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Para que deixar para janeiro o que você pode recomeçar agora?
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Redatora de Capa e Farol do O POVO. Quadrinista e jornalista entusiasta de temas relacionados à saúde e bem-estar. Uma ex-sedentária em busca de se manter em movimento

Para que deixar para janeiro o que você pode recomeçar agora?

Manter uma de atividade física não é um processo linear. A vida nos atravessa e há pausas. Mas é preciso recomeçar.
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Domitila voltou para as práticas de crossfit (Foto: Felipe Oliveira/ divulgação)
Foto: Felipe Oliveira/ divulgação Domitila voltou para as práticas de crossfit

O processo não é linear. Foi essa a máxima que aprendi ao longo dos últimos anos de mudança para uma vida que preza por escolhas mais saudáveis. E é ela que tem me guiado para que os baixos em meio aos altos do caminho não se tornem gatilhos de fracasso. Para ser constante é preciso ser duradouro e estável, mas, quando se trata de exercícios físicos, alimentação regrada e outros bons hábitos, há que se considerar que a vida, às vezes, se interpõe.

Foi o que me aconteceu. E, mesmo com uma rotina planejada para facilitar horários livres para treinos, refeições prontas e todo o suporte da minha rede de apoio, eu precisei diminuir o ritmo. Entrei de cabeça na reeducação de costumes na tentativa de minorar os efeitos da ansiedade. Mas foi justamente ela que me tirou da rotina.

Vi partir, no intervalo de 2 meses, meus dois vira-latinhas, os irmãos peludinhos Bartô e Belchior, que me acompanhavam há 10 anos e lidar com o luto, passados quase três meses, ainda é difícil. A partida deles desencadeou um período de insônia, em que as crises de ansiedade se tornaram mais constantes. Então, levantar e cumprir com as minhas mais de 3 horas de treinos diários se tornaram tarefas impossíveis. Fui fazendo o que podia, com as forças que conseguia reunir. Mas os treinos de crossfit, que eram feitos 6 vezes por semana, ficaram espaçados; e a musculação e o cardio inconstantes viraram minhas tábuas de salvação na ideia do “pelo menos não parei por completo”.

Domitila voltou para as práticas de crossfit
Domitila voltou para as práticas de crossfit Crédito: Felipe Oliveira/ divulgação

Perdi condicionamento, regredi nas cargas, diminuí minha massa magra, e, principalmente, me tirei do esporte que me motivou a mudar. Comigo foi o luto. Com você pode ter sido o trabalho; a mudança de cidade; um problema familiar; um término de relacionamento; o fim de semestre da faculdade, ou uma desmotivação… a vida nos atravessa todos os dias. Mas é preciso compreender que isso é um dos baixos e não o fim da jornada.

“O processo é longo e árduo, Dom”, é assim que meu coach e profissional de Educação Física, Ricardo Barbosa, começa o áudio meio-entrevista-meio-discurso de motivação para aluna aqui. “Sempre vão ter períodos mais intensos, períodos mais relaxados, pausas, recomeços… Porém, o que vai fazer a diferença é o quanto você quer, o quanto você deseja e o quanto você busca se dedicar nesse percurso”, ensina.

E aí, como eu quero muito, eu voltei. Xoxa, capenga, manca, anêmica, frágil e inconsistente? Sim, mas de volta. Na primeira semana, parecia que meu corpo nunca nem mesmo tinha pisado num box de crossfit. Memória muscular? O divo de 1,57m não tem sequer a mais vaga ideia do que seja. Assim, venci todos os dias da semana cheirando a cânfora e andando pela redação do jornal tal qual uma pata.

Ricardo Barbosa é profissional de Educação Fisica
Ricardo Barbosa é profissional de Educação Fisica Crédito: Arquivo Pessoal

“Na volta ou durante esse recomeço, é interessante você respeitar o seu atual momento. Manter uma frequência de atividade física diária ou semanal. Compreender que o seu corpo não está preparado para receber sobrecargas mais elevadas, independente da atividade, se é na corrida, se é crossfit, se é na musculação. É preciso ter todo um cuidado para que não ocorra nenhum risco de lesão ou acidente”, instrui Ricardo.

“Quando você entende exercício como cuidado básico, como higiene, assim como escovar os dentes todos os dias e não como um projeto, ele se torna mais leve e constante. Se torna um hábito. Quando o exercício vira parte da sua identidade (‘sou alguém que se movimenta’), ele exige menos força de vontade”, garante a psicóloga clínica, especialista em comportamento humano, e crossfiteira, Camila Marques.

Camila Marques é psicóloga clínica
Camila Marques é psicóloga clínica Crédito: Arquivo pessoal

Seguindo as instruções e ainda lutando contra a ansiedade, tenho recolocado a rotina no lugar. Em pleno dezembro. Talvez este texto viesse mais a calhar em janeiro. Mas Camila explica que quando “você condiciona um hábito a um marco temporário, o cérebro aprende que só pode começar quando ‘tudo está alinhado’, e que as ⁠falhas só podem ser consertadas ‘depois’. Isso aumenta a procrastinação”. Eu recomecei num dia qualquer de novembro, mas, por acaso, amanhã é segunda-feira e você tem uma oportunidade novinha em folha. Recomeçar pode ser uma boa pedida.

 

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