Um dia sonhei algo que me surpreendeu, era um mundo diferente do que vivemos.
Não conseguia distinguir se era ontem ou amanhã, era um mundo de valores, de integridade e harmonia.
Era uma sociedade justa e democrática embasada em valores que garantiam um sistema judiciário imparcial e acessível, a participação cidadã ativa na vida política, a liberdade de expressão e de imprensa, além de governantes e instituições públicas compromissadas com transparência e ética.
Em síntese, sabia-se a importância da língua, da comunicação e do respeito.
Mas, o que mais me surpreendeu, foi compreender como deu certo.
Alguém, digo assim porque não me recordo quem era, me explicou sobre uma nova vacina.
Em tempo de certezas absolutas, de intolerância, o imunizante sofreu inúmeros boicotes. Exceto para aqueles que se engajaram na campanha e aceitaram. Assim plantaram uma semente, paulatinamente uma nova versão do homem.
Mas, afinal o que seria esse imunizante, ou mesmo, a resposta a sua aplicação?
Pasmem, uma vacina anticorrupção. Era aplicada logo ao nascer, e para além de outros resultados, promovia anticorpos ao narcisismo, a deslealdade, a prepotência e ao personalismo.
A longo prazo permitia entender tudo dentro do seu tempo, conhecer e reconhecer o passado, construir um futuro com coerência, sabedoria e sensibilidade. E noutro aspecto, entender porque está errado, pois o certo não tem lado, é fruto da compreensão e não da manipulação. O certo não sai na imprensa, não consta nas leis e nos poderes constituídos. Prospera na solidariedade e no pensamento crítico.
Sobretudo, dar capacidade de romper, coragem de dizer não com convicção e serenidade.
O certo não tem inimigo, tem futuro. Sobrevoa o tempo, tem olhar transcendente, nada de panóptico das prisões de Bentham, ou da sociedade moderna de Foucault. Há sim, escolas, fábricas, cidades e sociedades livres, sem torres para vigiar ou punir.
Enfim, ao despertar me exasperei por enxergar essa realidade anacrônica, sociedade do constrangimento.
E tive alívio ao refletir, ao compreender que essa transformação somente acontecerá se rompermos os hábitos, quando deixarmos de lado esse estigma do “homem cordial”, afeito a informalidade, com dificuldade de separar o público do privado, onde as relações pessoais interferem no comportamento em contextos formais, levando ao clientelismo e à corrupção.
Enfim, tem que ser agora, sem medo, sem medo e sem medo, com ternura, com firmeza, por dedicação às próximas gerações.
Tem que ser agora, em cada ato, em cada gesto, com a intensidade da juventude e a perseverança de quem reflete, de quem sabe fazer a hora.