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Queima de fogos: a ousadia das facções
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Queima de fogos: a ousadia das facções

Tipo Opinião

Os fortalezenses foram surpreendidos neste final de semana por uma intensa e prolongada queima de fogos em vários bairros da capital, inclusive, os mais "nobres", a exemplo de Papicu, Aldeota e circunvizinhanças. O troar foi tão espetaculoso que a população passou a se indagar - como é natural - a que se devia tal euforia.

Para estupor de quem ainda se surpreende com o cotidiano de um País que parece imerso numa realidade surreal, a resposta foi a de que se tratava da comemoração de uma facção criminosa por ter conquistado uma parte do território da outra.

A ousadia de expor-se tão ostensivamente, ocorrida num contexto pré-eleitoral de disputa do poder, causa certa preocupação nos observadores. Um fenômeno, aliás, registrado em outras partes do País, no rastro do afrouxamento de mecanismos de controle institucional que dificultavam o armamento dos grupos criminosos - sobretudo traficantes e milícias - como é o caso da revogação dos registros de vendas de armas e munições, até então monitorados pelo Exército.

Hoje, não apenas os bandidos soltam fogos, para comemorar seus feitos, mas empunham armas de grande poder de fogo, nos territórios que dominam, submetendo bairros inteiros e afrontando instituições do Estado. Isso ocorre, de uma ponta a outra do País.

O espaço das quadrilhas de traficantes e de milicianos é o território posto na alça da repressão promovida pelo aparelho policial, num combate cada vez mais duro e arriscado para os policiais, visto que estes se deparam com verdadeiros exércitos, cada vez mais apetrechados com armamentos sofisticados e de alto poder de fogo.

Basta dizer que há uma estimativa na Polícia Civil de que somente uma das fações criminosas do Ceará - o Guardiões do Estado (GDE) - teria entre 20 e 30 mil membros. Na operação Reino de Aragão, a Polícia Federal afirmou que a facção tinha presença em 47 bairros de Fortaleza e 56 municípios do Estado.

Curiosamente, a atual administração federal, terminou, objetivamente, facilitando a vida de traficantes e de milicianos ao liberar a venda de armas e munições e ao revogar as portarias do Exército que permitiam o rastreamento, tanto das armas como das munições vendidas.

Quando ocorria um crime era possível identificar o lote do cartucho encontrado junto ao corpo e dizer de qual arma saiu o tiro. O assassinato da juíza Patrícia Lourival Acioli, em 2011, por exemplo, tramado e executado por policiais da Polícia Militar do Rio de Janeiro, foi descoberto devido a um cartucho de um lote registrado.

A quem interessa, hoje, que armamentos e munições não sejam mais identificados? Como foi possível permitir que isso fosse apossado por um projeto de poder que conquistou o Estado brasileiro? Quem foi beneficiado com isso? São indagações que cabe à sociedade destrinchar, o quanto antes. 

 

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