Logo O POVO+
Vidas para contar
Foto de Marcos Sampaio
clique para exibir bio do colunista

Marcos Sampaio é jornalista e crítico de música. Colecionador de discos, biografias e outros livros falando sobre música e história. Autor da biografia de Fausto Nilo, lançado pela Coleção Terra Bárbara (Ed. Demócrito Rocha) e apresentador do Programa Vida&Arte, na Nova Brasil FM

Marcos Sampaio arte e cultura

Vidas para contar

Onda de musicais leva aos teatros uma forma emocionante de registrar a história da MPB
Tipo Notícia
Mel Lisboa em
Foto: Priscila Prade/Divulgação Mel Lisboa em "Rita Lee - Uma autobiografia musical"

Recentemente, um vídeo circulou pelas redes sociais registrando o encontro de Djavan e Gal Costa no Altas Horas. Eles cantaram "Açaí", composição dele gravada por ela em 1981. Próximos há muitos anos, o dueto surpreendeu não só pela beleza, mas por que a cena foi gravada em agosto último e Gal Costa morreu em 2022. Bom, na verdade quem foi ao programa de Serginho Groisman foram os atores Raphael Elias e Walerie Gondim, que integram o elenco da peça "Djavan: O musical - Vidas pra Contar".

LEIA TAMBÉM | Netflix, HBO Max e Disney+: veja lançamentos da semana no streaming

O espetáculo, previsto para chegar em Fortaleza em outubro, faz parte de uma onda de musicais que circula pelo Brasil. Depois de Djavan, "Raul Seixas, O Musical", com Bruce Gomlevsky, está agendado para novembro. Elis Regina, Jackson do Pandeiro, Capiba e Clara Nunes (este com Vanessa da Mata no elenco) são só alguns dos musicais que lotaram casas em Fortaleza de 2024 para cá. No último fim de semana, "Vital - O musical dos Paralamas" teve quatro apresentações entre a sexta-feira e o domingo.

Leia no O POVO + | Confira histórias e opiniões sobre música na coluna Discografia, com Marcos Sampaio

Na sessão do sábado, às 20 horas, o público quase lotou o Theatro Via Sul para ver, ouvir e dançar a história de uma das mais emblemáticas bandas de rock da geração 80. Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone são vividos com paixão por Rodrigo Salva, Gabriel Manita e Franco Kuster, respectivamente. São quase duas horas de uma história que vai do encontro de três amigos, passa pela conquista da fama e chega ao trágico acidente aéreo que deixou Herbert paraplégico e viúvo em 2001.

Musicais e o registro da história da MPB

Com outros oito atores/cantores se revezando entre personagens fundamentais para a história dos Paralamas, como o empresário José Fortes, vovó Ondina e o músico Charly Garcia, as canções entram de diferentes formas. Ora são usadas como vinhetas, ora fazem parte da cronologia, como a dor de cotovelo de Herbert (abandonado pela não citada Paula Toller) que rendeu a balada "Quase um segundo". Com tudo tocado ao vivo, em certos momentos a peça vira show, como quando a plateia é convidada a ficar de pé e representar o mar de gente do Rock in Rio 1985.

A história dos Paralamas funciona bem por que oferece os elementos necessários para uma boa narrativa: conquista da fama, tragédia, redenção e uma lição para a vida (no caso, a crítica ao capacitismo). O mesmo pode ser visto em "Rita Lee - Uma autobiografia musical" que esteve em Fortaleza em agosto com direito a disputa por ingressos, sessões extras e filas para comprar blusas, botons, canecas e outros produtos.

O musical traz Mel Lisboa de volta ao papel da rainha do rock 11 anos depois de contar a mesma história em "Rita Lee mora ao lado". Convincente no papel, ela revisita passagens já exploradas à exaustão: Mutantes, Roberto de Carvalho, drogas, prisão, sucesso... "Rita Lee - Uma autobiografia musical", assim como "Vital", também tem tudo o que uma peça como essa precisa. A tragédia (câncer e drogas) e a lição para a vida ("meninos, eu vivi") estão ali. A redenção fica para o final, com Mel de peruca grisalha citando as últimas palavras da autobiografia de Rita.

Numa época em que a quase totalidade do mercado musical se alimenta de ídolos voláteis e sucessos passageiros, o teatro - e cinema - vem buscando lembrar quem construiu um capital artístico robusto e atemporal. É bem verdade que os musicais se parecem muito. Tudo é contado com muita pressa para dar de vidas tão intensas em pouco tempo. Também há uma necessidade de priorizar cenas que garantem risos e lágrimas, mesmo que desimportantes (o encontro de Rita e Hebe é hilário, mas irrelevante para a história da roqueira). E é quase regra um certo ar "chapa branca", com cada cena passando pelo crivo dos biografados ou suas famílias. Tudo é feito para enaltecer os protagonistas. Mas, com um furo aqui e um exagero acolá, o apelo emocional e a força dos repertórios garantem a diversão e fazem muita gente feliz.

 

Hertenha Glauce, atriz e diretora do grupo Mirante
Hertenha Glauce, atriz e diretora do grupo Mirante

A lista de Hertenha Glauce

O Fantasma da Ópera (2007, SP) - Com Saulo Vasconcelos. Um marco na minha história com musicais. Sempre fui fã da história, que só conhecia através do cinema. Assistir ao espetáculo mexeu com minha visão sobre teatro musical e me fez ainda mais fã da obra.

Gota D'Água (2009, RJ) - Depois da versão clássica de Bibi Ferreira, que não vi, diga-se de passagem, mas que ficou no imaginário teatral brasileiro, era difícil pensar que poderia haver uma montagem tão precisa, tão interessante. O fantasma do impossível ficou para trás. A montagem de João Fonseca era incrível e Izabella Bicalho estava deslumbrante!

Clara Nunes - A Tal Guerreira - O Musical (2024, CE) - Montagem impecável de Jorge Farjalla. Espetáculo tão lindo e impactante, que esquecíamos que Vanessa da Mata não é atriz por formação. Ela está bem, mas quem está impecável é a Carol Costa, trazendo, quase incorporando, a Bibi Ferreira.

Elis - A Musical (2024, CE) - Direção de Denis Carvalho. Espetáculo lindo e que mobiliza pela emoção. Elis, essa figura icônica do cancioneiro brasileiro, tão importante para a história da música é retratada de forma honesta e entregue por Laila Garin.

Avenida Q (2015, CE) - Primeiro é um orgulho saber que aqui, no nosso Cearazinho, tem Broadway feita com qualidade e empenho pelo sempre inquieto André Gress. E ainda ver tantos amigos/atores cearenses em cena, brilhando. Olhar para o nosso estado, nossos artistas, é olhar para a gente e se reconhecer no outro e na possibilidade infinita de criar!

Cantora baiana Gal Costa segue sendo voz relevante dentro da música brasileira quanto a posicionamentos políticos
Cantora baiana Gal Costa segue sendo voz relevante dentro da música brasileira quanto a posicionamentos políticos

Notas musicais

Sublime

Último disco de inéditas de Gal Costa, "A Pele do Futuro" (2018) ganhou nova edição em LP. O álbum mostra a baiana em ótimas performances, entre compositores novos (Tim Bernardes e Dani Black) e veteranos (Gilberto Gil e Hyldon). À venda no site da Biscoito Fino.

Quadrinhos

A editora Brasa apresenta mais um volume da série Música Popular em Quadrinhos. Dedicado à bossa nova, o lançamento conta com nove artistas em oito histórias que falam de personagens como Johnny Alf, Tom Jobim e Jorge Ben.

Per amore

Após muitos anos sem pisar aqui, Zizi Possi fará show no Cineteatro São Luiz no domingo, 28. No repertório, nomes como Gilberto Gil, Edu Lobo e Herbert Vianna, tudo interpretado só com (a) voz e piano. Ingressos à venda no Sympla.

 

Foto do Marcos Sampaio

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?