
Sommelier internacional, professor de Gastronomia, mestrando em turismo gastronômico
Sommelier internacional, professor de Gastronomia, mestrando em turismo gastronômico
Tem coisa mais cearense do que os pratinhos de feira? Quem já passou por alguma praça do interior ou pelas tradicionais quermesses juninas sabe do que estou falando. São aqueles pratos montados ali na hora, cheios de "sustança" e sabor, servidos em bandejas de alumínio ou descartáveis, sempre acompanhados de uma generosa colherada de memória afetiva.
Os pratinhos cearenses são a cara do nosso povo: simples, cheios de mistura e com muito sabor. Eles surgiram nas feiras livres, romarias e festas populares, como uma forma prática de alimentar bem quem passava horas andando, vendendo, rezando ou dançando. O prato era montado com o que se tinha de melhor - uma mistura democrática de proteínas, grãos e raízes -, e sempre com um tempero carregado de identidade.
Os ingredientes variam de acordo com a região e com o que tem disponível na panela. Mas algumas presenças são quase obrigatórias:
Às vezes, vem ainda com um ovo cozido, paçoca de carne seca ou até mesmo uma colherada de pirão.
E tudo isso junto, sem frescura e sem divisórias, formando aquele "amontoado" organizado que só a gente entende e respeita.
Um prato que conta história
Os pratinhos nasceram da junção entre a fartura sertaneja e a praticidade das ruas. São um reflexo da nossa criatividade em montar um verdadeiro banquete com o que temos. Mais do que comida, eles são um símbolo da coletividade, da partilha e da ancestralidade.
A feira, o forró, o vaqueiro, a rendeira - todos cabem nesse prato. Não é à toa que os pratinhos resistem ao tempo e ganham cada vez mais força nas festas populares e até nos eventos gastronômicos mais sofisticados, onde têm sido revisitados com um toque autoral.
Hoje, os pratinhos têm ganhado novas versões: veganas, com frutos do mar, com ingredientes orgânicos, mas sem perder a essência. Eles têm sido ressignificados por chefs e cozinheiros que entendem que gastronomia é também memória, é contar histórias através dos sabores.
E cá entre nós: experimentar um pratinho no meio de uma festa de São João, com sanfona tocando e cheiro de milho cozinhando no ar... é uma experiência única!
Finalizo com uma provocação:
Que tal transformar o pratinho cearense em protagonista de mais mesas - da feira ao restaurante? Porque quando a comida tem alma, ela nunca sai de moda.
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