha música sempre foi sofisticada, harmonicamente, principalmente. A música não mudou muito. A forma de compor não mudou muito harmonicamente. Eu venho trazendo todo o conhecimento que eu aprendi tocando jazz e bossa nova quando eu comecei a tocar piano. Aprendi a tocar piano em 1963 e, em 1965, formei o meu primeiro trio de jazz e bossa nova. E essas influências da bossa nova, do jazz, foram as primeiras da minha forma de tocar e de compor. Depois, com o tempo, eu fui incorporando mais e cada vez mais profundamente a música brasileira, tanto a urbana como a rural.
O POVO
Confira a íntegra da entrevista com Ivan Lins na coluna Discografia, no O POVO
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