Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho é graduado em Medicina pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutor em Cardiologia pela Universidade de São Paulo (USP). Professor-associado da UFC, tem experiência na área da medicina, com ênfase em cardiologia, atuando principalmente nas áreas de sistema nervoso autônomo, sistema cardiopulmonar e doença de Chagas. Foi secretário de Saúde do Ceará entre 2019 e 2021
Os bastidores da República, dos governos continuam repletos de "bufas" premiadas. Nem sempre simplórias, às vezes recheadas de jantares, favorecimentos ilícitos e pela promiscuidade da relação entre público e privado
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Gaspar Dutra, ex-presidente do Brasil. (Foto: Presidência da República/Divulgação)
A memória de um dos presidentes mais tolos do Brasil, Eurico Gaspar Dutra, foi recheada de fatos inusitados. Dizem que era conhecido por ser um militar dedicado e despreparado. Contam de sua incapacidade de expressão e, também, por uma dificuldade, trocava o "s" pelo "x". Era, assim, proibido por seus apoiadores de realizar qualquer discurso, sendo lembrado como o "catedrático do silêncio". Pena que o exemplo não é levado em conta nos dias atuais!
Contam-se, também, em sua autoria, inúmeras passagens jocosas. Entre elas, uma das mais inusitadas, relaciona-se ao seu secretário particular que assumiu a responsabilidade de um "pum" durante a inauguração de um grande hospital. E por tal ato de respeito e fidelidade, disse: "Presidente, desculpe-me, comi algo que me fez mal". Foi, por isso, recompensado com a propriedade de um cartório.
Lembrando dessa passagem dos bastidores da nossa história, fui invadido por uma indagação. Afinal quantas bufas e quantos cartórios fizeram a nossa incrível história da República?
A passagem é para muitos de nós já bem antiga, mas os hábitos são bem atuais. Os bastidores da República, dos governos, querem sejam em âmbito federal, estadual ou municipal, continuam repletos de "bufas" premiadas. Nem sempre tão simplórias como a protagonizada pelo "prexidente", mas sim recheadas de jantares, favorecimentos ilícitos e pela promiscuidade da relação entre o público e o privado. Nem é mais preciso o constrangimento de assumir a autoria de um desleixo da natureza. Há quem, espontaneamente, assuma a responsabilidade de atos mais graves. Pois, costumam dizer nos bastidores, "alguém tem que fazer o jogo sujo".
A premiação pode acontecer das mais diversas formas, desde um cargo de conselheiro numa estatal à redução da carga fiscal, ou mesmo sob os protestos dos órgãos de controle e de uma legislação existente, inúmeras vantagens em licitações públicas.
Afinal, a frase atribuída a Luís XIV em sessão do parlamento francês durante a monarquia absolutista- "Je suis la Loi, Je suis l'Etat; l'Etat c'est moi", relaciona-se a ao direito divino, ao poder absoluto.
O interessante é que passados quase quatro séculos, após inúmeras tragédias, a frase possa ser colocada na fala de muitos dos nossos governantes. Infelizmente, "O Estado sou eu" nunca foi tão atual.
Resta-nos, oportunamente, esclarecer quem são os autores das bufas e quem as premiam. Quem, de fato, se beneficia.
Pois bem, cabe pensar sobre o que uma bufa constrangedora pode promover.
Enfim, "déjà vu"? culturais
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